Votação aconteceu nesta quinta-feira (8). O Brasil já tem uma vacina aprovada para crianças e adolescentes com mais de 12 anos, mas pessoas dessa faixa etária com comorbidades ainda não haviam sido incluídas no PNI. Medida também beneficia gestantes, puérperas e lactantes
O PL 2112/2021, de autoria do senador Jean Paul Prates (PT/RN) e relatoria da senadora Zenaide Maia (PROS-RN), foi aprovado na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (8). Agora, o texto vai à sanção presidencial. O PL foi teve aprovação no Senado no dia 15 de junho. Anteriormente, a senadora Zenaide salientou, segundo a Agência Senado, que a Anvisa já autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em adolescentes com mais de 12 anos e, citando estudo, lembrou que a presença de comorbidades aumenta em mais de 50% as chances de uma criança desenvolver quadros graves de covid-19. O PL determina a inclusão de gestantes, puérperas e lactantes, adolescentes com deficiência ou comorbidades como prioritários no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.
O infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, disse que é totalmente a favor da inclusão dessas crianças e adolescentes no grupo prioritário. “Hoje temos uma vacina licenciada no país para crianças e adolescentes com mais de 12 anos, a da Pfizer. Então, se existe essa vacina e temos indivíduos com comorbidades de 12 a 16 anos, é obvio e me parece natural que sejam incluídos”, afirmou.
Luta de pais pela inclusão
Pais e mães de crianças e adolescentes com comorbidades lutam, desde o início da vacinação no Brasil, pela inclusão no grupo prioritário. “Não imaginava que a incubadora seria o primeiro lar de Sofia. Mesmo antes de ganhar colo de mãe, foi invadida por drenos e agulhas, e seu corpinho franzino driblou bactérias e paradas cardiorrespiratórias. Foram três meses de UTI”, relembra a jornalista Gabriela Mazza, de Pelotas, Rio Grande do Sul. Mas aquele não foi o único desafio para Sofia, hoje com 16 anos. A menina teve que aprender a viver com apenas um pulmão. “Foram inúmeras pneumonias, mas venceu cada um dos invernos no sul”, disse a mãe. “Agora, a pandemia trouxe isolamento, incertezas e o medo voltou. Surgiu a vacina, mas o Plano de Imunização Nacional (PNI) não inclui crianças e adolescentes com comorbidades. Com isso, colocam Sofia novamente na incubadora”, lamenta Gabriela, que é uma das integrantes do Instituto Abrace — uma ONG criada em 2006 para apoiar pais com filhos em tratamento intensivo (UTI e Home Care).
“A total insensibilidade em relação a esta situação nos deixa ainda mais angustiadas. Temos muitas mães na mesma situação. Um grupo que deveria ser prioritário, foi invisibilizado”, disse ela. Assim como Gabriela, Denise Crispim, 42, de São Paulo, também é mãe de uma Sofia com condições especiais. Ela, que é presidente do Instituto Abrace, conta que a menina de 16 anos tem paralisia cerebral do tipo quadriplégico. “Elas possui muitas restrições motoras e isso impacta na função respiratória e circulatória, já que não anda e tem pouca força muscular/controle de tronco. Além de não ir para a escola, Sofia precisou interromper as terapias porque o risco é muito alto. Ela já teve pneumonias de repetição e faz um esquema de imunizações diferenciado justamente porque uma gripe pode levá-la à UTI”, explicou.
Sem as terapias e há 16 meses em isolamento rigoroso, a menina já tem encurtamentos e sente muitas dores. Mas a mãe conta que a esperança ressurgiu quando a Anvisa aprovou a vacina da Pfizer para maiores de 16 anos, em fevereiro. “Acreditamos que o grupo seria incluído no PNI quando a vacina chegasse ao Brasil, em maio. Em outros países, como Estados Unidos, esse grupo foi previsto na lista prioritária desde o início, logo depois dos médicos e idosos. Mas aqui, simplesmente ignoraram o grupo de 16 a 18 anos com comorbidades e foi, então, que começamos a nos organizar”, conta.
Denise e Gabriela reuniram mães na mesma situação em todo o Brasil. “A Defensoria da União fez um pedido ao Ministério da Saúde, mas, na época, disseram que estavam aguardando a aprovação para o grupo de 12 a 16 anos, que aconteceu em junho. Agora, alegaram que já tinham concluído a vacinação dos grupos prioritários ou com comorbidades e que iriam vacinar a população em geral”, lamentou. “Foi, então, que nos desesperamos, pois não tem nem previsão de vacinação para os jovens. Um adolescente com múltiplos fatores de risco segue invisível. Começamos a procurar deputados, senadores e gestores estaduais e municipais, tentando pressionar de todas as maneiras e mostrar que o grupo existe”, explicou. Com isso, o PL 2112/2021, que era sobre vacinação de lactantes e gestantes, acabou incluindo esse grupo.
“A nossa esperança está nesse PL, mas também nas autoridades locais. Não é possível um jovem com câncer, com múltiplos fatores de risco, ser ainda mais sacrificado e ir para o fim da fila”, disse. Segundo Denise, não existe um número exato, mas há estimativas de que entre 10 e 15% dos adolescentes no Brasil tenham alguma deficiência ou doença crônica.
FONTE: REVISTA CRESCER
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