Política e Economia

O amor e o dinheiro – Capítulo 1, por Alberto Dinys

Sentiu uma vontade de abrir os braços e abraçar a irmã por um longo tempo.

– Que bom que você chegou de Paris – disse ela enquanto sorria, sentindo o doce perfume de Bianca. – Saudades, querida! De verdade. Todos os dias eu olhava as nossas fotos no álbum. Mas fico feliz por ter conseguido estudar lá. Um dos sonhos realizados. Excelente!

– Paola, eu comprei um presente muito lindo. Você vai gostar – disse Bianca, alegre.

– Mostra – pediu Paola, curiosa.

– Depois do jantar vou te dar um presente. Depois vou te apresentar uma pessoa bem legal.

– La vem você querendo arrumar namorado pra mim – comentou Paola.

– E por que não posso querer te ver feliz? – questionou Bianca. – Aproveita. Vai amar o presente. E vai gostar logo de cara do fotógrafo.

– Ele é fotógrafo? – perguntou Paola, surpresa.

– Sim. Um excelente fotógrafo. Sério. Começa como amizade. Depois vem o amor. Poderoso sentimento que nos inspira, querida.

Paola e Bianca sorriram, divertindo-se com a conversa.

O amor e o dinheiro

Capítulo 1

Pronunciou sensualmente o nome Sylvia para o rapaz que estava fotografando na galeria. Usava o seu poder de persuasão.

Então, Paola sorriu meio sem graça olhando para o rapaz que estava fotografando os quadros da galeria. Usava um vestido belíssimo, com umas rendas e um pano diferente, repleto de detalhes femininos e requintados. Os cabelos castanhos, cacheados, realçavam a sua beleza natural. Tinha um jeito agradável de falar e os seus gestos finos e discretos revelavam a excelente educação que tivera. Amava os pais, as pessoas, os animais. As possibilidades da vida. Mas sabia também que nem todas as pessoas buscavam exercer o amor, o altruísmo. Não. Ao contrário. Escolhiam entregar-se ao egoísmo e a ambição exacerbada (cultivando hábitos nocivos e tendo atitudes reprováveis).

– E logo após o jantar, ela saiu junto com um grupo de figuras ilustres da literatura – disse Sylvia enquanto ajeitava o seu colar de pérolas. – O resto eu não sei. Mas posso imaginar. Afinal, a minha imaginação é muito fértil e por diversas vezes maliciosa quando preciso me concentrar em certa situação. Dizem que é preciso ter provas para argumentar com autoridade e segurança. Mas basta observar os gestos, olhares, pequenas pistas fragmentadas em frases, raciocinar com cautela e já descobrimos muitas coisas.

– Muitos chamam isso de intuição feminina – argumentou Lisandra em um tom sereno. – Outros partem para explicações espirituais e alguns são mais céticos a respeito do assunto. Você é inteligente, perspicaz, madura. É difícil alguém querer te enganar assim, sem uma estrutura argumentativa absolutamente genial. É o meu ponto de vista.

– Sim, sim. É um ponto de vista que deve ser respeitado. Certo? Nós vivemos em uma sociedade democrática, Lisandra. Pelo menos na teoria.

– A teoria e a prática se diferem em certos picos e em muitos casos, totalmente, dona Sylvia – disse Lisandra.

– Sem o dona por hoje. Por favor! Assim me sinto mais velha do que sou.

– Desculpa! Eu… procuro me dirigir à senhora com profissionalismo e respeito.

– O respeito precede a elegância. Li isso em um livro tão interessante. A versão original está até em francês. A etiqueta te livra de várias saias justas. E nós mulheres devemos estar cientes das boas maneiras. Os homens alegam que não reparam. Mas no fundo eles percebem quando nos assemelhados mais aos atos grotescos e nada suaves, dignos de admiração.

– Verdade. Sábias palavras. Eu até me emocionei. Sério. Sei que parece bobo dizer isso. Mas… muitas mulheres se inspiram na forma como a senhora se põe na sociedade. Na verdade, na forma como a senhora é. Elegante, fina, milionária, poderosa. Não depende de homem para ter o que deseja. Isso é extremamente louvável. Desculpa ser tão invasiva nos elogios. Só que eu… eu precisava me expressar.

Por um breve instante, a empresária sentiu vontade de chorar (era uma mescla de emoções). Porém, conteve o lado mais emocional e deu apenas um leve sorriso na direção de Lisandra, que demonstrava eficiência e uma submissão esperada dos que trabalham para grandes personalidades no mundo dos negócios nacionais e internacionais.

– Agradeço pelas palavras. Reconheço que você possui uma notória capacidade para se relacionar no mundo business. E essa flexibilidade e disponibilidade para evoluir vão te impulsionar demais na carreira que você escolheu seguir. Agora… como eu não sou uma dama de muito sentimentalismo, peço que se retire. Por favor! Tenho assuntos importantíssimos para resolver. E… ah! Não se esqueça de telefonar para o meu estilista americano e passar as informações que escrevi naquele papel que a Jennifer deixou na sua mesa hoje pela manhã. Também avise para o Sebastián que desejo o meu café às quatro e meia da tarde. Sem antecedência. Nem atraso. Muita breguice atrasar! Ele também não deve esquecer de trazer os meus biscoitos de chocolate. Biscoitos recheados. Claro! Amo biscoitos recheados. E bom… para finalizar, necessito de paz para tomar as melhores decisões possíveis. A partir de agora não vou marcar, nem fazer reunião com ninguém. Nem atender telefonemas.

