FILOSOFANDO
“A única coisa que temos que respeitar, porque ela nos une, é a língua”. Franz Kafka (1883/1924), escritor nascido em Praga, autor dos clássicos “A metamorfose”, “O processo” e “O castelo”. Kafka foi também agente de seguros. Morreu vítima de insuficiência cardíaca, na Áustria, aos 40 anos.
ESPERANÇA DIFÍCIL
Uma das boas coisas conquistada pelos brasileiros nos tempos atuais é a liberdade de imprensa. Graças a ela tomamos conhecimento cada vez mais da realidade em que vive o país e certamente o cenário é muito ruim. Nunca foi tão difícil ter esperanças diante das práticas estarrecedoras dos governantes, dos representantes do povo e até mesmo daqueles com obrigação de zelar pelo cumprimento da lei e de distribuir Justiça.
VIOLÊNCIA E IMPUNIDADE
Escândalos políticos, envolvendo todas as esferas de poder e partidos, vêm produzindo um quadro dantesco de violência e impunidade, que demonstra que o povo nunca é, nem foi, protagonista nessa “democracia”. Nem numa terra bucólica como Rondônia as coisas são diferentes.
A encenação no palco de nossa política é de péssimo enredo. Tanto na capital como no interior. E somos obrigados a assisti-la, pagando um alto preço, quando constatamos atos extorsivos como soem ser os reajustes absurdos dos salários de reles vereadores e de manobras de figurinhas carimbadas para continuarem mamando nas tetas do poder.
GAFANHOTOS
E o que dizer de alguns de nossos políticos? Quanto benefício conseguiu para a sociedade e quanto para si próprio? Quanto se dedica aos interesses do povo e quanto aos seus projetos pessoais?
O que importa para eles (salvo as raríssimas exceções), é atingir o poder, exercê-lo, mantê-lo e tirar o maior proveito possível dele, tal qual uma praga de gafanhotos, não importando os efeitos sobre a população.
Ideologias só aparecem sob forma de discurso inócuo, para justificar o injustificável, e travestir atitudes iníquas. É a busca da riqueza rápida e qualquer custo.
É por isso que as mudanças de siglas pelos políticos, com o aproveitamento da “janela da infidelidade”, aconteceram de forma bizarra, reforçando a verdade de que no Brasil a ideologia é algo tão vago como a direção dos ventos, e flutua ao seu sabor.
O DEPUTADO HONESTO
Na assembleia legislativa rondoniense há um caso sintomático e esclarecedor sobre este questionamento. Trata-se do sujeito que incorporou na política local o personagem que bate no peito como “o mais honesto” do segmento parlamentar. Esse deverá ser na verdade seu mantra como candidato escalado para disputar a prefeitura de Porto Velho nesse ano.
Pertenceu por anos ao PT, e foi até secretário municipal do nefando prefeito Rouberto Ali Babá. Na posição de eterno crítico, acostumou a usar a justificativa de que suas “ideias” sempre foram adulteradas, e isso acaba servindo como um escudo para livrá-lo de responsabilidade na compactuação dos seus antigos partidos, esquecendo que cultura e inteligência, sem sabedoria, não têm nenhum valor pragmático.
LONGE DO MUNDO REAL
Para esses políticos, a longa história da corrupção em nosso país e até no jovem estado de Rondônia, passada como um bastão de revezamento transforma a imoralidade em uso e costume!
Como entender o verdadeiro mercado persa oriundo das tais dotações de emendas parlamentares, uma excrescência que alimenta o clientelismo, a corrupção ativa e passiva, o enriquecimento ilícito, o nepotismo, o loteamento de cargos, o fisiologismo, o desvio de verbas, a impunidade, a eterna justificativa de que o eleitorado lhes conferiu o mandato e que suas atitudes – quaisquer que sejam – são respaldadas por ele?
A PARTE DO LEÃO
O colunista como certamente a maioria dos leitores não votou em nenhum candidato ao parlamento para que ele destinasse esse dinheiro público em favor, como acontece, de instituições ligadas aos próprios ou a projetos onde seus acumpliciados atuam, recebendo a grana e dividindo o bolo de tal maneira que a parte do leão seja garantida ao próprio autor da famigerada emenda.
Mas tá na cara, para quem quiser ver, essa malandragem institucionalizada. É possível justificar as fortunas gastas em campanhas eleitorais – que as remunerações e verbas de exercício dos cargos jamais cobririam – sem o comprometimento do financiado com o financiador?
MODELO ELEITORAL
Ninguém em sã consciência vai acreditar na lorota de que nomes anunciados como pré-candidatos à prefeitura de Porto Velho (mas certamente esse é um caso que se repete em todo o país) como o do ex-prefeito petralha Ali Babá está recuperado, tem estofo moral para participar dessa pugna.
Então fica claro que o modelo eleitoral brasileiro não permite ao eleitor punir, pelo poder do voto, o político inadequado.
AS BOQUINHAS
E, pelo menos em Rondônia, a praxe mostra que quando o eleitor usa a força do voto para punir o mal político, ele acaba sendo salvo com as sinecuras e boquinhas reservadas para eles no nosso lamentável sistema da política desavergonhada.
Foi assim, por exemplo, com Nilton Capixaba que punido pelo eleitor acabou encontrando apoio no governo durante a gestão Cassol, de quem chegou a importante secretário de estado, cargo usado para reconstruir o caminho de retorno à Câmara Federal.
EXEMPLOS NÃO FALTAM
Agora mesmo há muitos outros casos semelhantes. Dedé de Melo, apeado da vida pública pelo eleitorado de Guajará Mirim encontrou abrigo no gabinete de Lúcia Tereza, onde além de faturar uma grana polpuda pode fazer política como se não tivesse sido expurgado pelas urnas.
Então é assim: de cargos eleitorais podem ser apeados, mas todos acabam nomeados em cargos públicos, permanecendo no exercício do poder para o qual a sociedade o desautorizou. Afinal, alguém sabe por onde anda a ex-senadora Fátima Cleide (PT) após as sucessivas derrotas nas urnas? Certamente ela não será encontrada na sala de aulas de alguma escola rondoniense, onde deveria estar.
ESTADO PROBLEMÁTICO
Embora seja um estado jovem, que poderia ter se convertido num exemplo de gestão para todo o país, Rondônia permanece como tantas outras unidades da federação: um estado problemático no quesito idoneidade. O governador rondoniense tem nome de filósofo, mas está muito longe disso. Aliás, Confúcio está longe até de ser um gestor respeitado. Ele ainda mantém o “coronelismo”, o “paternalismo”, o “apadrinhamento”, o enriquecimento ilícito, e exacerbando, até os últimos limites, a prática nefasta do mote: “tudo tem seu preço”.
O problema é que o preço é sempre pago pela sociedade, enquanto os atores permanecem imunes aos efeitos de seus atos, mantendo um discurso repleto de ética e moral, indignados e inconformados com as críticas que recebem, pois, em suas mentes deturpadas, estão fazendo o que é natural e histórico.
INSENSÍVEIS
As esperanças são depositadas nesse momento junto às autoridades do Judiciário e às instituições de controle externo, que podem tomar um novo rumo, de tolerância zero aos hipócritas que roubam, defraudam e consideram seus atos como coisa normal.
Nesta semana deve começar a cumprir pena no Urso Panda de Porto Velho o ex-presidente da Assembleia, Natanal e Silva. Na fila está Carlão de Oliveira, também ex-presidente, no momento foragido.
Com todos esses exemplos fica uma pergunta a outros políticos do estado: Será que eles não atinam que os atos que praticam têm consequências sociais terríveis?
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