COLETIVOS: CRISE ANUNCIADA
A coluna foi quem primeiro revelou o furdunço previsto para o já caótico sistema do transporte coletivo de Porto Velho, um pouco antes de o prefeito Mauro Nazif fazer a primeira jogada para garantir a entrega “dessa mina de ouro” a um novo explorador do serviço sem ter pelo menos de realizar uma concorrência pública séria.
Quando registramos mais essa maracutaia da gestão de Mauro, alertávamos para a verdadeira “conversa para boi dormir” sobre a tal “solução emergencial” defendida pelos ocupantes do paço municipal. Afinal quem poderia acreditar que um segmento tão previsível e caótico há tantos anos tinha alguma coisa de “emergencial”?
Quem poderia imaginar a contratação de um serviço tão complexo e tão sério poderia dispensar a licitação pública? Para escolher essa empresa sem nenhuma tradição em serviço de transporte coletivo o prefeito inventou um “chamamento público”. Na primeira vez só a tal “Ocimar Comércio de Automóveis Transporte e Turismo Ltda” se habilitou ao certame. Claro que ganhou. Mas não levou de imediato. Alguém da prefeitura pode ter ligado o desconfiômetro, percebendo que daquele jeito estava muito na cara uma espécie de direcionamento.
ARES DE LEGALIDADE
O mesmo processo viciado de descartar uma Concorrência Pública (com todos os seus detalhamentos) foi repetido, dessa vez com a presença de mais um participante supostamente escolhido para dar “um pouco de credibilidade” na maracutaia. E como não poderia deixar de ser, a mesma “Ocimar” que ninguém sabe e ninguém viu foi novamente a escolhida num jogo de cartas dos mais manjados.
O vigilante Tribunal de Contas do Estado, através do Conselheiro Wilber Coimbra, procurou impedir que a pegadinha da prefeitura surtisse efeito. Não adiantou: nos arraiais do Judiciário, a prefeitura conseguiu apoio para consumar essa doidice, mantendo a decisão de entregar, emergencialmente, o transporte coletivo da capital rondoniense à Ocimar, esse ente totalmente desconhecido na terra de sua sede como transportador de passageiros.
FACE OCULTA
Quem como o colunista conhece Mauro Nazif desde o início de sua carreira política não poderia imaginar tanta mudança no seu protagonismo de hoje, como prefeito. Mauro sempre vendeu a imagem de um político certinho, sempre disposto a defender “o povo” e cultor da transparência na condução dos negócios públicos. Notabilizou-se como crítico severo de praticamente todos os antigos prefeitos e governadores, através de discursos contra a corrupção e da participação em atos públicos de defesa dos interesses populares, principalmente de servidores, inclusive se expondo a sofrer intimidações de agentes de segurança.
ERA TEATRO
Agora, diante desse episódio que desmonta o setor de transporte público da capital, atingindo até mototaxistas, vê-se que o antigo comportamento do prefeito de Porto Velho era só teatro, máscara e nada mais. Agora o prefeito mostra ojeriza contra manifestantes que buscam defender interesses coletivos. Por isso, na entrevista concedida na sexta-feira, o tom principal foi o de desqualificar os manifestantes e os políticos que estavam, no movimento, respaldando a classe de motoristas, cobradores, taxistas, todos ameaçados de perder os empregos.
É muito comum ouvir que os fatos promovidos pela gestão Nazif, apontados como meros esquemas para desvios de dinheiro público, não nascem da cabeça do prefeito, e sim da cabeça de Gilson Nazif, seu irmão. É aquela estória sobre quem “tem um irmão assim” não precisa ter inimigos e nem oposição.
EPISÓDIO CASCATEIRO
É mesmo difícil entender como “o senhor certinho” da política de Porto Velho aceitou dirigir o espetáculo mambembe de escolher para explorar o transporte coletivo da capital, uma empresa que não tem sequer um motorista de ônibus contratado, um cobrador, um mecânico. E dizer que o prefeito não sabia disso é pura cascata. Afinal, nos registros do Ministério do Trabalho consta que a tal Ocimar, desde 2013 até hoje teve só uma funcionária com registro em carteira.
ASSOMBROSO
A empresa escolhida pela gestão (???) Nazif para substituir o consórcio de transporte da cidade é, como se vê, uma coisa esdrúxula: não tem registro em nenhum órgão paulista como transportadora de passageiros, não tem empregado nenhum (a não ser a moça do cafezinho) e nada da “expertise” que Mauro Nazif anunciou ao defini-la como empresa capaz de dar conta do serviço.
É tudo muito assombroso, a ponto de motivar indagações sobre as justificativas para a quebra liminar da proibição anunciada pelo TCE para a conclusão dessa aventura pela qual, mais uma vez, quem pagará muito caro serão os usuários do transporte público de Porto Velho.
VÍDEOTAPE DE MOSSORÓ
Outra cidade que caiu nesse suposto conto do vigário para a exploração do transporte urbano pela tal empresa que ninguém sabe e ninguém viu, batizada de Ocimar Transportes, é Mossoró, cidade do interior do Rio Grande Norte, famosa pela produção de sal.
Lá o Ministério Público já está investigando uma série de denúncias, inclusive de negócios diretos da tal Ocimar com o prefeito Silveira Júnior (PSD) ou seus parentes.
O primeiro negócio de família revelado naquela cidade potiguar foi o aluguel de um terreno do tio do prefeito para servir de garagem à empresa também contratada aqui pela gestão (??) Nazif.
E não ficou só nisso. O tio do prefeito é quem fornece o combustível para os “ônibus” da Ocimar. Há várias outras denúncias em investigação pelo MP do Rio Grande do Norte de favorecimento à família do prefeito de Mossoró.
CAINDO AOS PEDAÇOS
As notícias vindas de Mossoró sobre o “novo” transporte público são de assustar, comprovando aquilo que a coluna já tinha registrado em edições anteriores: “ela não tem nenhuma experiência com o transporte coletivo”. Lá só a metade dos ônibus prometidos está operando. E são ônibus velhos, alguns caindo aos pedaços, sofrendo panes constantes, como contou o Jornal de Fato, numa reportagem publicada no último dia 7.
Os mesmos mistérios e incertezas em torno do contrato dessa empresa que não é conhecida nem mesmo em Taboão da Serra, município paulista onde seria sua sede, estão presentes nesse negócio nebuloso.
O usuário do transporte coletivo de Porto Velho não deve alimentar esperanças de melhorias nesse serviço público, para não se frustrar como os usuários da cidade de Mossoró.
CULPA DO PREFEITO
Certamente nenhuma pessoa com informação mediana sobre o serviço precário prestado pelo consórcio que agora teve o contrato cancelado defenderia as empresas que atuam no transporte coletivo da capital. Mas a troca decidida pelo prefeito Mauro, além de não resolver o problema, deverá evidenciar ainda mais o cenário de desorganização do transporte público urbano da cidade.
E até não poderia ser diferente, pois se até hoje a Semtran não teve nenhum secretário com competência para propor e efetivar projetos de melhoria em qualquer área da mobilidade urbana, agora ainda é muito pior. Afinal, o titular da pasta só está lá pela paixão militarista do gestor público que sucumbiu à antiga posição de coronel do atual titular.
SEM MÁSCARA
A culpa do prefeito ficará ainda mais evidente se não der transparência ao contrato firmado entre o município e a Ocimar (ou BR Buss, seu nome de fantasia), desfecho para um capítulo trágico de uma história idem que certamente vai contribuir para a derrocada do político Nazif, hoje sem meios de retomar a antiga máscara de paladino da honestidade.
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