Era para estarmos vivendo o momento de total euforia em todo o Brasil pela realização desse que é um dos mais importantes eventos do esporte mundial.
EMOÇÕES ESFRIADAS
O que teria mudado no estilo de ser do povo de Porto Velho, um povo tradicionalmente alegre, festeiro, que vai ficando cada vez mais macambúzio, a ponta da gente sair para a rua nesses dias que antecedem a Copa do Mundo e não ver praticamente nadica de nada – em relação às Copas do passado – em termos de ruas decoradas, carros adesivados e vai por ai afora.
Tenho como hábito olhar situações por ângulos diferentes. Uma tentativa de tentar enxergar o que muitos não veem ou ainda perceber o que não é mostrado. O oculto do aparente.
Como somos bombardeados a todo o momento por milhares de informações, não é fácil avaliar determinados temas com mais atenção. Ainda mais os que não sugerem ser relevantes para nossas vidas. Geralmente deixamos isso para aquilo que nos afeta diretamente.
DUAS SEMANAS
Pois bem, estamos praticamente a duas semanas da abertura de mais uma Copa do Mundo, o evento que de quatro em quatro anos mexe com nossa paixão pelo futebol. Não só com os aficionados por esse esporte, mas com o povo brasileiro que nessa disputa, como diria Nélson Rodrigues, vê na Seleção Brasileira “a pátria em chuteiras”.
Esta edição apresenta o relevante fato de acontecer novamente em nosso país, 64 anos após a frustração da derrota em casa para o Uruguai.
Era para estarmos vivendo o momento de total euforia em todo o Brasil pela realização desse que é um dos mais importantes eventos do esporte mundial.
Então, me pergunto, porque esse distanciamento fácil de ser avaliado na reação das ruas? O povo age aparentemente com mais maturidade.
Aqui em Porto Velho, repito, nem parece que estamos tão próximos de mais uma edição da Copa do Mundo. Não se vê venda ostensiva de produtos com as cores verde-e-amarelo, ruas pintadas, carros adesivados, locais ornamentados.
POLÍTICOS
No meu caso, pela primeira vez, não dou conta de lembrar a escalação do nosso time, muito menos os reservas. Tirando algumas figurinhas carimbadas nem sei onde jogam, onde iniciaram as carreiras, as qualificações.
E depois vem uma outra constatação: embora estejamos também em pleno momento de campanha eleitoral, este talvez seja o primeiro ano em que não recebi nenhuma daquelas “tabelas” para ir marcando o resultado dos jogos das diversas chaves, patrocinado por algum político da ativa.
Na mídia, manifestações contra ocupam mais espaço do que o noticiário sobre nossos atletas. Tem alguma coisa no ar muito mais forte do que a preocupação com o desempenho da Seleção Brasileira em campo. E pode ser que aí esteja o maior legado desta Copa.
MAIS CONSCIENTES
A impressão que se tem é que o cidadão brasileiro de todas as classes está ficando mais consciente. Entre torcer pelo Brasil na Copa e ficar preocupado com a imagem que o país vai passar lá fora, está optando por torcer por um Brasil melhor para todos. Não pelos 11 que estarão em campo, mas por todos que estão fora do campo. Carentes nas áreas da educação, saúde, segurança, infraestrutura e por aí afora.
Os gastos exorbitantes desnecessários em estádios que vão ficar obsoletos depois de quatro jogos, o desvio vergonhoso do dinheiro público, estão merecendo mais atenção do que o desempenho de Neymar e companhia.
CASCATEIRO
“Se o Brasil não estiver pronto para a Copa, volto a nado da África” – afirmação arrogante de Lula há quatro anos. Lula deve estar se programando, com aulas de natação no mar, pois terá de vir a nado voltando da África. Quem manda prometer o que nunca cumpriu? Desejos de boa travessia! De preferência ao lado de muitos tubarões famintos.
ENTRAR EM CAMPO
Certamente vou torcer pelo Brasil nessa disputa. No mesmo clima dos brasileiros de Rondônia mais preocupados, agora, com a situação de calamidade pública em que se debate boa parte de nossa população mais pobre, atingidos em cheio pela fúria do Rio Madeira, reagindo à ação do homem no seu represamento.
Essa apatia do rondoniense pela tal Copa das Copas chega a nos embevecer.
Parece que dessa vez os rondonienses estão querendo entrar em campo. Não para jogar futebol, mas para exigir cidadania e direitos. Ganhar a Copa não é tão importante quanto vencer a batalha de fazer um país melhor e mais justo, de termos um estado mais saneado na política, escorraçando os corruptos e ladrões do dinheiro público.
LEITE DERRAMADO
Tomara que entre se preocupar com o bom desempenho de uma Seleção formada por jogadores que, com a exceção de quatro, moram no exterior, o torcedor brasileiro esteja preferindo dar atenção e torcer por todos que vivem aqui nessa terra em que casos escabrosos acontecem todos os dias, nas barbas das autoridades que teriam de combater o roubo deslavado dos dirigentes públicos.
Em que outro estado brasileiro alguém poderia ser assombrado por descobertas tão facinorosas como essa de que até no leite comprado pelo Detran (como se aquilo fosse um laticínio, uma fábrica de queijos ou algo tão absurdo assim), se praticasse o desvio impune do dinheiro público. E essa gente ainda acha que uma simples explicaçãozinha é o bastante.
O LEGADO
Se diante de todos os fatos mais vergonhosos expondo a pequenez do governo rondoniense e dos asseclas que aproveitam o máximo o tal “Governo da Cooperação” as urnas de outubro confirmarem o repúdio do povo a estas práticas que não têm nada de republicanas, convenhamos que a realização da Copa do Mundo no Brasil vai deixar um legado excepcional…
Então será assim: temos de nos conformar e, sobretudo, recepcionar bem e respeitar os estrangeiros, demonstrar que amamos o Brasil e adoramos o nosso futebol, mas em outubro, nas eleições, repudiar a generalizada corrupção.
MOTIVAÇÃO
Por que o PMDB acabou decidindo encarar a reeleição do seu governador? No meio político a resposta sarcástica: “Os peemedebistas e seus aliados chegaram à conclusão de que será pela corrupção e pela incompetência que se logrará o bem de Rondônia!”
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