Ahmed Naser al-Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, é o novo presidente do órgão internacional de cooperação policial. Organizações de direitos humanos alertaram contra eleição de acusado de tortura e prisões arbitrárias.
O general Ahmed Naser al-Raisi, dos Emirados Árabes Unidos, que é acusado de estar envolvido em torturas e prisões arbitrárias, foi eleito nesta quinta-feira (25/11) presidente da Interpol, durante a assembleia-geral anual do organismo internacional de cooperação policial, em Istambul.
Os estatutos da Interpol concedem ao presidente um papel sobretudo honorífico, e o real responsável é o secretário-geral, Jürgen Stock, que foi reeleito em 2019 para um segundo mandato de cinco anos.
Outro candidato polêmico, Hu Binchen, do Ministério da Segurança Pública da China, foi eleito para o comitê executivo. Ele teve o apoio da China, que é acusada de usar a Interpol para perseguir dissidentes exilados.
Alertas contra a candidatura
Várias organizações de defesa dos direitos humanos, entre elas a Human Rights Watch, e legisladores europeus haviam alertado contra a candidatura de Al-Raisi por considerar que ela afeta a missão da Interpol.
Eles afirmam que o general é um dos responsáveis policiais máximos dos Emirados Árabes Unidos, um país que usa métodos repressivos contra dissidentes políticos.
O ex-procurador inglês David Calvert-Smith publicou em abril um relatório afirmando que Al-Raisi “coordenou o aumento da repressão contra os dissidentes” através de práticas de tortura e de abusos do sistema judicial dos Emirados Árabes Unidos.
Três eurodeputados, entre eles a presidente da subcomissão de Direitos Humanos, Marie Arena, alertaram a Comissão Europeia de que a eleição de Al-Raisi afetaria a missão e a reputação da Interpol.
“Não é um bom sinal”
O parlamentar alemão Peter Heidi, do Partido Liberal Democrático (FDP), declarou à DW que a eleição de Al-Raisi “não é um bom sinal para a Interpol”.
Ele disse haver temores de que a sede da Interpol seja deslocada da França para Abu Dhabi. “Sabemos que a Interpol necessita de dinheiro, e os Emirados Árabes Unidos deram dinheiro à Interpol e vão continuar fazendo isso. Eu acho que seria melhor se a Interpol recebesse dinheiro de todos os países-membros e não necessitasse de dinheiro de outros países, como um presente”, comentou.
Acusações de tortura
Al-Raisi é acusado de tortura e é alvo de processos criminais em cinco países, incluindo a França, onde fica a sede da Interpol, e a Turquia, onde foi realizada a eleição.
Advogados de dois cidadãos britânicos apresentaram uma denúncia formal contra Al-Raisi por tortura. Um deles, o estudante de doutorado Matthew Hedges, que chegou a ser condenado à prisão perpétua nos Emirados Árabes Unidos, acusado de espionagem, foi indultado e libertado há três anos.
O outro é Ali Issa Ahmad, que acusa as autoridades de segurança dos Emirados Árabes Unidos de tortura durante um torneio de futebol, em 2019.
A organização Centro de Direitos Humanos para o Golfo interpôs uma denúncia contra Al-Raisi na França, país onde se encontra a sede da Interpol, em Lyon, alegando que o ativista político Ahmed Mansur foi alvo de torturas nos Emirados Árabes Unidos.
Um escritório de advogados turco apresentou uma denúncia à procuradoria da Turquia contra o general por torturas a Mansur.
Al-Raisi concorria ao cargo contra a candidata da República Tcheca, Sárka Havránková, que havia se apresentado com a promessa de “adequar o trabalho da Interpol ao espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
O presidente da Interpol, eleito para quatro anos, exerce suas funções em tempo parcial e de forma não remunerada, o que ele faz a partir de seu país de origem.
FONTE: AGÊNCIA LUSA, EFE, ASSOCIATED PRESS, AFP, DEUCHE WELLE
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