Indígenas cobram justiça pela morte do líder Ari Uru-Eu-Wau-Wau; caso completou 1 ano
No Brasil e nos livros de história, 19 de Abril é conhecido como “Dia Do Índio”. Se para os povos originários do país a data não é motivo de comemoração, para os Uru-Eu-Wau-Wau de Rondônia é ainda pior: nesta semana faz um ano que assassinaram o indígena Ari e o crime até hoje segue sem solução. Além de professor na aldeia, ele era integrante da Equipe de Vigilância do território, grupo que protege a reserva contra todo tipo de crimes e invasões, principalmente de madeireiros, grileiros e garimpeiros.
De acordo com o boletim de ocorrência, Ari foi morto durante a noite de 17 de abril e o corpo encontrado na manhã seguinte. Ele foi espancado até a morte e o corpo abandonado em uma estrada de terra próxima ao município de Tarilândia.
“Ele morreu por defender a Amazônia”, denuncia a ativista ambiental e indigenista Ivaneide Bandeira da Associação Kaninde, que atua desde a década de 80 há mais em projetos com várias etnias incluindo os Uru-Eu-Wau-Wau. Neidinha como é conhecida conhecia Ari desde que ele nasceu.
Segundo o advogado Ramires Andrade, que acompanha o caso, a investigação foi iniciada pela Polícia Civil e seria repassada para a PF, mas essa mudança ainda depende de decisão da Justiça Federal em Porto Velho. Enquanto isso, tudo segue parado e ninguém foi preso. Ari Uru-Eu-Wau-Wau tinha 34 anos, deixou uma esposa, dois filhos e todo um povo que chora e sofre – pelo crime, pela impunidade e pela lentidão da justiça brasileira.
Para que esse caso não seja esquecido nem repetido, parentes e amigos da vítima vão protestar pacificamente e cumprindo os protocolos de segurança nesta segunda-feira, dia 19 de Abril, a partir das 10h em frente ao Tribunal Regional Federal em Porto Velho.
Além desta ação, vários outdoors foram espalhados em todo o Estado de Rondônia com a pergunta: Quem matou Ari Uru-Eu-Wau-Wau? Um material também em vídeo produzido pela equipe de audiovisual Uru-Eu-Wau-Wau, da qual Ari também era integrante por fazer parte do subgrupo Jupau, traz depoimentos de parentes e amigos do indígena querendo respostas para o crime.
Por esse e outros motivos, cada vez mais para os indígenas essa data, fica restrita aos livros de história porque na pratica ganhou outra finalidade que fica bem longe de celebração ou comemoração. Virou símbolo de resistência e luta pelo reconhecimento dos direitos dos povos indígenas.
Hoje no Brasil, existem várias lideranças importantes entre os povos indígenas. Uma delas é o cacique Almir Surui, que já percorreu o mundo na defesa de projetos que ajudem a garantir os direitos dos povos indígenas, em especial da Amazônia, que ainda concentra a maior população indígena do pais.
“O mês de abril, não pode ser comemorado, eu sempre falo isso. É um mês de lutas. Muitos parentes vem morrendo para defender a Amazônia. Foi assim no passado e continua assim no presente. Eu já fui ameaçado, tive que ficar com escolta federal durante muito tempo. Num passado não muito distante, a ganância humana fez com que muitas tribos fossem totalmente dizimadas e grande parte da cultura indígena fosse esquecida, mas nós precisamos retomar o nossa cultura, nosso território, que é de direito dos povos indígenas”, explica um dos líderes indígenas mais conhecidos no mundo hoje.
O cacique também aposta na juventude indígena de Rondônia “eles vem fazendo um belíssimo trabalho com apoio da Associação Kanindé e outras ONGS com a distribuição de máscaras, álcool gel e cestas básicas nas aldeias durante o período mais crítico da pandemia.
No Brasil, historicamente, a data 19 de abril, foi oficializada através do Decreto-lei nº 5.540, de 2 de junho de 1943, e tem como objetivo mostrar à população brasileira o quanto o povo indígena contribuiu para a sua formação e assim diminuir o que esses povos chamam de invisibilidade indígena.
AUTOR: Andréia Fortini / FONTE: PORTAL DA CIDADE
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