Cerca de 11 milhões de pessoas sofrem há dias sem eletricidade após fenômeno natural destruir infraestrutura elétrica do país
O governo de Cuba fez nesta sexta-feira (30) um raro pedido de assistência emergencial ao governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, depois que o furacão Ian deixou a ilha inteira, que tem 11 milhões de habitantes, sem energia elétrica, informou o Wall Street Journal.
A lenta recuperação do serviço de eletricidade em Cuba, danificado pelo poderoso furacão, mantém a tensão social em Havana, com protestos de rua começando na quinta-feira (29) em várias partes da capital.
O primeiro secretário do Partido Comunista no poder (PCC, único) em Havana, Luis Antonio Torres, admitiu que houve protestos em vários municípios.
“Protestar é um direito, mas é um direito quando os responsáveis do Estado e do governo deixam de fazer o que é de sua responsabilidade”, disse Torres, em declarações transmitidas pela televisão local.
Os protestos, “em vez de ajudar, retardam o cumprimento dessa missão […] que temos” de “no menor tempo possível ter uma recuperação total”, disse Torres, alegando que os líderes do PCC tiveram que sair para explicar a situação e deixaram de cumprir outras tarefas.
As manifestações direcionadas continuaram na sexta-feira. No bairro de La Palma, na zona oeste da cidade, uma centena de moradores fechou uma rua com caçambas de lixo para exigir a reinstalação do serviço, disse à AFP um morador da zona que não quis dar o nome.
Autoridades do partido chegaram ao local para responder às demandas dos cidadãos. Um grupo de policiais foi mobilizado sem que nenhum atrito tenha sido relatado até agora, confirmou um jornalista da AFP.
Os cubanos começaram a se desesperar com os prolongados apagões que colocam em risco os escassos alimentos que armazenam em seus freezers e que também impedem o bombeamento de água das fontes que abastecem a capital.
“As pessoas se cansam”, disse à AFP a veterana ativista da oposição Martha Beatriz Roque. “Se não colocarem eletricidade em todo o país” continuarão reclamando.
O serviço de internet foi afetado na noite de quinta-feira por cerca de sete horas, sem acesso a dados em telefones celulares.
NetBlocks, um site com sede em Londres que monitora bloqueios de internet em todo o mundo, registrou na quinta-feira “um colapso quase total do tráfego de internet de Cuba”, em meio a protestos.
Nesta sexta-feira, o site indicou que “a conectividade está sendo restaurada em Cuba”.
Roque informou que em diferentes pontos geográficos da capital cubana de 2,1 milhões de habitantes, como Bacuranao, Cerro, Alamar, Párraga, as pessoas saíram às ruas na quinta-feira e em alguns casos fizeram fogueiras no escuro da noite.
O furacão Ian, que deixou três mortos em Cuba e causou grandes danos no oeste do país, causou um colapso no sistema elétrico nacional na terça-feira (27) e a ilha foi completamente desligada.
Com 11,2 milhões de habitantes e 15 províncias, Cuba está unificada em um único sistema elétrico, para o qual contribuem oito grandes termelétricas, geradores e, em menor escala, unidades de energia solar e eólica.
O monopólio estatal UNE (Unión Nacional Eléctrica) levou 48 horas e meia para recuperar a interligação do sistema em todo o país, mas ainda “não há capacidade de geração suficiente para cobrir a demanda”, reconheceu Lázaro Guerra, um de seus diretores, sexta-feira.
Havana, onde foram relatados os sinais de descontentamento, acordou nesta sexta-feira com uma cobertura elétrica de 60,8%, uma situação mais favorável do que no dia anterior, quando era de 37%, informou a UNE.
“Nem tudo será resolvido de uma vez, mas tudo será resolvido e ninguém será abandonado”, disse o presidente Miguel Díaz-Canel na quinta-feira durante uma visita a Surgidero de Batabanó, ao sul de Mayabeque ocidental.
Dois aviões da Força Aérea Mexicana chegaram nesta sexta-feira a Havana com cabos e material elétrico. Eles fazem parte da ajuda oferecida pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, cuja transferência deve ser realizada em dez voos, informou a televisão local.
A embaixada dos EUA expressou preocupação com os protestos. “Enquanto acompanhamos relatos de protestos pacíficos em Cuba esta noite e interrupções na internet, insistimos que o regime respeite os direitos constitucionais de seus cidadãos de se reunirem pacificamente”, disse a instituição no Twitter.
“Os protestos refletem o duplo cansaço da sociedade com a incompetência do governo e o esgotamento do regime, que os transforma em protestos políticos”, disse à AFP o opositor Manuel Cuesta Morúa.
FONTE: R7.COM COM AFP E REUTERS
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