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Eleições na Itália acirram divisão entre esquerda e fascismo no país

Votação deste domingo (4) coloca frente a frente dois extremos, que remetem aos Anos de Chumbo vividos pelo país

Um senhor italiano, de 85 anos, morador do Brasil, viajava recentemente para Roma ao lado do filho, de 45. Na alfândega, antes de passar pelo detector, os agentes desconfiaram da aparência do homem de meia idade. E não se convernceram com o questionário. Ordenaram que ele entrasse na salinha, para revistas.

O pai, então, interpelou do alto de sua idade avançada. “O que estão fazendo?”. Os policiais responderam com dureza, olhando o passaporte do idoso, que deixara a Itália havia anos. “O senhor é um traidor, deixou a Itália”.

Irritado, ele respondeu: “Fugi da perseguição do fascismo”. Imediatamente o agente olhou feio para o senhor, sentindo-se ofendido com a resposta.

A cena revela muito do que está passando a Itália neste momento, de crise migratória e econômica. O país se prepara para as eleições deste domingo (4), sob a ameaça da retomada desta força de direita, o fascismo, fazendo até algumas pessoas identificarem esse movimento como um símbolo do país.

No pleito, os partidos CasaPound, Força Nova e o FDI (união do Força Itália, do inelegível Silvio Berlusconi, e da Liga Norte), fundado em 2013, admitem abertamente, tentando inclusive angariar votos com isso, a identidade fascista, na batida denominação de neofascismo, com posições racistas e xenófobas.

Mas a disputa está acirrada, equilibrando-se em um vácuo ideológico sem meio-termo. Do outro lado, está o esquerdista Movimento 5 Estrelas, com 28% dos votos nas pesquisas, despontando inclusive com certo favoritismo para desbancar as forças da ultradireita. Manifestações se espalham pelo país, organizadas por ambas as vertentes.

O clima remete aos tempos dos anos de chumbo na Itália. Naqueles anos 60, 70 e 80, divisões extremadas entre a direita e a esquerda levaram o país a um período de terror, com ataques realizados por radicais de ambos os lados. Simpatizantes do direitista MSI (Movimento Social Italiano) combatiam membros de grupos como as Brigadas Vermelhas.

Aquele momento está reverberando hoje com violência em alguns locais do país. A morte de Pamela Mastropietro,  de 18 anos, encontrada desmembrada na cidade de Pollenza, centro, do país, foi o gatilho para mais um capítulo da crise. Um nigeriano foi investigado como suspeito, gerando um clima de ódio contra refugiados, com o radical de direita Luca Traini atirando em seis imigrantes negros, que ficaram feridos, em Macerata.

As eleições, as primeiras desde 2013, foram convocadas após a dissolução do parlamento em dezembro de 2017, quando o então primeiro-ministro, Paolo Gentiloni, não teve votos suficientes para aprovar lei que mudava regras de cidadania na Itália. Pelo texto rejeitado, crianças filhas de estrangeiros, nascidas na Itália, poderiam ter acesso à cidadania italiana.

A votação deste domingo deverá estabelecer o 18º governo da era republicana na Itália. Mesmo desgastado, o PD (Partido Democrático), de centro-esquerda, dos ex-primeiros-ministros Gentiloni e Matteo Renzi, ainda é o maior favorito para retomar a condução do governo.

Isto porque o Movimento 5 Estrelas, antissistema e liderado por Luigi di Maio, mesmo recebendo muitos votos, principalmente vindos do sul mais pobre, deverá ter dificuldades para formar uma coalizão de maioria parlamentar.

De qualquer maneira, mais do que a unificação do parlamento, o vencedor terá o desafio de tentar unificar o país. Tal como fizeram Giuseppe Garibaldi e o Conde de Cavour no fim do século 19. E, se não for fascista, o vitorioso precisará de muita habilidade para driblar olhares enviesados de alguns policiais na alfândega – símbolos do pensamento de parte da população – que cada vez mais associam a Itália à “ordem imposta pelo ex-ditador Mussolini”. O resto para eles, mesmo que perseguido, é traidor.

FONTE: R7.COM

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Gomes Oliveira

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