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China promove caça implacável às drogas, com estrangeiros como alvo

Consumo de entorpecentes no país é crime e pode ser punido com penas longas e tráfico pode render morte. Detidos podem ser presos e deportados

Centenas de estrangeiros na China estão tendo que optar pela delação de cinco pessoas ou passar duas semanas na prisão, com uma conseguinte deportação, após serem detidos nas últimas semanas como parte de uma intensa “caça às bruxas” contra as drogas realizada pelas autoridades do país asiático.

O medo e a desconfiança são dois sentimentos muito presentes nestes dias entre os integrantes da comunidade internacional em cidades como Xangai, pois são cada vez mais os que fazem parte de uma rede de delação que parece não ter fim.

No fim de semana passado, dezenas de patrulhas compareceram a quatro locais noturnos de lazer da cidade, frequentados por estrangeiros, e detiveram todos os presentes.

Os detidos foram levados a centros de detenção para serem submetidos a testes de drogas, em um país onde o consumo é punido com longas penas e o tráfico com a máxima: a morte.

Os testes de drogas são feitos através de um fio de cabelo e detectam se a pessoa usou drogas durante o ano anterior, sem detalhar se foram consumidas dentro ou fora de território chinês.

Aqueles que precisam fazer o teste ficam marcados

A situação de alarme é tão notável que consulados de países como França e Espanha mandaram notas informativas a seus cidadãos para explicar os procedimentos das detenções e pediram aos mesmos que tomem precauções extremas.

“Há algumas semanas, as autoridades chinesas estão multiplicando os controles de consumo de drogas e substâncias ilícitas, cujo consumo na China é um crime penal”, diz o texto enviado pelo Consulado Geral da Espanha em Xangai.

Na nota, o consulado assegura que, com base no testemunho de pessoas afetadas, a polícia fomenta a delação para chegar a mais supostos consumidores, que são detidos em qualquer lugar.

Depois, os mesmos são submetidos a “um duro interrogatório” e passam por exames de urina e cabelo. O consulado diz que os resultados não são entregues ao detido, que não tem direito a um telefonema, nem sequer para um advogado.

Uma análise capilar que, como confirmaram à Agência Efe algumas das pessoas que passaram por esse procedimento, não é feita com delicadeza.

“Se for mulher, cortam uma mecha enorme, mas se for homem, raspam metade da cabeça, de forma a deixar marcado”, contou Manuel, um espanhol que passou pelo centro de detenções e optou, como na maioria dos casos, por delatar cinco pessoas de sua lista de contatos telefônicos do WeChat (equivalente ao WhatsApp chinês) para ficar livre.

Manuel não se chama Manuel, pois, assim como tantos outros, vive em uma situação de pânico desde que recebeu uma ligação há um mês na qual foi solicitado a comparecer à delegacia em algumas horas, sem maiores explicações.

“Sabia para o que fui chamado, pois estão convocando conhecidos há semanas”, contou Manuel, que estima que cerca de “50 amigos e conhecidos” foram detidos.

Manuel confessa ser consumidor de haxixe, embora os exames tenham testado negativo para essa substância e positivo para cocaína.

“É impossível, estou convencido de que as análises não são confiáveis, não conheço qualquer pessoa cujos testes tenham dado negativo e muitos dos detidos garantem que não usaram nada”, disse o espanhol.

No entanto, Manuel teve acesso ao resultado de seus exames, mesmo que por segundos e através da tela de um celular. E em chinês, o mesmo idioma no qual assinou a declaração em que confessou ser culpado pelo consumo de drogas, mas mostrou disposição para colaborar com as autoridades.

Um papel que o deixou livre, por enquanto. “Na verdade, não sabemos no que isso pode implicar e, a partir daí, o que pode acontecer no futuro”, contou Manuel, que sempre soube que consumir drogas é ilegal na China mas, na sua opinião, “é muito imoral tudo o que está acontecendo”.

“Sempre houve controle, mas não neste nível e nem neste volume. Estamos aqui de forma legal, pagamos impostos… Isto é só uma demonstração de força. Eles querem lembrar e mostrar que mandam”, disse.

Outro detalhe sobre as detenções: as autoridades “sequestram” os celulares durante uma hora, acessam todos os dados pessoais e instalam diversos programas no dispositivo.

Outros casos

São muitas as histórias reveladas nestes dias. Como a de uma mãe francesa cujo teste deu positivo, se negou a confirmar a culpa, foi detida e deportada. Ao chegar na França fez outra análise, que deu negativo, e assim voltou a ter o visto aceito em território chinês.

Há também relatos de pessoas que fugiram do país depois que a polícia propôs um trato cinematográfico para se salvar: organizar uma compra-venda com um traficante para poder detê-lo em flagrante.

Além disso, há o caso do adolescente que testou positivo para maconha e teve a família toda deportada. “Quando os detidos são menores de idade, a expulsão é aplicada aos pais e aos irmãos, que no prazo de 10 dias devem sair do país”, diz o documento do consulado.

O documento, no entanto, encoraja que o afetado comunique o ocorrido à missão diplomática de seu país, mas lembra que o órgão “não pode intervir no desenvolvimento de procedimentos policiais e judiciais”. Ninguém pode intervir nas leis chinesas.

FONTE: EFE

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