ENTRANDO EM PÂNICO
Poderia escrever nessa coluna de sábado sobre vários assuntos, como o discurso do Papa feito ontem na ONU. Poderia falar, também, da Superlua, que vai ocorrer amanhã (domingo) e só voltará lá para os idos de 2033. Mas não vou me ocupar de nada disso. O tema escolhido nasceu de uma conversa sobre o pânico que graças aos anos de domínio do PT no governo do Brasil assusta agora a tal Classe Média, tão decantada pelo lulapetismo.
QUEDA DE PADRÃO
Antonino da Silva acorda bem cedo e sai de casa antes de a mulher, Maitê Lins Oliveira, começar a buzinar no seu ouvido críticas que ele não suporta mais. Desde que o marido perdeu o emprego, Maitê pira diante do medo de a família baixar o padrão de vida alcançado nos últimos anos. E ela está em pânico. E Antonino, pressionado o tempo todo, não sabe mais o que fazer para reverter a situação.
O casal tem três filhos. Para piorar, a família tem uma agregada, Etelvina Oliveira, a sogra de Antonino. Pela manhã (e também em outros períodos do dia), Maitê e Etelvina se juntam para criticar Antonino.
FIM DO MUNDO
As duas culpam o chefe da família pela demissão e pela ameaça de que tudo vai desmoronar. Mãe e filha acham que o mundo acabou. E Antonino, sem argumento de defesa, sai de casa bem cedo e inicia uma jornada em busca de novo emprego.
Ele nunca esquece a carteira de trabalho, o pente flamengo, o lenço vermelho. Veste a melhor roupa, um terno bem alinhado. Barba feita, sem cortes na pele. E não deixa de usar perfume. A esperança de encarar uma entrevista de emprego é constante e tem que estar preparado para causar boa impressão. A aparência é tudo e mais um pouco, dizem. E ele acredita.
CONTAS VENCIDAS
Habitualmente só volta à noite. Entra em casa sem fazer ruído. Não acende a luz. Cuidado para não tropeçar numa lata vazia. Surpreso, o cachorro tenta grunhir e ele faz carinho no animal em troca do silêncio. Mas, para sua surpresa, a mulher e a sogra sempre estão acordadas. E ele é recebido com uma avalanche de perguntas sobre os resultados do dia. E é apresentado a uma coleção de boletos das contas a pagar.
A vida seguia numa escalada promissora até pouco tempo atrás. A família Oliveira tinha dois carrões, um para Antonino e outro para Maitê, e uma boa casa num bairro de classe média. Nos últimos 10 anos a família ampliou a casa, construiu uma piscina, elevou o muro, instalou sistema de segurança com câmeras.
ANDAR DE CIMA
Por insistência de Etelvina, ela e o marido iniciaram uma agitação social de festas e badalação. Realizaram os sonhos de viagens aos EUA e à Europa e retornaram ao Brasil de malas cheias. E muitas histórias para contar.
Antonino era executivo de uma importante estatal, onde entrou por indicação de políticos do partido que mandava no Poder. Tinha excelente salário e benefícios agregados. Na sua presunção como homem de sucesso, achava que a vida seria eternamente assim. E gastava tudo o que ganhava. Os filhos estudavam em renomados colégios particulares.
Até que certa vez, com a força de uma tempestade, a crise atingiu a estatal, o governo. E vieram os cortes. Antonino descobriu que não tinha tanto prestígio como imaginava: entrou nos cortes. E agora tinha de contar para Maitê que o emprego já era, que não existia mais os altos salários, as grandes mordomias.
AJUSTE FISCAL
E agora, o que fazer? Pela primeira vez, Antonino tem que fazer um ajuste fiscal no orçamento da família. E isto, para o horror de Maitê, implica em cortar gastos. Em meio a esse drama, Antonino calcula que durante os bons tempos fez gastos que nem precisaria. A ampliação da casa, por exemplo. Só muito de vez em quando usa a sala de jogos. A sala de ginástica vive às moscas. A piscina só é usada no verão. E o seu carro quase não saía da garagem. No cargo que ocupava tinha um veículo corporativo à sua disposição, com motorista, o dia inteiro.
