“Rebecca, a Mulher Inesquecível” é única obra de Alfred Hitchcock agraciada com o Oscar de melhor filme
Uma mansão surge imponente conforme um belo e igualmente luxuoso conversível se aproxima. No carro estão Joan Fontaine e Laurence Olivier, que são recepcionados por um exército de elegantes empregados. A cena é de “Rebecca, a Mulher Inesquecível”, única obra de Alfred Hitchcock agraciada com o Oscar de melhor filme.
Agora a cena se repete com Lily James e Armie Hammer dentro do veículo. O preto e branco de 1940 dá lugar a tons coloridos que avivam a opulência da propriedade, batizada de Manderley – mas nem por isso esta se torna menos sombria -, e mudanças no roteiro alcançam os personagens no desfecho do longa.
“Rebecca – A Mulher Inesquecível” chega à Netflix nesta semana, com uma nova abordagem para o livro de mesmo nome de Daphne du Maurier, lançado em 1938. Na direção está Ben Wheatley, afeito a histórias com menos sutileza que a da escritora britânica, como “Free Fire: O Tiroteio”, na qual já havia trabalhado com Hammer.
Ao ator e a Lily James se junta a figura simpática de Kristin Scott Thomas, que no filme ganha ares de severidade e arrogância, como a governanta senhora Danvers. De tão má, a personagem entrou para a lista do American Film Institute dos maiores vilões das telas, graças à sua encarnação dos anos 1940.
“Eu acho que está claro que a senhora Danvers se comporta de uma maneira incrivelmente má, cruel. E nós não a perdoamos por isso, então enquanto eu criava a personagem, eu não achei que seria necessário trazer certa simpatia para ela”, diz Thomas.
Na trama, ela gerencia Manderley, propriedade da família de Maxim de Winter, papel de Hammer, há anos. Lá, ele viveu ao lado da primeira mulher, a Rebecca do título, que era muito próxima de Danvers. Mas ele fica viúvo e, após um longo período de luto, encontra uma segunda senhora De Winter, vivida por James. As lembranças da morta, no entanto, assombram a jovem e a mergulham num pesadelo.
Aos 60 anos, Thomas já conhecia bem “Rebecca”. Ela era leitora da obra e, além do filme de Hitchcock, tinha assistido a outras adaptações. Por ser britânica, diz ela, nada mais natural que já estar familiarizada com a história. Mas ela concorda que há uma nova geração que a desconhece.
A prova disso está ao seu lado – com cerca da metade de sua idade, Hammer nunca tinha lido ou visto “Rebecca”. “Eu assisti ao filme depois de gravar essa versão e eu não acho que ele envelheceu tão bem quanto outros trabalhos do Hitchcock”, afirma o ator, ciente da polêmica de sua fala.
Esse é um dos motivos, diz ele, para essa releitura. “É uma versão modernizada, feita para o público dos tempos atuais. Há coisas no longa do Hitchcock que não fariam sentido hoje e agora nós lidamos com um público mais empoderado, principalmente quando falamos das mulheres.”
Hammer e Thomas acreditam que os ecos feministas do século 21 se fazem presentes no novo “Rebecca” – mas eles não chegam a ser uma novidade. “Eu acho que o filme não faz apenas um aceno ao feminismo atual, porque esse era o lance da escrita de Du Maurier. Ela escreveu sobre quão frustrante é sempre receber a porção menor, de ser considerada mais fraca”, diz Thomas.
Atritos derivados da diferença de classe da personagem de Lily James, uma antiga dama de companhia, e a aristocracia ao seu redor também são reforçados na releitura da Netflix, bem como a
toxicidade da relação que se estabelece entre os protagonistas – incluindo a deles com a personagem-título, apesar de morta e nunca em cena.
“A ideia de relacionamento tóxico é muito moderna e também necessária. E todos os relacionamentos no filme são uma bagunça. Quer dizer, a relação da senhora Danvers com a segunda senhora
De Winter é baseada em ciúme, raiva, decepção, frustração e medo, o que é muito desagradável”, conclui Thomas.
FONTE: FOLHAPRESS
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