Cidades

Economia encolheu 3,8% em 2015, pior resultado desde 1990

É a primeira retração do PIB desde 2009. Frente ao 4º tri de 2014, queda foi de 5,9%

RIO – A atividade econômica brasileira encolheu 3,8% em 2015. Esta é a queda mais forte do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) registrada pelo IBGE desde 1990, quando a economia encolheu 4,3%. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 5,9 trilhões no ano passado. Já o PIB per capita ficou em R$ 28.876, o que representa uma queda de 4,6% frente ao ano anterior. O último resultado negativo havia sido registrado em 2009 (-0,1%), no auge da crise econômica mundial. Em 2014, o PIB teve leve alta de 0,1%.

Frente aos três meses imediatamente anteriores, o PIB do quarto trimestre recuou 1,4%. Na comparação com igual período de 2014, o resultado foi ainda pior: uma queda de 5,9%, a mais acentuada da série iniciada em 1996.

— É a menor taxa da série atual, que começa em 1996. Na série mais antiga, é a menor taxa desde 1990, quando o PIB caiu 4,3%. A metolodogia é distinta, mas o número foi calculado com os dados disponíveis na época e é o crescimento oficial do país — explica a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

O resultado, no entanto, não surpreendeu. A mediana das análises de economistas compiladas pela Bloomberg apontava uma queda de 3,9%, enquanto o último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, indicava queda em patamar semelhante, de 3,8%. O índice atividade econômica do BC, o IBC-Br, divulgado pela autoridade monetária em meados de fevereiro e que serve de termômetro para o PIB, recuou 4,1% no ano passado e foi o mais baixo da série histórica, iniciada há 13 anos.

EVOLUÇÃO ANUAL DO PIB

Variação em 2015 foi a pior desde 1990 (dado em %)

7,5

5,9

4,4

4,2

3,2

0,1

-3,8

-4,3

Fonte: IBGE

Entre os três setores da economia, só a agricultura teve resultado positivo, com alta de 1,8% frente a 2014. A indústria registrou a pior queda, de 6,2%. Já os serviços, que têm o maior peso na economia, recuaram 2,7% no ano passado.

A demanda doméstica brasileira, que incluiu consumo das famílias, do governo, os investimentos e tudo que foi importado descontando o que foi exportado, caiu bem mais que o PIB. A queda foi de 6,5%. É primeira redução desde 2000 pelo menos, segundo o IBGE. Nem em 2009, quando o Brasil entrou em recessão, o país tinha reduzido sua demanda doméstica. O número mostra uma recessão mais profunda ainda.

  –  

A queda de 2,7% dos serviços é a primeira já registrada na série histórica do IBGE, que tem início em 1996. A atividade, que responde por 72% do PIB, vinha resistindo e ainda teve variação positiva em 2014, de 0,4%. Já o desempenho da indústria é o pior desde 2009, quando a economia brasileira sofreu os reflexos da crise financeira internacional e recuou 4,7%.

Segundo o IBGE, o desempenho positivo da agricultura está relacionado, principalmente, ao crescimento da produção de produtos como soja (11,9%) e milho (7,3%).

A indústria de transformação brasileira perdeu peso considerável na economia brasileira. Em 2015, respondia por 11,4% do PIB, um quarto abaixo da participação em 2000, de 15,3%. A indústria de transformação teve o pior desempenho desde 2009: a produção caiu 6,2%.

Na indústria, o maior tombo foi no segmento de transformação, que encolheu 9,7% frente ao ano anterior. O número foi influenciado pelo ano ruim para o setor automotivo, destacou o IBGE. Só a indústria extrativa se salvou, com crescimento anual de 4,9%.

Além da queda na produção no setor automotivo, a indústria de transformação foi influenciada por desempenhos negativos em outros dois segmentos: máquinas e equipamentos e alimentos e bebidas.

— A indústria teve a maior queda entre as atividades, puxada para baixo pela indústria de transformação em razão dos desempenhos ruins da indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, produtos eletrônicos, alimentos e bebidas, têxtil e vestuário e de produtos de metal — afirma Rebeca, do IBGE.

As duas atividades que realmente cresceram em 2015 foram a extrativa mineral e agropecuária.

— A extrativa mineral foi puxada pelos crescimentos da produção de minério de férreo e petróleo. Mesmo com queda na produção no quarto trimestre em razão do que ocorreu em Mariana (MG) e da greve dos petroleiros, a atividade fechou com crescimento de 4,9% no ano.

Rebeca destaca também que a queda de máquinas e equipamentos influencia diretamente a formação bruta de capital fixo (indicador de investimento) e que alimentos e bebidas não caíram tanto, mas têm um peso muito relevante na economia. Ela lembra que as perdas na indústria de alimentos estão relacionadas à mudança no consumo das famílias:

— Em épocas que você tem inflação mais alta, há substituição de produtos. É lógico que alimentos e bebidas nunca vai ter a mesma queda, mas vocêmarcelo3 pode fazer trocas por produtos mais baratos, o que acaba influenciando no volume também.