Começa a pensar nos dólares que gastou nas viagens internacionais. Comprou objetos pelo puro prazer de gastar, sem necessidade emergencial, apenas para rechear as histórias dos lugares que visitou. Pensa que, se tivesse sido modesto na ampliação da casa e nas viagens, numa hora dessa poderia ter algum lastro para atravessar a crise que agora atinge a família.
TIPO CONGRESSO
As negociações com Maitê não são fáceis. A mulher parece o Congresso: não abre mão dos colégios particulares dos filhos, dos gastos com roupas e cabeleireiro, das festas. Ela habituou-se ao que é bom e não acha possível viver sem essa zona de conforto. Não adianta o marido demonstrar que agora tudo mudou e não vai ser mais possível arcar com o padrão de vida anterior.
Copiando sua musa inspiradora, Maitê propõe umas pedaladas no orçamento familiar, do tipo tirar de onde não deve para cobrir rombos financeiros que acha conveniente, mas Antonino não concorda.
DIGNIDADE PERDIDA
Antonino nunca viveu o drama do desemprego. Um dia desses, ao efetuar uma compra, seu cartão de crédito foi recusado. Surgiram dívidas e o seu nome foi parar no cadastro de inadimplentes, na lista dos maus pagadores. Hoje, dando-se por vencido, volta a sair de casa nesses momentos e pode ser visto na rua, na praça, na padaria, em qualquer lugar que o afaste de casa.
Com o nome sujo, não pode mais recorrer a empréstimo como medida de emergência. Os juros são abusivos, ele reclama. É como se tivesse sido rebaixado numa classificação de risco. Não pode fazer nada. É como se perdesse a dignidade.
FALTA DE MOBILIZAÇÃO
Não adianta animarmos muito com o significado das eleições marcadas para o próximo ano, para as modificações pelas quais Rondônia espera tanto tempo, especialmente em relação a Porto Velho e os municípios principais do estado.
Pelo que se fala nesse momento na seara política, é difícil acreditar na realização de uma campanha interessante na sucessão municipal. E tudo leva a crer que os próprios cidadãos já perceberam isso, demonstrando pouco interesse em aprofundar seu conhecimento sobre os pretensos candidatos que pontuam no noticiário político.
Na verdade não há, a grosso modo, mobilização de parte a parte. Os pretensos candidatos não estão motivados a ouvir o eleitorado. Querem, ainda timidamente, mais é falar. Evitam, assim, ouvir que alguém lhes diga o que temem escutar.
No geral, percebe-se claramente que Rondônia não está mobilizada para seus políticos.
AFETIVIDADE
Ninguém desvalorizará a importância das eleições do próximo ano, mas diante da decadência da classe política, da crise econômica chegando a praticamente todos os lares, vai ser difícil detectar um eleitorado entusiasmado com a oportunidade de apresentar novamente o seu sufrágio.
É cada dia maior a perda de confiança da população nos políticos. E a culpa é toda deles que fazem do resultado eleitoral um simples faz de contas, quando deixam de cumprir, após eleitos, os compromissos assumidos na campanha, especialmente em programas eleitorais montados por mídias cada vez mais caras e sofisticadas.
Então, terá mais chances de ganhar as eleições quem construir uma ideia de afetividade e de proximidade com o eleitorado.
O povo já aprendeu que o candidato (qualquer que seja ele) é muito diferente daquele político que se elege. Raros são os que não se distanciam da comunidade. Há ainda quase total indefinição sobre os personagens da disputa, mas entre os nomes especulados até agora, não se vislumbra nenhum com um público sintonizado em seu projeto.
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