REFLETIR PORTO VELHO
Ficamos cada vez mais próximos da disputa eleitoral que permitirá a renovação das Câmaras Municipais e das prefeituras de todo o estado (e até o país), o que nos coloca mais uma vez diante do grande desafio de enfrentar os maiores problemas (especialmente de ordem política) que se converteram em pontos de estrangulamento às aspirações de consolidação da sociedade mais justa, mais solidária desejada por todos.
Porto Velho não deve virar as costas ao seu passado (até mesmo recente) de encantamento, responsável pela atração de todos nós. Ela nasceu para ser uma espécie de cidade do futuro.
JÁ FOI PLANEJADA
Isso mesmo. Pouca gente nos dias atuais conhece essa realidade histórica: a nossa hoje desamada capital nasceu como planejada pelos pioneiros da saga da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, com saneamento de primeiro mundo, como demonstram as históricas três caixas d’águas, conhecidas como “3 Marias”.
Chegamos a ter nos primórdios da cidade um jornal editado em inglês e outros marcos de uma urbe orgulhosa de seu nível civilizatório.
FORÇA DE ATRAÇÃO
A força de atração da nossa capital, que se insinuou sempre pelo magnífico rio Madeira e também pelo seu relevo, seguida da riqueza de sua província mineral (onde se destacou o ouro e a cassiterita) fez daqui uma terra miscigenada praticamente desde seu surgimento.
E essa Porto Velho de hoje merece ser mais bem compreendida e cuidada por todos nós, como uma mãe que pede atenção permanente de todos nós, seus filhos, já que não tem conseguido isso dos políticos e de seus dirigentes públicos.
EXEMPLOS DEGRADANTES
Comecei, ao escrever essa crônica para o jornal de domingo (e segunda), lembrando como toda a comunidade sofreu neste ano que caminha para o fim decepções e humilhações com exemplos degradantes da política, como o caso do caos do transporte coletivo, ampliado pelo mico da “solução emergencial” que não aconteceu e só serviu para desnudar de vez a inaptidão do prefeito da cidade.
Isso das autênticas pedaladas nos eventos de comemorações festivas investigadas pelo Ministério Público em torno do pagamento de shows e contratações de empresas de pastas, beneficiárias dos desvios do dinheiro público, tudo isso levando à primeira baixa na titularidade da Fundação Cultural da capital rondoniense.
IMPEACHMENT
Infelizmente nossa capital (e também nosso estado) cresceu com a corrupção emaranhada na política e na economia. É engraçado. Mas na noite de sexta-feira rememorávamos essa questão num animado bate papo com Arquilau de Paula, o decano do direito da cidade, o primeiro presidente da OAB-RO.
É interessante registrar que sob a atual gestão socialista, o prefeito já sofreu pelo menos duas ameaças de impeachment na Câmara Municipal.
E não escapou de nossa observação um fato fácil de constatar: Muita coisa por aqui foi feita no calar da noite, às obscuras. Sempre refletindo a safra ruim de prefeitos nos últimos anos da capital rondoniense, que por isso deixou de ser uma cidade criativa, sem infraestrutura e esgarçada, de moradias sem urbanismo com formas visíveis de segregação socioespacial.
DESAFIO DE TITÃ
Enfrentamos agora o maior desafio que se coloca em relação a Porto Velho e à Rondônia como um todo: combater e punir corruptos e corruptores. E tudo tem de ocorrer à claras, sem se esperar a interferência das instituições de investigação e controle externo, e até mesmo das demais instâncias do judiciário que, como tanto se reporta a mídia, tem falhado excessivamente em punir quem praticou e se beneficiou dos escândalos e desvios dos recursos públicos.
Então os aríetes da corrupção terão de ser combatidos nas urnas com a arma do voto qualitativo, consciente.
EVITAR
Não podemos nos deter a posicionamentos partidários que querem – mais uma vez – usar este momento para edificar novos métodos de desvios, de práticas totalitaristas e de consolidação das fortunas nascidas do esbulho das riquezas públicas locais.
Não podemos mais ter gente entrando na política sem eira e nem beira para ficar ricos depressa. Chega de políticos que sem explicações plausíveis, tornam-se latifundiários urbanos (isso ocorreu em favor de um antigo prefeito sem que, até hoje, seu patrimônio sofresse qualquer ação investigativa) ou donos de fazendas, apartamentos fora do estado, e até dono de polpudas contas em paraísos fiscais.
ZUMBIS
As eleições estão batendo às nossas portas. Vamos de novo compactuar com políticos envolvidos em escândalos de corrupção denunciados por órgãos de fiscalização? Pelo visto até personagens que já eram considerados zumbis no mundo político acreditam que sim.
Afinal, na semana que passou novamente anunciou-se em meio às colunas políticas o suposto retorno do petista Roberto Sobrinho à disputa da prefeitura no próximo ano. Não há uma informação oficial, mas o assunto está colocado como algo verídico, esse novo ressurgir de Leviatã. É possível, pois graças à demora da Justiça em punir praticantes da corrupção, eles andam por ai como zumbis insepultos.
DEPENDE DO POVO
Não gosto da afirmação de que “o povo tem o governo que merece”. Na verdade, o povo é mesmo massa de manobra e vítima da esperteza do marketing. A cidade não merece a sucessão dos piores prefeitos dos últimos anos.
É necessário que reflitamos, portanto, sobre a pergunta mais importante daqui para frente. O que queremos? Banir a corrupção ou permanecer às obscuras, sem acesso às transações políticas e econômicas do país? Vamos aceitar esta disseminação do caos sem ações propositivas? Precisamos refletir Porto Velho!
O QUE QUEREMOS?
Afinal o que verdadeiramente queremos é um longo período de efetivas políticas de desenvolvimento para o estado e sua capital: mais jovens incluídos numa educação de qualidade; mais e melhores condições de saúde; mais transparência na gestão pública; mais segurança e melhor sistema de transporte; mais cultura e lazer, entre várias outras ações.
Uma cidade criativa capaz de tornar realidade as inovações reclamadas para o seu cenário urbano. É claro que Porto Velho pode ser, um dia, um centro de pesquisa de ponta, pode ter programas sociais avançados e produzir cultura de vanguarda, transformada numa cidade com qualidade de vida.
Com esse planejamento raquítico, essa ânsia louca dos políticos em apenas ficar ricos com as benesses do poder, nosso centro, nossas praças, nossa periferia e até os bairros mais antigos continuarão com a aparência catastrófica de hoje.
Não é possível que povo aceite repetir a merda que já aconteceu. Será uma pena que nesse solo tão adubado com o fracasso das promessas e cascatas eleitoreiras não se vá plantar no próximo ano uma Porto Velho diferente.
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