FILOSOFANDO
“Toda pessoa, enquanto indivíduo é toleravelmente sensata e razoável. Mas, como membro de uma multidão, torna-se imediatamente uma idiota”.Friedrich Von Schiller (1759/1805), escritor alemão.
COITADOS?
Fui apossado de dois sentimentos diante da informação sobre a prisão do ex-deputado estadual Evanildo Abreu, ocorrida no último dia 29, pela Polícia Rodoviário Federal durante uma abordagem de rotina realizada em Ariquemes.
O primeiro sentimento foi de tristeza. Afinal, não nego, tinha pelo coronel reformada da PM rondoniense uma admiração, uma verdadeira amizade. Mas também tive um sentimento de alívio. Afinal, nesse cenário onde imperou por tantos anos a impunidade para quem cometeu crimes contra o erário, ver o cumprimento da prisão de quem foi condenado por meter a mão no dinheiro público, provoca alívio e alimenta a esperança no fim da impunidade. O crime não pode valer a pena, não pode compensar se pretendemos uma sociedade mais democrática, mais avançada.
Gente como o coronel e ex-deputado Evanildo Abreu não pode ser tratado como coitadinho. Ele não entrou na roubalheira comprovada em investigações na Assembléia por ingenuidade. Abreu, um homem cordato e prestativo teve cargos importantes, prestou serviços ao povo (até de caráter humanitário) antes de ser seduzido pela facilidade de enriquecer-se surrupiando o dinheiro do cidadão-contribuinte-eleitor. Foi por isso que acabou condenado, foi por isso que está preso.
QUADRILHA CONDENADA
O fato ocorreu quando esse escriba esta de férias no nordeste. Daí, só agora me manifesto sobre o assunto, atendendo apelos de leitores da coluna. Fiquei, como cidadão, convencido da independência e coragem do Judiciário rondoniense com a sentença exarada pelo Juiz de Direito Edvino Preczevski, da 2ª Vara Criminal de Porto Velho. Com a sentença a sociedade ganha motivos para incluir o nome do dr. Edvino no mesmo panteão onde estão outros paladinos, como o Juiz Sérgio Moro. Na Justiça do Estado rondoniense, magistrados demonstram ter a coragem cívica de tratar criminosos de colarinho brancos como bandidos e não como pessoas que apenas cometeram simples deslizes.
A decisão da Justiça revelou como homens escolhidos pelo eleitorado para representar os interesses da população na Assembleia Legislativa transformaram o poder do povo num antro de bandoleiros, de ladrões. Eles aproveitaram-se da alienação de boa parte do eleitorado para entrar no parlamente apenas objetivando enriquecimento ilícito, através dos mais nefandos esquemas e escândalos, como foi o da “Folha Paralela”.
Foi nesse esquema que o coronel Abreu (que já tinha desempenhado vários cargos importantes no governo) atuou quando ganhou o mandato de deputado estadual.
BUCANEIROS
Agora, pela sentença do magistrado, não há como negar: a quadrilha tinha um chefe, o ex-presidente da Assembleia, Carlão de Oliveira, pai do ainda deputado Jean de Oliveira.
Nereu José Klosinski, Renato Euclides Carvalho Velloso Viana, João Ricardo Gerólomo de Mendonça, Daniel Neri de Oliveira, Haroldo Franklim de Carvalho Augusto dos Santos, Marcos Antonio Donadon, Carlos Henrique Bueno da Silva, Edézio Martelli, Neodi Carlos Francisco de Oliveira, Alberto Ivair Rogoski Horny, Everton Leoni, Terezinha Esterlita Grandi Marsaro, Evanildo de Abreu, João Batista dos Santos, Francisco Izidro, Ronilton Rodrigues Reis, Francisco Leudo Buriti, Daniel Neri, Edison Gazoni, Desdeute Antonio Alves e Moisés de Oliveira são os integrantes dessa bandidagem sentenciados pelo Juiz Edvino.
COLABORADORES
Enquanto a Justiça cumpre sua responsabilidade de combater a corrupção punindo ladrões acostumados a usar a política para perpetrar seus golpes, a população ainda age tolerantemente, colaborando até com o seu voto para a proliferação do candidato bandido, mal intencionado e praticante de corrupção. Em outras palavras: ninguém é inocente.
Certamente a condenação de figuras amplamente conhecidas, como é o caso (só para exemplificar) do ex-deputado Everton Leoni, hoje poderoso dono de complexo de comunicação deveria no mínimo alimentar a pauta da imprensa, principalmente no segmento das redes sociais. E em Rondônia isso não acontece. O assunto explosivo é jogado no esquecimento, não aparece mais nas manchetes. É o complô do silêncio colaborando com o caos regrado à corrupção que continua presente nos nichos de poder do estado.
SEM PERCEBER
Muitas vezes a maneira estrábica de ver a política acaba anestesiando toda uma comunidade que, sem perceber, fica refém de esquemas de corrupção, votando em candidatos ligados às práticas nefandas sem perceber o mal que fazem contra sua cidade, seu estado, contra a democracia.
Como alguém que abomina a corrupção pode dar o voto a candidatos pertencentes à famílias notoriamente envolvidas com práticas delituosos, com o roubo do dinheiro público, mesmo quando alguns de seus membros são condenados e presos?
Como esperar que a pressão das ruas contribuirá para tirar os bandidos da vida pública se, me informam agora, em Vilhena o clã Donadon tem amplas chances de voltar ao comando da prefeitura? E, pasmem, na capital os petralhas apostam na eleição de pelo menos três vereadores graças aos cidadãos-contribuintes-eleitores dispostos a vota de novo no tal prefeito Ali Babá…
A FILA
Está de parabéns a Polícia Rodoviária Federal com a prisão do ex-deputado Evanildo Abreu. Mas a fila precisa andar. Não pode ficar apenas no antigo coronel que comandou a PM rondoniense. É preciso se esforçar para colocar na cadeia o chefe da quadrilha, foragido desde o momento em que se expediu o mandado de prisão.
A imprensa tem de manter na pauta esse assunto do interesse popular que não deve cair no esquecimento. Não é possível que o jornalismo rondoniense (especialmente o das grandes redes) não investigue e divulgue por onde andam os ladrões do dinheiro público. Não é pedir muito embora nada deva acontecer pois esse jornalismo é feito para escamotear informações vergonhosamente, a ponto de não revelar nem mesmo por onde anda Natanael Silva depois de sua prisão em Goiás.
CINISMO
Os últimos frutos saídos das urnas nos pleitos anteriores são atestados vivos de como o cinismo da sociedade ajuda a manutenção de castas corruptas na vida pública do estado, influenciando como nunca os mais fechados nichos do poder.
A eleição dos filhos dos chefes das quadrilhas é o meio pelo qual as “famiglias” mafiosas são mantidas no gozo da riqueza e do conforto oriundas dos saques e dos rombos provocados no erário. E engraçado é perceber que esses enriquecidos pelas fraudes acabam sendo mantidos na vida pública exatamente pelos votos dos mais oprimidos, mais pobres e menos escolarizados.
Se não se aproveitar a eleição desse ano para melhorar o nível da representação popular e da gestão pública nos municípios mais sacrifícios serão impostos ao povo que já sofre o diabo com o desemprego, com a falta de oportunidades e serviços públicos de qualidade
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