O ESTADO DAS IMPROVISAÇÕES
Festejada como o maior evento de importância econômica para o estado de Rondônia, motivando até a bizarra “transferência” (como se anunciou na mídia) do governo para a cidade de Ji-Paraná, a tal Rondônia Rural Show, uma iniciativa privada, que pelos gastos de dinheiro público do governo e outras instituições oficiais tomou ares de uma ação do calendário (?) do governo, deveria servir para uma reflexão muito mais séria: a ausência de planejamento de longo prazo para um projeto econômico sustentável do estado, com iniciativas de governo para a consolidação e crescimento da economia, da produção e do desenvolvimento rondonienses.
O esforço do governo para se apropriar desse evento particular realçou como nunca a constatação de que a gestão pública rondoniense ainda está presa à cultura da improvisação, da adoção de esforços paliativos e do desgastado jeitinho de se tentar tapar o sol com a peneira para aliviar a pressão da mídia e de poucas manifestações sérias de vozes que ainda se manifestam no espectro político.
ABAIXO DA CRÍTICA
É certo que nosso querido estado de Rondônia tem todas as condições naturais para se tornar uma importante unidade da Federação, com uma economia pujante. Lamentavelmente o estado sofre um atraso no cumprimento de suas potencialidades econômicas por ter no seu governo personagens abaixo da crítica, que relegam tudo a mediocridade e enganação.
Se isso acontece em nível do governo estadual, também não é diferente em nível de administrações municipais de cidades como a própria capital.
TERRA ESQUECIDA
A sensação que se tem em relação a Porto Velho e à administração do Estado é das piores possíveis. Isso porque para onde se olha vê-se características que sugerem um estado esquecido por todos.
Vivemos num estado completamente carente de infraestrutura, especialmente as necessárias para atrair investimentos no segmento da industrialização, dos serviços e quando a iniciativa privada promove uma mostra como a Rondônia Rural Show o governo trata de apropriar-se do evento como se dele fosse, tentando apagar a realidade de que até hoje não foi capaz de implantar sequer um polo de produção de frutas no estado.
É a mesma sensação ruim que sentimos quando a prefeitura da capital tenta mascarar sua total inapetência para desenvolver áreas como cultura e turismo, entupindo nossa caixa de correios com textos precários sobre “capacitação de técnicos e professores de escolinha de futebol” ou “Festival Manifesto de Hip Hop” e besteiras desse tipo.
CONVERSA FIADA
Turismo em Rondônia é pura conversa fiada. Eventos culturais por aqui são apenas truques de madame e nada mais. Vivemos num estado em que se passaram quase 20 anos para se concluir um teatro e o mesmo está reservado às moscas.
O governo exalta como iniciativa sua a Rondônia Rural Show (inclusive gastando dinheiro público sem nenhum critério) enquanto deixou morrer eventos da tradição de um Flor do Maracujá. Um governo que sequer foi capaz, até hoje, de dotar o estado de um centro de convenções de respeito.
INTERESSES INDIVIDUAIS
Privilegiam-se, aqui, os interesses individuais e de grupos. A sociedade reage apenas sob a pressão de situações iminentes de crises. Essa peculiaridade de comportamento atingiu sua condição superlativa no exercício da política. Inverteu-se a lógica filosófica do conceito de Estado: este, ao invés de servir à população, como se supõe nas democracias, parece colocar-se a serviço de pequenos grupos.
Somente essa realidade torta justifica coisas como o famigerado “Espaço Alternativo”, que foi a degringolação da única via expressa da cidade de Porto Velho numa área de Cooper para alguns beócios da incipiente burguesia estadual.
CURTO PRAZO
Tal distorção reforça a tendência do improviso e a visão de curto prazo, norteadas sempre pelo horizonte das eleições, a cada dois anos. As propostas à sociedade, na disputa pelo voto, são sempre focadas nas situações prementes. Ninguém mostra ao eleitor como se pretende construir um estado e uma capital desenvolvida, com infraestrutura moderna e eficiente, sustentável sob os aspectos econômico, social e ambiental.
CONSEQUÊNCIAS
Uma das consequências mais graves da falta de planejamento, já que medidas paliativas e o improviso não resistem às mudanças conjunturais, é a ausência de regras consistentes para a indústria, o comércio, os serviços, a construção civil, a incorporação imobiliária, e até o agronegócio, que tem sido, mesmo assim, o salvador de nossa balança comercial. Advém daí a insegurança jurídica tão reclamada por todos, acentuada, muitas vezes, por atitudes exageradas na interpretação e aplicação das leis. Exemplo disso é a constatação de numerosos embargos, por motivos relativos ao licenciamento ambiental, de empreendimentos dos setores público e privado que já foram aprovados nesse quesito. Assim, enquanto Rondônia permanecer imobilizado por um governo que como o que ai está, sem respaldo popular, cassado por uma Justiça que parece não acreditar em suas próprias sentenças, o risco de uma regressão ainda maior e de mais desperdício de recursos públicos em eventos privados como o que focamos mais uma vez nessa coluna vai permanecer.
LIÇÃO DA HISTÓRIA
A história mostra que sem metas definidas e planejamento não se vai a lugar algum. Hoje, mais do que nunca, estamos sentindo isto na pele: inflação, desemprego aumentando, índice de confiança baixo, tanto do empresário como do consumidor, corrupção, impunidade e uma frustração generalizada. Se está na hora de o Brasil saber, de fato, o que deseja ser, também vale para Rondônia essa mesma máxima.
Para isso, é preciso, nas instâncias federal, municipal e estadual, colocar o Estado a serviço da sociedade e não dos partidos e do governo. Tomara que nossos parlamentares (de todos os níveis) e nossas autoridades responsáveis pela fiscalização dos gastos públicos, das boas práticas da política e da gestão estejam atentos a isso.
Ao final, um repto aos nossos deputados estaduais e aos integrantes do Ministério Público: a prioridade é o povo do estado, que não pode continuar sendo esquecido, como se Rondônia não fosse a terra de todos nós.
É preciso dizer a quem ocupa o governo e as prefeituras que a máquina pública só pode servir à população e não a mesquinhos interesses de pequenos grupos de apaniguados.
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