PRF afirma que quer disponibilizar assistência psicológica e ajuda com o deslocamento dos parentes de Petrópolis para Duque de Caxias, onde ela está internada em estado grave
O Ministério Público Federal investiga por que um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entrou no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) que Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos, está internada após ser baleada durante uma ação da corporação. O policial teria ido ao Hospital Adão Pereira Nunes neste sábado. A segurança na unidade foi reforçada. Ela foi baleada na última quinta-feira e estava no carro da família acompanhada dos pais, da tia e de uma irmã, quando disparos foram efetuados contra o veículo. Os parentes dizem que os tiros partiram de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). A família mora em Petrópolis e retornava de Itaguaí, na Região Metropolitana, onde foi passar o feriado de Sete de Setembro.
Ao RJ2, o procurador da república Eduardo Benones, que investiga o caso, disse que a presença do policial à paisana na portaria do CTI não se justifica.
— Chamou nossa atenção. Depois em conversa com o chefe da segurança do hospital, ele informou aos agentes do MPF que esse policial que estaria lá e estava paisana não quis dar maiores explicações. A presença da Polícia Rodoviária Federal para prestar solidariedade é algo que se impõe, é algo que inclusive espera-se. Mas a presença de um policial, a paisana, e que não se justifica na portaria dentro de um CTI, causa espécie e até preocupação — afirmou Benones.
A PRF informou que a corregedoria vai apurar o caso e que pela manhã estiveram no Hospital a Coordenadora Geral de Direitos Humanos da PRF, acompanhada de integrante da Comissão Regional de Direitos Humanos da PRF no Rio. A corporação ressalta que “fora essas pessoas, em missão oficial da instituição, não mandamos nem demos autorização a qualquer outro policial para estar no local.”
Desabafo do pai
Pai de Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos, que foi baleada no Arco Metropolitano, na noite de quinta-feira, William Silva afirma que está sem dormir desde o ocorrido. Desde a madrugada deste sábado ele faz vigília no hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde a menina segue internada em estado grave, segundo a secretaria de Saúde do Município.
– Minha filha mais velha, de 8 anos, que estava no carro, está com os avós. Ela também não está bem. Ela me ligou mais cedo, chorando, dizendo que queria vir aqui no hospital ver a irmã. Pedindo fotos dela porque estava com saudade – diz William.
O pai de Heloísa conta que, no dia do ocorrido, percebeu o carro da PRF se aproximando e que os agentes não deram voz de parada, apenas ligaram as sirenes:
– Na hora, dei a seta e encostei o carro no canteiro. Mesmo assim, eles atiraram. Os estilhaços dos outros disparos acertaram o ombro, um deles acertou a nuca e saiu pela boca e o outro acertou as costas da Heloísa. Os médicos disseram que ela está fora de perigo e que teve um pouco de febre. Eu não dormi, não estou conseguindo comer. Estou fazendo cerca de 60 quilômetros do hospital até a minha casa em Petrópolis para tomar banho e voltar. Minha esposa não saiu do lado da Heloísa.
Comissão de Direitos Humanos oferece apoio à família
As comissões de Direitos Humanos da OAB, da Alerj e o Ministério Público Federal estiveram no Hospital Adão Pereira Nunes na manhã deste sábado em reunião com parentes da vítima. A Comissão de Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal procurou a família de Heloísa e se ofereceu para dar uma atenção prioritária aos parentes da criança baleada e afirmaram “lamentar profundamente o ocorrido”.
O pai de Heloísa, William Silva, se reuniu com a policial rodoviária federal Liamara Pires por volta das 10h. A reunião foi acompanhada por Rodrigo Mondego e João Silva, das Comissões de Direitos Humanos da OAB e da Alerj. Além disso, agentes da Ministério Público Federal também estiveram com a família e participaram do encontro.
Ao pai de Heloísa, a PRF afirmou que está buscando formas de disponibilizar assistência psicológica, neste primeiro momento, além de uma ajuda logística com o deslocamento dos parentes de Petrópolis, na Região Serrana, até o Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias.
– Nós temos um serviço que é de atenção psicológica dentro da corporação, podemos pedir para solicitá-lo à família. Nossa principal função hoje foi trazer a nossa solidariedade e dizer que sentimos muito. As investigações estão a cargo dos seus responsáveis. Neste momento, podemos prestar institucionalmente um apoio psicossocial, e ficará a cargo da família decidir se deseja receber este apoio – afirmar Liamara.
A agente esclareceu que, por ordem do Ministro da Justiça, Flávio Dino, a PRF está revisando os termos de doutrina policial e de abordagem na instituição. A demanda foi iniciada com a retomada da Comissão, em maio deste ano, após ter sido estacionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A revisão faz parte da portaria assinada pelo ministro Dino no início de agosto, a mesma que demitiu os agentes envolvidos na morte de Genivaldo Santos, esquizofrênico, que foi trancado por policiais em uma viatura cheia de fumaça de gás lacrimogêneo, em Sergipe, no ano passado.
– A demanda do Ministro da Justiça está fazendo uma ampla revisão da sua doutrina policial. Isso está em andamento e será entregue em breve e a partir dessa fundação. Vamos reorganizar todo o ensino, toda a educação da PRF. Isso está sendo tocado dentro da faculdade da Polícia Rodoviária Federal, que é a instância responsável pela educação policial. Estamos trabalhando na revisão de toda nossa doutrina do uso da força, para garantirmos um trabalho mais profissional que evite situações nas quais temos resultados indesejáveis – completou a agente Liamara Pires.
O carro da família de Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos, que foi baleada no Arco Metropolitano, na noite de quinta-feira, foi atingido por pelo menos três disparos. Um dos tiros atingiu o lado esquerdo da mala do veículo, que está passando por perícia na 48ª DP (Seropédica).
Outros dois tiros atingiram o para-brisa traseiro do automóvel, um Peugeot 207 Passion. O veículo consta como roubado no sistema do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Willian da Silva, pai da menina, diz que não sabia que o carro era roubado e que o comprou há dois meses, em Petrópolis, na Região Serrana, município onde mora.
O RJTV 2ª edição teve acesso ao depoimento do vendedor do carro, Jorge Salomão. Ele disse à polícia que tinha um comprado o veículo Peugeot Passion, placa LHS3b59, de um amigo, e ofereceu o carro para Willian, que ele fechou a compra em maio de 2023 pelo valor de R$ 10 mil. Willian pagou R$ 5 mil em espécie, um Fiat Palio no valor de R$ 2 mil, um Fiat Uno, sem motor, no valor de R$ 2 mil, mais 10 parcelas de R$ 750,00. Salomão disse ainda que fez diversas consultas ao Detran e todas as consultas, o veículo aparecia com a situação “sem restrição”. Que Willian quando comprou o veículo estava ciente que o automóvel precisava de todos esses reparos, antes de regularizar a situação perante o Detran.
Além da menina baleada, estavam no carro outras quatro pessoas: o pai William, a mãe Alena, uma tia e uma irmã da garota, de 8 anos. Pelas redes sociais, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, afirmou que pediu esclarecimentos a direção da Polícia Rodoviária Federal do Rio de Janeiro sobre o caso da menina. Três agentes envolvidos na ação foram afastados.
A criança está em estado grave no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, de Duque de Caxias. O tiro atingiu o crânio. A garota chegou à unidade levada por uma viatura da PRF com rebaixamento no nível de consciência e sangrando no couro cabeludo.
FONTE: O GLOBO
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