Brasil

Entre as mulheres, 51% ainda estão sem candidato a presidente

Quase 40 milhões de eleitoras estão indecisas ou pretendem votar em branco ou nulo

A duas semanas do primeiro turno, o número de mulheres sem candidato a presidente é elevado: na pesquisa Datafolha da última quinta-feira, ao responder de forma espontânea à pergunta “em quem você vai votar?”, 51% delas afirmaram ainda não saber (38%) ou pretender votar nulo ou branco (13%), o que corresponde a 39,4 milhões de eleitoras. Na ponta do lápis, para cada homem sem candidato, há duas mulheres na mesma situação. A pedido do GLOBO, o Datafolha mapeou seu perfil socioeconômico. O resultado revela que 45,3% moram no Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos por mês.

Este grupo, que totaliza 27% de todo o eleitorado, pode definir quais candidatos irão para o segundo turno, o que vai exigir dos postulantes à Presidência esforço redobrado para conquistar sua confiança na reta final. Na avaliação de cientistas políticos, os dados detalhados da pesquisa refletem a frustração com os políticos e o pragmatismo do eleitorado feminino de baixa renda, que ainda não conseguiu identificar entre os candidatos uma resposta a seus anseios.

DECISÃO PERTO DO VOTO

Tradicionalmente, o eleitorado feminino costuma decidir seu voto mais perto do dia da votação, na comparação com os homens. A mesma pesquisa espontânea do Datafolha que apontou percentual de 51% das eleitoras indecisas ou que votarão branco ou nulo, revelou que, entre os homens, o índice era de 29% (20,2 milhões). Em junho, esse percentual era de 80% entre as eleitoras e 58% entre o público masculino.

— É um dado que certamente será observado pelos candidatos e deve orientar discursos de quem busca os indecisos. Há uma enorme concentração nas mulheres de faixa de renda mais baixa, para as quais pesam questões práticas da vida, ainda mais num momento de crise econômica. O preço do gás de cozinha, a creche para os filhos, o endividamento pessoal… — analisa o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Quanto menor a renda, é maior o número de mulheres que não indicaram um nome na pesquisa espontânea do Datafolha. Do total de mulheres indecisas ou que votarão branco ou nulo, 87% têm renda mensal de até cinco salários mínimos. São poucas as que ganham entre cinco e dez salários (4,6%) e menos ainda as que estão na maior faixa de renda, com ganho mensal superior a dez mínimos (1,6%).

Na radiografia por região, o Nordeste vem em segundo lugar (26,4%), acima da região Sul (14,2%), e das regiões menos populosas, Norte (7,6%) e Centro-Oeste (6,3%). Se observado o grau de urbanização das cidades onde as “sem voto” estão, a pesquisa indica que 60% estão no interior e 40% nas capitais e outros municípios de regiões metropolitanas. Um sinal, para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG, de que o discurso dos candidatos não chega às cidades pequenas e médias, onde ainda impera a desinformação.

A auxiliar de loja Ana Carolina Pinheiro, de 24 anos e moradora do Rio, é uma das indecisas. Conta que não vê nos candidatos boas propostas, principalmente para a educação. Ela descarta anular o voto. Já sua namorada, Raiane Meireles, que está desempregada, decidiu que não vai votar em ninguém.

— Não quero ter peso na consciência depois. Já tive isso no passado. Ninguém mereceu meu voto.

Para o cientista político Carlos Pereira, da FGV-Rio, a falta de identificação dessas mulheres com Jair Bolsonaro, candidato do PSL, contribui para o elevado número de indecisas.

— Há uma barreira grande para que (muitas mulheres) votem em Bolsonaro. Por isso, preferem esperar até o último minuto para se decidir — avalia Pereira, embora Bolsonaro cresça neste segmento.

Questões relacionadas às mulheres e como elas se relacionam com o candidato líder nas pesquisas voltaram a ganhar protagonismo nos últimos dias. Semana passada, o general da reserva Hamilton Mourão, vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, causou polêmica ao afirmar que o Brasil vivia uma crise de valores e que famílias nas quais não há pai ou avô, “são fábricas de elementos desajustados”.

BOLSONARO DIVIDE OPINIÕES

A declaração provocou forte reação de candidatas à Presidência ou vice-presidência, como Marina Silva (Rede) e Kátia Abreu (PDT), e levou Bolsonaro a enquadrar o vice. O tema também foi explorado em redes sociais pelos que declaram abertamente votar contra o capitão. Ainda assim, a pesquisa Datafolha apontou a migração de parte dos votos de mulheres que se declaravam indecisas em junho para o candidato do PSL.

Há três meses, 6% das mulheres diziam que votariam em Bolsonaro, considerando a pesquisa espontânea. Semana passada, o candidato aparecia como o preferido de 16% das brasileiras, no topo da lista. Fernando Haddad (PT), que sequer aparecia na pesquisa espontânea em junho — a candidatura de Lula ainda não havia sido impugnada — ficou em segundo lugar na preferência feminina semana passada, com 9% das intenções de voto. Os demais candidatos não passaram de 6% na preferência do eleitorado feminino na edição mais recente da pesquisa.

Fábio Wanderley Reis, da UFMG, diz que não é possível falar em polarização neste caso, pois os percentuais de Bolsonaro e Haddad são muito baixos no total. Mas tanto na vida real como nas redes sociais, a candidatura de Bolsonaro desperta discussões acalorados. Divide, por exemplo, as irmãs Juliane Oliveira, de 29 anos, e Nara Reis, de 20. Juliane diz concordar com 90% do que ele fala, embora se preocupe com os 10% restantes, incluindo as posições machistas. Nara quer votar em quem acredita ter chance de vencê-lo no segundo turno.

— Não decidi ainda. Tendo a votar no Ciro (Gomes, candidato do PDT), mas a Marina está nas minhas pesquisas.

Nas redes sociais, o grupo Mulheres Unidas contra Bolsonaro, que reúne mais de 2 milhões de seguidores no Facebook, é uma das vozes mais ativas contra o capitão. Há dez dias, a página foi alvo de hackers. Para a professora baiana Maíra Motta, uma das administradoras do grupo, o crescimento recente de Bolsonaro entre o público feminino é difícil de compreender:

— Só sei que não vão me calar — diz Maíra.

Em resposta ao grupo da professora baiana, foi criado o Mulheres com Bolsonaro, que tem 886 mil seguidores, segundo o Facebook — as administradoras dizem que são 1,5 milhão e que houve uma explosão de participantes nas duas últimas semanas. Maria Adriele Oliveira, uma das administradoras, explica o que move essas eleitoras:

— Há anos a esquerda preside o país com as mesmas propostas. Bolsonaro representa a revolta da população contra esses governantes.

FONTE: O GLOBO

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