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Resistência a inseticidas em populações da mosca-dos-chifres: entendendo como chegamos a esta situação

       A infestação pela mosca-dos-chifres é um fator limitante para a rentabilidade da produção pecuária no Brasil. Os maiores prejuízos de um rebanho infestado pela mosca-dos-chifres, como perda de peso, ganho de peso zero e queda na produção de leite, são consequência, principalmente, do estresse provocado pela ação irritante das moscas e não, apenas, da perda de sangue. A qualidade do couro dos animais altamente infestados é outro importante prejuízo causado pela mosca-dos-chifres, uma vez que, devido a uma reação local no couro provocada pelo grande número de picadas no animal, torna o couro grosso e inflexível e, portanto, de menor qualidade.

       O fácil acesso aos produtos parasiticidas e a facilidade com que eles podem ser aplicados, combinado ao progresso no conhecimento do comportamento dos parasitas de bovinos, levou a um período de relativo sucesso no controle das infestações parasitárias, particularmente em sistemas de produção intensivos. No entanto, a falsa suposição de que o controle parasitário pode ser facilmente realizado somente através da utilização de produtos químicos levou ao desenvolvimento de resistência às bases químicas mais utilizadas, aumentou a presença de resíduos nos produtos de origem animal, a contaminação ambiental e, muitas vezes, causa a desconfiança dos produtores na eficiência dos programas de controle de parasitas em sistemas de produção de bovinos, sejam eles de corte ou leite.

       Problemas no controle da mosca-dos-chifres decorrentes da resistência a inseticidas têm sido cada vez mais frequentes nas principais regiões produtoras de bovinos do país. O aparecimento e a fixação da resistência às bases inseticidas comprometem não apenas ao princípio ativo ao qual as populações foram expostas, mas a todo o grupo químico a que ele pertence. Em última análise, a aplicação de doses mais elevadas e de tratamentos mais frequentes em função da resistência as bases nas populações parasitárias, aumentando os custos de produção e os níveis de contaminação ambiental e dos alimentos.

       Estudos realizados pela Embrapa Rondônia utilizando técnicas de avaliação a campo (teste do papel filtro impregnado com inseticidas) e laboratorial (provas que evidenciam no DNA a presença de alelos mutantes) possibilitaram determinar a situação da resistência a inseticidas piretróides e organofosforados, dois importantes grupos químicos inseticidas utilizados para o controle da mosca-dos-chifres no Brasil.

       As análises realizadas demonstraram que em Rondônia a frequência de moscas que já possuem em seu DNA a mutação que confere resistência aos inseticidas piretróides é de 42,8%, inclusive com a presença de moscas que apresentam uma segunda mutação no DNA que confere uma super-resistência a este inseticida. Alguns podem considerar que ainda é predominante a presença de moscas suscetíveis à ação dos inseticidas piretróides, uma vez que 57,2% das moscas avaliadas não possuem a presença da mutação que confere a resistência ao inseticida.

        Nesse mesmo estudo, também se buscou conhecer os fatores que podem contribuir para o aparecimento da resistência a inseticidas nas populações da mosca-dos-chifres. Pela análise das respostas do questionário que foi aplicado nas propriedades visitadas foi possível identificar algumas condições que explicam o aparecimento e a fixação da resistência à inseticidas nas populações da mosca-dos-chifres.

        Observa-se que, além da seleção determinada pelas bases parasiticidas utilizadas para o controle das infestações de moscas, a realização de tratamentos para o controle do carrapato dos bovinos mostra-se como um importante fator para a seleção de indivíduos resistentes nas populações de mosca-dos-chifres. Um tratamento parasiticida para o controle de uma das espécies invariavelmente acaba por também determinar o controle da outra, uma vez que os bovinos são os principais hospedeiros tanto da moscas-dos-chifres quanto do carrapato dos bovinos e, ambas as espécies em sua fase parasitária permanecem todo o tempo sobre os animais.

         Rondônia é na atualidade um importante polo pecuário nacional de bovinos, com intensa movimentação de animais, principalmente de corte, sendo este um fator que também propicia que a mutação que confere resistência à inseticidas se disperse com facilidade entre as populações da mosca-dos-chifres no estado.

         O uso intensivo e indiscriminado das bases parasiticidas que observamos em muitos rebanhos no país associado ao mau uso do arsenal farmacológico parasiticida, tais como a não rotação anual de grupo químico parasiticida, utilização de sub-doses e a aplicação inadequada dos produtos, determinam a ineficiência das bases parasiticidas para o controle das infestações parasitárias. Observou-se que em alguns rebanhos bovinos de leite estabelecidos em Rondônia são realizados mais de 15 tratamentos/ano para o controle dos carrapatos.

         A identificação da presença de mutações no DNA que conferem resistência aos pesticidas piretróides nas populações da mosca-dos-chifres em Rondônia faz com que inseticidas piretróides não sejam a base parasiticida escolhida para o controle das populações da mosca-dos-chifres no estado e possivelmente nas demais regiões pecuárias onde a utilização desta base parasiticida é disseminada tanto para o controle de moscas quanto de carrapatos.

         Estratégias de controle fundamentadas no uso racional de inseticidas organofosforados associados à utilização de organismos controladores biológicos e outras estratégias não químicas mostram-se como alternativas adequadas para a manutenção das populações de mosca-dos-chifres fora do limiar de dano econômico (LDE) para a bovinocultura, que é em torno de 200 moscas/bovino.

         A incorporação de técnicas de avaliação da resistência a bases inseticidas e a utilização racional dos ectoparasiticidas, assim como a rotação anual de bases parasiticidas tanto para o controle da mosca-dos-chifres quanto do carrapato dos bovinos e a correta aplicação dos produtos, garantem a produtividade dos rebanhos, a diminuição dos custos relacionados ao controle dos parasitas e, principalmente, a produção de alimentos livres da contaminação por resíduos oriundos da degradação metabólica das bases parasiticidas.

         Os estudos conduzidos na Embrapa Rondônia em que se associou provas de avaliação a campo e laboratoriais para identificar a presença de resistência a inseticidas em populações da mosca-dos-chifres mostrou-se como uma metodologia consistente e adequada para identificar a presença de populações resistentes, sendo útil para auxiliar aos profissionais responsáveis pela saúde animal a estabelecer estratégias de controle adequadas para os rebanhos bovinos.

          Por: Luciana Gatto Brito * e Fábio da Silva Barbieri**

          * Luciana Gatto Brito  – Méd. Vet., D.Sc., Pesquisador Embrapa Rondônia.

           ** Fábio da Silva Barbieri –  Méd. Vet., D.Sc., Pesquisador Embrapa Rondônia.

           Figura 1 – Kit inseticida confeccionado com papel filtro impregnado com inseticida (A); seleção das moscas-dos-chifres resistentes a exposição ao inseticida (B) e prova laboratorial para a pesquisa da mutação no DNA da mosca-dos-chifres que confere a resistência ao inseticida (C).

            Figura 2 – Colheita da mosca-dos-chifres para realização dos testes de avaliação da resistênci                                                                                                                                                                                                                                           Núcleo de Comunicação Organizacional – NCO

         Embrapa Rondônia (CPAFRO)
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E-mail: cpafro.nco@embrapa.br
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Gomes Oliveira

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