Promotores envolvidos na investigação das denúncias de agressão e abuso sexual contra os Arautos do Evangelho se reuniram para definir um plano de atuação para todo o estado de São Paulo. Como há instalações do grupo em outros estados, também será analisada a necessidade de atuação do Ministério Público Federal. O grupo é alvo de denúncias de internação forçada e até porte de armas. Reportagens da CBN que foram ao ar nas últimas duas semanas mostram acusações de antigos integrantes da instituição.
Além da promotora Danielle Maciel da Silva, de Caieiras, na Grande São Paulo, onde ficam dois castelos dos arautos do Evangelho, outros oito promotores participaram de uma reunião nesta quinta-feira, no Ministério Público da capital.
Também foram chamadas duas psicólogas e uma assistente social, responsáveis por vistorias feitas nas unidades masculina e feminina da entidade
Um relatório produzido após a visita aponta questões como o afastamento de crianças e adolescentes dos pais e conteúdo pedagógico inapropriado, utilizado nos colégios do grupo, reconhecido pela igreja católica.
Sem gravar entrevista, um dos participantes da reunião disse que os promotores envolvidos são das áreas criminal, de infância e juventude e educação.
Mais de 40 relatos de ex-integrantes e familiares foram enviados há cerca de um ano à Promotoria de Caieiras, mas ninguém foi ouvido pelo MP até o momento.
A reunião definiu que algumas acusações serão tratadas de forma coletiva, como no caso de castigos físicos aplicados em sessões de penitência, quando internos chegam a ficar mais de duas horas de joelhos e com os braços em cruz.
Abusos como sessões de exorcismo, registradas em vídeo, deverão receber tratamento individual.
Uma das ex-internas ouvidas pela CBN nos últimos 15 dias contou que o afastamento da família é considerado uma virtude pelos Arautos do Evangelho e que isso é estimulado para que a criança ou adolescente não queira visitar os pais.
As sessões de exorcismo, segundo ela, são determinadas, por exemplo, por problemas de saúde que deveriam ser tratados por médicos.
A ex-interna chegou a passar mal porque foi obrigada a tomar dois copos de azeite num único dia.
Tudo porque ficou sem voz e precisava de atendimento médico.
“A encarregada falou que uma pessoa sem voz não era útil para os Arautos (do Evangelho). Ela me mandou pra um exorcismo. Elas alegavam que eu estava assim porque tinha comido alguma coisa que minha mãe tinha feito contra mim. Eu tava mais que sã que todo mundo que tava ali ao meu redor. Aí, eu entrei na sala, o padre tava lá, começou a rezar em cima de mim, deu azeite pra eu beber. Uns quatro dedos de (um copo de) azeite. Eu comecei a passar mal depois, por causa do azeite com certeza. E aí, a encarregada começou a achar que o demônio tava se manifestando depois e eu passei por uma segunda sessão (de exorcismo) no mesmo dia, de noite. E aí, eu tomei mais azeite e foi assim até o final do ano, muita humilhação.”
Os promotores que vão atuar nas investigações serão nomeados oficialmente nesta sexta-feira.
Também nesta sexta, o CONDEPE, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo vai protocolar no Ministério Público uma representação contra os Arautos do Evangelho, a partir de depoimentos de ex-integrantes da entidade ouvidos pelo órgão.
FONTE: CBN
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