Já a queda dos serviços, de 2,7%, foi puxada principalmente pelo comércio, com recuo de 8,9%, e de transporte, armazenagem e correio, perda de 6,5%. Ambos os segmentos de serviços são muito ligados à indústria de transformação. No comércio, a maior influência foi o segmento atacadista, mas também houve recuo no varejo.

O ano de 2015 também foi marcado por recuo tanto na taxa de investimento quanto na taxa de poupança. A taxa de investimento ficou em 18,2% do PIB, abaixo dos 20,2% de 2014. Já a de poupança foi de 14,4%, ante 16,2% em 2014.

A formação bruta de capital fixo, que é o indicador de investimento, teve queda de 14,1% — a mais acentuada da série do IBGE. De acordo com o IBGE, esse recuo é justificado, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital, sendo influenciado, ainda, pelo desempenho negativo da construção. Em 2014, a formação bruta de capital fixo já havia registrado queda de 4,5%.

A queda na produção de máquinas e equipamentos foi o destaque negativo na retração dos investimentos em 2015. Com peso de 30,5% na formação bruta da capital fixo, o segmento caiu 26,5% frente a 2014. Peso para esse resultado também a demanda menor por caminhões, que são considerados investimentos.

— O setor automotivo influencia tanto os bens duráveis, afetando o consumo das famílias, mas parte dos produtos é considerada investimento, como no caso dos caminhões. Em 2015, o segmento também perdeu peso, de 35,5% para 30,% — destaca Rebeca.

Respondendo por 55,5% dos investimentos, a construção civil recuou 8,5% no ano passado.

CONSUMO DAS FAMÍLIAS CAIU 4%

A despesa de consumo das famílias caiu 4% em relação ao ano anterior,quando havia crescido 1,3%. É o maior recuo da série histórica, iniciada em 1996. Segundo o IBGE, o recuo pode ser explicado pela deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo de todo o ano de 2015. A despesa de consumo do governo caiu 1% – também desacelerando em relação a 2014, quando cresceu 1,2%.

— O consumo das famílias caiu devido a vários fatores, como deterioração dos indicadores de emprego e renda, queda em termos reais do crédito, aumento dos juros e da inflação — afirma Rebeca.

O saldo das operações de crédito teve crescimento nominal de 4,4% em 2015. Em termos reais, no entanto, houve queda. Só para se ter uma ideia, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015 foi e 10,67%. Já a Selic, taxa básica de juros, subiu, em média, de 10,9% em 2014 para 13,3% em 2015. Os juros encerraram 2014 em 11,75% e chegaram ao fim do no ano passado em 14,25%.

No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 6,1%, enquanto as importações de bens e serviços tiveram queda de 14,3%. Entre os produtos e serviços da pauta de exportações, os maiores aumentos foram de petróleo, soja, produtos siderúrgicos e minério de ferro. Já entre as importações, as maiores quedas foram observadas em máquinas e equipamentos, automóveis, petróleo e derivados, bem como os serviços de transportes e viagens.

— Essa contribuição positiva do setor externo para o crescimento não acontecia desde 2005, teve o efeito do câmbio e do próprio desempenho da atividade econômica — diz Rebeca.

Além de a produção ter encolhido, o desempenho da economia foi puxado ainda mais para baixo pela queda na arrecadação de impostos. Para cálculos do PIB, os impostos sobre produtos caíram 7,3%, bem mais que os 3,3% do valor adicionado. O principal fator para isso foi a paralisia da indústria, explica Rebeca, do IBGE:

— Nesse caso, como o volume dos impostos caiu bem mais que a média da atividade econômica, isso puxou o PIB ainda mais para baixo. A queda dos impostos está muito relacionada com os produtos industriais. Os impostos que mais caem são o IPI e o imposto de importação.

RESULTADO TRIMESTRAL

O quarto trimestre foi o pior para quase todos os indicadores do PIB, considerando a comparação com o mesmo período do ano passado. Pelo lado da oferta (composto pelos setores da economia), a queda de 5,9% frente ao quarto trimestre de 2014 foi influenciada pelo recuo de 8% na indústria e tombo de 4,4% nos serviços. Foi o pior resultado para o setor de serviços nesse tipo de comparação desde o início da série histórica, em 1996. Já o número da indústria é o pior desde o primeiro trimestre de 2009. A agricultura cresceu 0,6%.

Pelo lado da demanda, a maior perda foi na formação bruta de capital fixo, indicador de investimento: tombo de 18,5%, o pior da série. O consumo das famílias recuou 6,8%, também a queda mais intensa desde 1996. O consumo do governo registrou queda de 2,9%, sempre na comparação entre o quarto trimestre do ano passado e o mesmo período de 2014.

Se as previsões do mercado para a atividade econômica em 2016 se confirmarem, o país terá um segundo ano seguido de recessão. Se isso ocorrer, será a primeira vez que o país registrará dois anos consecutivos de contração na economia, de acordo com a série do IBGE, iniciada em 1948. Todas as seis vezes em que o país fechou o ano com PIB negativo foram sucedidas por uma rápida recuperação nos anos seguintes.

 

 

 

Fonte: oglobo

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