Em Linhas Gerais

Médicos: Qualificação Profissional é fundamental -por Gessi Taborda

SEM QUALIFICAÇÃO

MedicoAproveitando sábado, a coluna busca sair da rotina dos tópicos discutidos na seara da política, para temas mais arejados, como a formação profissional nem sempre de qualidade, especialmente em áreas fundamentais para a própria segurança da maioria da sociedade.

Falemos hoje sobre a preocupante formação dos médicos, aquele profissional a quem você, em determinado momento terá de colocar sua própria sobrevivência a um desses profissionais.

Quando você tem sorte – como aconteceu com o próprio colunista – de ser socorrido por um médico de comprovada competência, a situação de conforto não é apenas para o paciente, mas para toda a família. Mas o contrário dará curso a uma tragédia de consequências imprevisíveis para a própria família.

Quem confiaria, portanto, sua vida e a de seus familiares a um médico, caso houvesse dúvida quanto à sua qualificação?

 O CONFORTO

TabordaMuito recentemente cheguei (talvez pelo reflexo de anos de uma vida até certo ponto desregrada) cheguei a uma situação crítica de saúde. Cheguei muito próximo de perder um membro inferior, em consequência de complicações de uma diabetes descompensada. E tudo isso me deixava apavorado, sem chão. Mas, graças ao empenho da família fui parar nas mãos de um médico (dr. Eduardo Wansa) solidamente preparado, que conseguiu reverter a situação que me apavorava. Alguns dias de internação do Hospital das Clínicas com a assistência do dr. Wansa escapei do risco de uma amputação. Continuo com o tratamento vigilante do médico e cada vez mais estabilizando minha condição de saúde.

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 OS RISCOS

MedicoMas nem todos médicos, caro leitor, são profissionais bem preparados e atualizados, aptos a utilizar com precisão e segurança os mais modernos e eficientes recursos da ciência. Você talvez não saiba, mas aqui mesmo em Porto Velho há casos e mais casos denunciados de imperícia médica, assim como há pessoas sofrendo e pagando caro por serem vitimadas por erros médicos.

Não conheço nenhum estudo do Cremero sobre a avaliação dos médicos rondonienses. Certamente, diante das várias faculdades de medicina existentes em Rondônia formando esses profissionais essa avaliação ganha muita importância.

 MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO

MedicoSe não sei nada sobre a eventual avaliação de profissionais de medicina em Rondônia, tenho informações sobre o que acontece, por exemplo, em São Paulo.

Lá, pelo quinto ano consecutivo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) documenta o despreparo de muitos de nossos futuros médicos: mais da metade dos estudantes submetidos à avaliação foram reprovados. Visto ter sido a prova aplicada apenas em voluntários, muito provavelmente os resultados seriam ainda piores caso fossem todos obrigados a realizá-la.

 INTERESSES ECONÔMICOS

HMedicoá mais de uma década as entidades médicas vêm reiteradamente alertando a sociedade sobre os riscos da abertura de escolas de medicina sem qualificação. Tais denúncias não se mostraram suficientes para vencer os interesses econômicos e políticos associados à indústria do ensino superior.

Com isso, claro, não estou lançando dúvidas sobre a qualidade do ensino da medicina em nosso estado, mesmo por que não tenho nenhum conhecimento sobre essa área, mas não posso desconhecer que em se tratando de Rondônia temos um dado complicador: a proximidade com a Bolívia, onde muitos rondonienses vão buscar formação nessa área.

 FORMAÇÃO SÓLIDA

TabordaSou preocupado com a questão da formação desde que me tornei pai e precisei buscar os melhores caminhos para o preparo intelectual, moral e profissional dos meus filhos. E, graças a Deus, parece que tenho conseguido. Procurei apoiar os meninos para que tivessem acesso às nossas melhores escolas, que nem sempre são as escolas particulares.

Assim, estudando em escolas públicas, tenho hoje orgulho de dizer que meu filho caçula, o Roger Lafontaine é mestre em biologia, formado na Unir.

A mesma universidade onde também se formou na sexta feira o meu filho Aldrin Willy, em Direito, isso depois de ter se formado lá, também, em Ciência da Computação. Mas o Aldrin também se formou em jornalismo na Faro, escola particular, e de lá saiu um excelente jornalista. Meus filhos são motivo de muito orgulho para a família, desde a Janine, tecnóloga formada na turma inicial da Fatec. Graças à sólida formação de ambos, todos estão devidamente encaminhados na vida.

 PERMISSIVIDADE

Médicos2Voltando a questão da formação médica, não há como não se mostrar preocupado. Face à permissividade de sucessivos governos e à frouxidão da legislação vê-se hoje no Brasil 178 faculdades de medicina, em sua maioria  desprovidas de suficiente corpo docente qualificado na área médica ou hospital universitário próprio. Nessas instituições são anualmente autorizadas 17 mil novas vagas ao ano.

É bem possível que esses 17 mil exerçam a profissão durante, pelo menos, 40 anos. Não é difícil estimar quantos brasileiros estarão sob seus cuidados. Se, na melhor das hipóteses, cada um deles atender diariamente 10 pessoas, o fizer 5 dias por semana, 11 meses ao ano, ao longo da carreira, terá visto cerca de 100 mil pacientes.

 TRAGÉDIA

Médicos2Levando-se em conta os índices registrados nas provas aplicadas pelo Cremesp em que 56% erraram, no mínimo, 40% das questões formuladas; teremos milhares temos milhares de médicos incapazes de diagnosticar ou tratar quase metade dos casos de doenças apresentados pelos pacientes, comprometendo milhões de atendimentos em todo o país.  Esta é uma situação que precisa ser solucionada e, mesmo leigo no assunto, acredito que a solução passa  pela moralização do ensino médico, aqui obrigatoriamente incluídas as avaliações das escolas e de seus alunos.

Meu filho biólogo, com mestrado em sua formação acadêmica, prepara-se nesse momento para ingressar num curso de medicina. Mas estuda com afinco para entrar numa faculdade de reconhecida qualidade. Certamente será um profissional que, como aconteceu em sua primeira graduação, que vai passar segurança no exercício da profissão.

 LEGISLAÇÃO NECESSÁRIA

congresso22Há vários anos o Congresso Nacional mantém na gaveta projeto de lei (PL 65/2003) que estabelece parâmetros para autorização de abertura e renovação de cursos de medicina.

Até que este projeto seja aprovado e passe a vigorar, não haverá respaldo jurídico sólido para impedir o funcionamento de escolas médicas sem hospital de ensino próprio, sem corpo docente médico suficiente vinculado ao hospital universitário, sem programa de residência médica associado, requisitos essenciais para instituições dessa natureza.

 AVALIAÇÃO

congresso22A legislação é necessária, porém não suficiente para garantir a qualidade dos graduados. Faz-se obrigatório também avaliá-los. Entendemos que o processo de habilitação para o exercício da medicina não se deve restringir apenas a uma prova de fim de curso.

Ele tem de incluir avaliações externas, realizadas por instituição independente (como o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira) e possivelmente aplicadas ao término dos 2º, 4º e 6º anos.

As avaliações ao longo do curso permitem o redirecionamento de alunos sem vocação ou preparo e constituirão instrumento complementar para o credenciamento das universidades.  Este modelo aproxima-se com o adotado em países desenvolvidos que, há cerca de 100 anos, ultrapassaram circunstâncias semelhantes.

 

 

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