Os candidatos à Presidência Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) trocaram acusações de nepotismo no debate promovido pela TV SBT, o portal UOL e a rádio JovemPan na noite desta quinta-feira (16). Foi o encontro mais tenso entre eles desde o início da atual campanha eleitoral, em um reflexo da polarização e da radicalização expressa pelas pesquisas de intenção de voto. O encontro foi permeado por insinuações de desvios éticos e morais e denúncias de corrupção envolvendo gestões tucanas e petistas. Temas relativos ao governo federal e a propostas para áreas como educação, saúde e infraestrutura ficaram em segundo plano.
Aécio apresentou uma postura mais incisiva do que a adotada em debates anteriores. Logo em sua primeira pergunta, ele evocou o tema dos escândalos na Petrobrás. Dilma respondeu citando investigações que tiveram ou têm gestões tucanas como alvo para afirmar que o PSDB não puniu eventuais culpados por desvios éticos ou por crimes. Em sua tréplica, dessa vez, diferentemente do debate anterior na TV Band, o candidato do PSDB foi mais incisivo ao rebater a acusação: “Não existe, me perdoe, uma terceira alternativa. Ou a senhora foi conivente ou falhou na administração da Petrobras”, afirmou ele.
Dilma insistiu em seu argumento: “Candidato é estarrecedor que o senhor acha que essas pessoas que não foram condenadas em nenhum desses processos são inocentes. É diferente, elas não foram investigadas”. Aécio respondeu, outra vez, acusando a adversária. “Eu vou deixar aqui uma indagação. Se a senhora acha que houve tantos crimes no governo do PSDB, por que a senhora não investigou no seu governo? A senhora prevaricou!”
O tema corrupção deu lugar ao nepotismo, ainda no primeiro bloco. “Eu não tenho parentes no governo, e o senhor?”, questionou Dilma. “Eu não queria chegar a este ponto. Igor Rousseff, seu irmão, foi nomeado pelo (então prefeito de Belo Horizonte) Fernando Pimentel (PT) e nunca apareceu para trabalhar. A minha irmã (Andrea Neves) trabalha muito e não recebe nada. O seu irmão recebe e não trabalha. A senhora diz que não nomeia parentes, mas a senhora pede para seus aliados nomearem”, respondeu Aécio. Igor Rousseff, irmão mais velho de Dilma, foi nomeado assessor especial da Prefeitura de Belo Horizonte na gestão de Pimentel (2003-2008), que é amigo da família Rousseff e acabou de ser eleito governador. Ele foi exonerado no final da gestão.
Não demorou e os escândalos voltaram à pauta, dessa vez, no questionamento de Dilma. “Há pouco, saiu uma notícia que diz que o ex-diretor (Paulo Roberto Costa) da Petrobras afirmou ao MP (Ministério Público) que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em março desse ano) recebeu propina para esvaziar uma CPI da Petrobras. É muito fácil o senhor ficar aqui fazendo denúncias. O que importa? Importa é investigar. Importa saber como recebeu, quando recebeu e pra quem distribuiu”, afirmou a presidente. “É uma diferença imensa entre nós dois. A investigação tem de ser feita a qualquer partido, sem defender. Pela primeira vez a senhora dá importância às denúncias da Petrobras. Porém, parte do dinheiro ia para o tesoureiro do seu partido (João Vaccari) e ele não foi afastado. Se a senhora não tem receio em ir a fundo, por que o seu partido e aliados impediram o Vaccari de ir dar explicações na CPI? Ele é o tesoureiro do seu partido e responsável pela verba de sua campanha. Todos os investigados devem ser punidos”, respondeu Aécio.
Por breve momento, os candidatos ensaiaram uma discussão sobre o tema segurança, mas não demorou e questões de âmbito pessoal voltaram à pauta. Dilma questionou Aécio sobre a posição dele sobre a Lei Seca. Em 2011, interceptado por um blitz no Rio de Janeiro, Aécio se recusou a fazer o teste do bafômetro, mas Dilma não citou o episódio em sua pergunta. O candidato do PSDB foi direto ao ponto: “Tenha coragem de fazer a pergunta direta. É claro que é uma iniciativa extraordinária. A senhora tenta deturpar um assunto que deve ser lidado com maior clareza. Eu tive um episódio sim, em que me recusei a fazer o teste do bafômetro. Minha carteira estava vencida. Eu me arrependi, diferente da senhora que não se arrepende de nada. Vamos falar de coisa séria, de como melhorar a vida das pessoas. Não é possível que a senhora queira fazer a campanha mais suja que já se viu. Quando a senhora ofende a mim, ofende a minha família, a senhora ofende todos os brasileiros que querem mudança”, afirmou.
Nas considerações finais, Dilma tentou colocar uma agenda positiva. “Reeleita, quero garantir a todos os brasileiros educação de qualidade, saúde de qualidade e quero manter esta trajetória de distribuição de renda que melhora a vida do brasileiro”, disse ela. Aécio aproveitou a despedida para novamente fustigar a adversária. “O Brasil não pode viver mais quatro anos de desgoverno, quero assumir a Presidência para enfrentar a criminalidade, e não transferir a responsabilidade aos Estados e Municípios; quero enfrentar a inflação, e não apenas me conformar com ela. Quero ser um presidente para que amanhã, se eventualmente estiver em outra disputa, possibilitar os candidatos opositores apresentar as suas propostas. A senhora ou quem quer que esteja receberá um olhar altivo e não calúnias para destruir o opositor a qualquer custo”, afirmou.
Após o término do debate, a presidente Dilma sentou-se e recebeu um suco de uma assessora. Ela alegou que estava se sentindo mal e interrompeu a entrevista que concedia ao SBT. Em seguida, disse estar recuperada e pediu para concluir a entrevista.
Dois debates ainda vão ocorrer até a votação do segundo turno. O último deles é o da TV Globo, no dia 24.
Fonte: Época
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