Médicos contratados pela defesa usaram doenças como argumento para tentar tirá-lo da prisão
Às 9 horas desta sexta-feira, dois promotores do Ministério Público adentraram o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, em Goiás, para mais um interrogatório com João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. Foi o quarto interrogatório prestado aos investigadores pelo líder religioso, que está preso desde dezembro. João é réu, acusado de estupro e abuso sexual por mais de 300 mulheres.
Na sala de interrogatórios, o médium reclamava das condições da prisão, cabisbaixo, enquanto aguardava os promotores. No entanto, assim que os promotores Luciano Miranda Meireles e Gabriella de Queiroz começaram a fazer perguntas, João se calou, seguindo a orientação dos advogados.
– Não houve nenhuma diferença aparente na condição da saúde dele -, afirma o promotor Meireles, que atua no caso desde que as primeiras denúncias contra o médium foram reveladas pela TV GLOBO e pelo jornal O GLOBO.
Já o promotor Paulo Penna Prado, que participou de três interrogatórios com o médium desde sua prisão, afirma, com base em relatórios médicos oficias, que o quadro de saúde não não exige nenhum cuidado médico diferenciado dos demais detentos.
– Ele não tem nenhum quadro de saúde debilitado que possa dar margem à autorização de atendimento diferenciado ou domiciliar. Está tendo acesso, de dentro da prisão, a atendimento médico e assistência psicológica. – Penna acrescenta que João perdeu peso, mas “está falando normalmente e com aparência normal” para quem está preso há três meses. – Não há nada que transpareça a necessidade de um atendimento diferenciado. Ele se mostra mais magro, mas a situação de cárcere não é agradável para nenhuma pessoa. É corriqueiro o detento ficar emocionalmente fragilizado, mas nenhuma questão que diferencie o quadro dele de outros presos que já tive contato, inclusive outros presos da idade dele.
Promotores desmentem peritos contratados pela defesa
A avaliação dos promotores é diametralmente oposta ao que dizem peritos médicos contratados pela defesa em laudos revelados pela revista Veja, ao quais o GLOBO também teve acesso. Nos documentos, um cardiologista e um psiquiatra afirmam que o líder religioso enfrenta sérios problemas de saúde, como perda de memória, de peso e uma depressão que o levou a pensar em se matar. No entanto, o texto é claro ao afirmar que trata-se de uma “ideação suicida, sem planos”. Eles avaliaram João dentro da prisão no dia 22 de fevereiro. Seus relatórios estão sendo utilizados pela devesa como argumento para conseguir a liberdade do réu ou ao menos uma transferência para um hospital neurológico.
O psiquiatra Leo de Souza Machado, que assina o parecer psiquiátrico forense, escreveu que João de Deus “só não cometeu suicídio pois ainda tem sua filha pequena e não quer morrer sem voltar a vê-la, além de não querer ‘contrariar a Deus’”. O laudo também diz que “o paciente mostrou-se com higiene precária, cabelos desarrumados, barba grande e descuidada, halitose sugerindo ausência de escovação dentária regular, trajava uniforme da unidade onde está recolhido e este estava sujo e com manchas de urina”. Os laudos também apontam que João de Deus afirma ter perdido 17 quilos e que está tomando doses maiores do que as recomendadas de calmantes para dormir.
Sobre esses laudos, os promotores da força-tarefa do MP dizem que, para ter credibilidade perante à Justiça,laudos desse tipo teria mque ter sido requisitados por uma junta médica oficial.
– À priori, o estado de saúde dele não é nada que sequer motive tratamento diferenciado ou atendimento emergencial. Nada grave. Todas as vezes que ele precisou, foi prontamente atendido.
João já teve pedidos de soltura negados tanto pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos motivos alegados para sua prisão preventiva foi o risco de fuga. Entre os indícios do plano de fuga era a grande quantia em dinheiro guardada na casa dele.
FONTE: O GLOBO
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