Saindo, bebendo, fumando, se prostituindo como se não houvesse o amanhã. Louca? Feliz? Original? Perdida? Indagava-se, mas logo proibia-se de refletir muito. Não queria perder tempo. E o tempo é dinheiro. Olhava-se no espelho e gritava. A dor, A solidão. A aflição. O desespero. O tesão. As emoções afloradas. Velha? Não. Feia? Talvez. Consciente de suas tão censuráveis e perigosas. Vícios. Vontade de pedir ajuda. Ficar nua. Nua. Fazer um protesto. E já não lia como antes. Não. Esquecera de valorizar um bom livro. Textos que outrora instigavam-na. Agora estava em outra vibe. Emagrecera. Com certeza! Detestava ser vista como frágil, submissa e carente. Era amante de um conhecido empresário da cidade. Ele tinha 70 anos. Ela acabara de completar 21. Gritava alto, alto, muito, muito alto. E chorava longamente ao escutar músicas românticas dos anos 70.
Muitas vezes pensava em largar tudo e fugir, sumir, se disfarçar de outra pessoa, mas fazer tudo isso seria mentir para o mundo e nem tentar a nobre atitude da mudança. Fumava quando ficava nervosa e não descartava a possibilidade de cometer pequenos furtos. Perigosa? Sim. Não era má, mas tinha atitudes nocivas. Como sorrir quando os lírios já não são belos aos olhos? Não, não, não. Doces lembranças de uma época mais tranquila e saudável. A infância. Depois veio a adolescência repleta de sonhos e a descoberta da paixão. Até que veio o amor. O amor verdadeiro.
– Ele te faz bem?
– Sim. O amor dele eleva-me. Sabe? Me faz buscar forças para mudar. Eu quero voltar a brilhar.
– Então… brilha.
AUTOR: ALBERTO AYALA – FONTE: FOLHA RONDONIENSE
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