– Sim, senhora. Eu entendi as recomendações. Com licença!

Com discrição e passos calculados, Lisandra se retirou da sala de Sylvia e foi direto para a copa. Lá estavam Alice e Evelyn preparando o café, no meio de muita fofoca, quando a outra chegou aos pulos, feito uma louca, abraçando as duas amigas.

– Para com isso, doida! – exclamou a mais jovem do grupo. – Parece que nunca viu homem bonito na vida. No corredor a gente encontra vários passando. Conta aí qual é o nome do boy. Fala, garota.

– Eu acho que ela vai preferir ficar quietinha com medo da bonitona aqui – provocou Evelyn, a mais brincalhona do grupo – Esses coroas se amarram numa mulher como eu. Cria da favela mesmo. Com orgulho. Eles querem me pedir até em casamento. Eu confio na minha beleza, gata.

De repente, Lisandra caiu numa gargalhada estridente, que até Alice e Evelyn estranharam.

– Pronto. Ficou maluca, Brasil – disse Alice pasma com a atitude espalhafatosa da amiga. – Agora mais essa.

– Acham que sou louca? – questionou Lisandra com escárnio no olhar e uma petulância implícita, não detectável para os mais neófitos na leitura do corpo humano.

– Estou começando a achar – respondeu Evelyn colocando as mãos na cintura. – Parece até que foi pedida em casamento por um milionário.

– Melhor do que isso, safadas – bravou Lisandra com um sorriso ambicioso.

– E ainda xingando nós duas – disse Alice.

– Conta logo – pediu Evelyn curiosa e meio impaciente. – O café da patroa não pode atrasar.

– É justamente dela que vim falar – disse Lisandra, alegre e orgulhosa. – Ela me reconheceu, me elogiou e tudo, meninas.

– Como assim? Elogiou mesmo? Tipo… reconhecendo o seu trabalho?

– Sim, Alice. É… tão gratificante e emocionante. Vocês nem podem compreender o que está acontecendo dentro de mim.

– Nem queremos, Lisandra – disse Evelyn com certo temor. – Ela é a que manda na empresa. Assim como ela te elogia, ela pode destruir a imagem que você vem construindo ao longo desses anos todos. Eu posso até trabalhar na copa, mas eu não sou burra. Ela não vai querer te ajudar da maneira como você espera.

– E por que não? – perguntou Lisandra não gostando das palavras da amiga.

– Porque ela é arrogante e má – respondeu Evelyn. – É só reparar nela um pouquinho. Ela nem olha direito para as pessoas.

– Os subalternos, Evelyn.

– Sim. Os subalternos. Os mesmos que contribuem para a empresa funcionar bem. Porque ela não sabe fazer um café gostoso. Duvido que saiba. Ela nunca deve ter feito uma faxina. Ela é madame, Lisandra. Acorda! Ela te vê como mais uma. Ela não valoriza quem não tem os milhões na conta. Eu sou sincera. Ela é assim.

– Não. Não, não e não. Não. Gente, eu sei como é difícil explicar certas coisas na vida, mas eu realmente ganhei um elogio sincero da dona Sylvia. Na verdade, Sylvia. Só Sylvia. Ela não gosta muito de ser chamada de senhora quando estamos conversando.

– Conversando? Humm! Já estão tão íntimas assim? – perguntou Evelyn com ciúmes, levando as sobrancelhas bem desenhadas.

– Ainda não. Mas…

– Mas…? Diz aí.

– Com o tempo vou conseguir me tornar a melhor amiga dela, queridas.

– E qual a finalidade? – questionou Alice enquanto pegava as xícaras e os pires que estavam guardados no armário. – Naquele dia você até que me disse o porquê de querer virar a melhor amiga da dona Sylvia, mas eu já nem lembro da explicação que você me deu.

– Vontade de crescer. E não apenas crescer didaticamente – argumentou Lisandra usando um tom mais elegante. – Ao lado dela, pareço mais poderosa e acabo me aproximando de pessoas influentes. Isso é muito importante para mim.

– Certo. Na verdade, para ser bem sincera com você, eu não acho que seja uma boa escolha idealizar essa amizade – disse Alice com uma expressão de seriedade.

– E por que não? – perguntou Lisandra, o olhar altivo.

– Porque até a maneira como você fala agora já é outra – argumentou Alice. – Antes… lembra? Era tudo diferente. Tudo mais simples.

– Simples. Essa palavra parece tão…

– Estranha – completou Alice. – Estranha e feia. E sabe o porquê de você estranhar essa palavra no atual momento. Vou te responder. Ela não existe no dicionário de pessoas como a dona Sylvia. Infelizmente. Ela tem um charme. Sim. Eu sei que sim. Mas… depois que você convive com alguém arrogante e perigoso, a admiração acaba. Fica a decepção.

