Cultura

O “Rei Negro” Jair Rodrigues abre o jogo

No início de 2009, Jair Rodrigues gravou no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, o CD e DVD “Festa Para Um Rei Negro – Ao Vivo” (Universal Music). Na época, o cantor concedeu entrevista exclusiva à Revista SUCESSO!.

Polêmico, o cantor não mede palavras para elogiar o próprio trabalho e para criticar o atual momento da música nacional. Para ele, falta espaço para que os artistas divulguem músicas inéditas em rádios de MPB. Outra observação de Jair diz respeito aos reality  shows de música. “Não há ensaio e os artistas se apresentam nervosos. Os talentosos quase nunca são os vencedores”, defende.

Na entrevista abaixo, Jair Rodrigues comenta esses e outros assuntos.

SUCESSO! – Podemos dizer que a MPB tem dois reis: um negro (Jair Rodrigues) e um branco (Roberto Carlos)?

Jair Rodrigues – Eu fiz 50 anos de carreira antes do Roberto Carlos. Tenho feito uma seqüência de trabalhos em que estou recebendo todos os louros. Não só o Jair e nem só o Roberto Carlos merecem respeito na música. Mas rei mesmo só existe um: Deus.

Jair, você pensa em gravar um novo disco de inéditas?

Antes de gravar esse CD e DVD, eu havia gravado o CD “Jair Rodrigues em Branco e Preto”. Mas, veja bem: é tão difícil encontrar boas músicas inéditas para gravar. Mas até existe. Só que é complicado conseguir ter uma boa execução nas rádios. Isso porque as emissoras andam tocando muitas músicas consagradas em novas interpretações.

Qual artista da nova geração que você aposta como um provável sucesso nos próximos anos?

Ele já começou. Recentemente esteve lá em casa, almoçando com a gente. É o filho da inesquecível Elis Regina: Pedro Mariano. Acho que a única coisa que ele tem que melhorar para destacar-se de vez na música é escolher um repertório digno da voz que tem. Ele é um cantor e um amigo extraordinário. Adoro outros, mas dou destaque a ele sem a intenção de ofender ninguém.

 Você tinha uma bela amizade com a Elis Regina. Com quais outros artistas você mantém amizade?

Paulinho da Viola, Djavan, Martinho da Vila, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Alcione, Originais do Samba, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa – que até pouco tempo era minha vizinha. Essa geração que citei e outros que deixei de citar forma um quadro de grandes amizades para a eternidade, se Deus quiser.

 O Pelé está gravando um novo disco. Ele já te convidou para participar de alguma música?

A primeira música que gravei do Pelé foi em 1974, e chamava-se “Recado à Criança”. Na época, ele ainda jogava futebol. O pessoal ficava louco, pois todas as vezes que eu ia à concentração, ele pegava o violão e começava a cantar. Os amigos do futebol ficavam tirando um sarro dele e eu prestava atenção na música. Na época, expliquei para todos os jogadores que, por ter ele sido um craque tão grandioso, as pessoas não davam atenção à sua música. Quando notei aquela letra: “Criança de Deus, que coisa sadia. Seu rosto inocente, transborda alegria… Vamos crescer e trabalhar, que o Brasil está a esperar”. Sabe, ele sempre defendeu a educação da criança. Em 1981, gravei um clássico dele, que é “Cidade Grande”. Quando eu canto isso e falo que é do Pelé, ninguém acredita. Explico para as pessoas dizendo: é que ele jogou tanta bola que fica mesmo difícil acreditar que tenha conseguido ser bom como músico. Ele me convidou para participar do disco dele, mas infelizmente eu estava realizando uma viagem ao exterior. Acho que agora ele até já preparou o CD. Mas o Pelé convidou outros artistas da melhor qualidade. Tá tudo bem, porque ele já participou do meu último trabalho. O Pelé me avisou que o disco vai ser bonito. E eu acredito nele.

Você sente que seu público sofreu uma renovação?

De uma década para cá, eu senti que o público começou a trazer os filhos e os netos para assistir meus shows. Numa platéia de 30 mil pessoas, sempre tem 5 ou 6 mil garotões. E hoje está tudo misturado. Há pouco tempo, fui fazer um show pro pessoal considerado da terceira idade, os “semi-novos”. Lá, tinha gente novinha, como as garotinhas de “setentinha”, “oitentinha” e os garotinhos de nove, dez, quinze anos. Fico feliz de ter esse dom de cantar e de agradar as mais variadas pessoas. É tão bacana perceber que além de estarmos cantando, estamos agradando. Isso satisfaz plenamente meu ego.

Jair, você participou dos grandes festivais dos anos 1960. O que você acha dos reality shows musicais que acontecem hoje em dia?

Eu tenho visto alguns reality shows, mas os profissionais trabalham errado com os calouros. É muito difícil de saber se o cara é bom ou não, caso o coitado já entre nervoso. Ainda assim, em algumas ocasiões o cara tem que cantar sem acompanhamento no programa. Várias vezes, a música sai no tom errado e desafinada. Acho que isso aí não leva a nada. Para saber se o cara tem valor, tem que ter ensaio. Fica cinco ou seis caras lá julgando e mandando o cara cantar. Peraí, para ter um programa desses, tem que ter ensaio. Igual faziam conosco no tempo dos festivais. Você pegava uma música para cantar, mas tinha ensaio e todos os testes possíveis. O reality não é válido. “Canta aí? O que você canta? Ó, não gostei”. Peraí. Vamos dar a César o que é de César. “Escuta, seu tom é esse, sua tessitura vocal é essa. Essa música não tá legal contigo, vamos escolher uma outra”. Tem gente que canta maravilhosamente bem, mas chega lá no concurso e não vai bem. Reality show desse jeito eu não gosto.

Você já pensou gravar um disco em família, com o Jairzinho e a Luciana juntos?

Vamos ver. Eu não premedito nada. Se acontecer, vou gravar com o máximo prazer. Só o tempo pode responder isso com certeza.

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Gomes Oliveira

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