– E o dinheiro.

– Claro, Lisandra! O dinheiro. Ele te atrai muito. Eu sei.

– As pessoas precisam de dinheiro. O mundo é capitalista. Entende?

– Entendo. Pode ficar tranquila. Eu entendo o seu pensamento. Um pensamento muito, muito ambicioso e arriscado.

Sylvia respirou fundo. Procurou não ser áspera, mas foi difícil controlar a sua indignação. Disse sem pudor:

– Eu sei como é complicado querer se arrumar e precisar da ajuda dos outros pra comprar isso ou aquilo. Nada fácil, meninas. E no final… ser mal interpretada por homens e mulheres. Pela sociedade. As exigências estéticas, profissionais, intelectuais. Ficar sem dinheiro é péssimo, péssimo, péssimo…

Os olhos já estavam marejados. Continuou:

– Quando falta dinheiro e não há muitas opções pra sair dessa situação, fazemos loucuras. Loucuras, querida. Infelizmente. Poucos aparecem pra ajudar. E em muitos casos é preciso dar um jeito sem o apoio de ninguém. É. Seguir em frente mesmo que as pessoas virem o rosto. Lutar, querer sair do sufoco. Vencer.

– Eu conheço a sua trajetória. E é justamente por isso que eu, na minha sincera opinião, te digo que não é inteligente investir nessa amizade – disse Alice. – Você já é adulta. Já sabe o que faz.

– Sim. Somos adultas. Sabemos o que fazemos. O que dizemos. O que escolhemos. E eu escolho ser uma profissional eficiente, ligada no que há de mais moderno. É preciso evoluir, querida.

– Com certeza! – afirmou Alice.

Com elegância e um ar altivo, Sylvia pegou uma maça e deu uma mordida violenta. Encarou Evelyn e Alice. Comentou:

– Eu não posso aceitar tudo o que me dizem. Assim não vale, queridas.

Deu um sorriso cínico e se retirou da copa exalando superioridade. Mais tarde, após sair da empresa, Lisandra foi encontrar Fábio, conhecido como o arquiteto dos famosos (atualmente passava por uma crises financeiras e a cada dia fumava com mais frequência). Os dois tinham várias coisas em comum. Inclusive a ambição. Se cumprimentaram (ela como de costume, seduzindo discretamente). Se acomodaram à mesa (a lanchonete, local do encontro, era nova naquele bairro nobre).

– Gostei do ambiente, Lisandra – disse Fábio. – Excelente gosto. Até me lembro da última viagem que fiz. Europa, Europa, Europa. Saudades!

– Nem me fale. O meu sonho é conhecer a Europa – comentou Lisandra com uma voz meiga e perigosa.

Fábio segurou na mão dela. Perguntou:

– Vai comigo?

– Eu não sei – respondeu Lisandra, buscando se fingir de difícil.

– A minha mulher sabe que eu sou homem e tenho a liberdade como uma grande aliada. Entende? Sem medo. Por favor!

– Mas…

– Relaxa, bonita – pediu o arquiteto com esperteza e outras intenções. – Se permita viver o inimaginável.

– Não faz isso, Fábio. Eu não posso me envolver assim.

– Pode sim. Deixa o moralismo de lado. Somos apenas humanos. Não se cobre tanto. Nunca vamos atingir a perfeição. Viva. Me beija, se quiser também.

– Não, não, não…

– Poxa! Pensei que você queria algo a mais.

– Sim. Eu quero.

– Então? – indagou Fábio.

– Aqui nós vamos conversar – disse Lisandra.

– Só conversar? Certo. E depois? Um motelzinho bacana? Não vai se fingir de ofendida.

– Eu me sinto um pouco – argumentou Lisandra com seriedade.

– Sem teatro – disse o arquiteto meio desconfiado. – Vamos falar apenas verdades. Você quer grana e e eu sexo.

– Não.

– Melhor ainda. Porque é pelo prazer. Sabe? Eu não trabalho mais como antes. Na verdade, a situação mudou bastante. Falta de dinheiro. Logo eu que era um dos arquitetos mais badalados do país. Agora tudo ficou diferente.

– Diferente como? – perguntou Lisandra, o olhar vivo, decepcionada com o que estava supondo.

• Para comprar a continuação do Capítulo 1, mandar mensagem para (69) 99367-8443

• Compartilhe este texto e comente.

FONTE: FOLHA RONDONIENSE –  AUTOR SILVIO PERSIVO

Comentar

COMPARTILHE

TV FOLHA AO VIVO – COPINHA FEMININA 2024 – Corinthians x Cruzeiro

ESPAÇO EMPRESARIAL

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

CONTEÚDO PAGO / PATROCINADO

BAIXE NOSSO APLICATIVO

COLUNISTAS

RESENHA POLITICA

TEIA DIGITAL

ENTREVISTA

RONDÔNIA

AMAZÔNIA / REGIÃO NORTE

RELIGIÃO

PUBLICIDADE

WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
pt_BRPortuguese
Powered by TranslatePress