FILOSOFANDO
“O certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundezas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.” JOÃO GUIMARAES ROSA (1908/1967), foi médico, diplomata e um dos mais importantes escritores brasileiros.
GUAJARÁ-MIRIM
Amanhã, domingo, a população de Guajará-Mirim irá novamente às urnas para escolher o próximo prefeito da cidade. É a hora de quem mora naquela cidade da fronteira, que já ostentou o pomposo título de “Pérola do Guaporé”, escolher uma alternativa melhor para tirar a cidade do atraso a que foi relegada pelos últimos chefes de sua administração.
Certamente os moradores mais antigos de Guajará Mirim devem estar mais do que conscientes dos efeitos terríveis da corrupção, com a decadência acelerada de uma cidade que, em outros tempos, tinha uma economia vibrante, vida em abundância e merecia de verdade o honroso título de “Perola do Guaporé”. Foi o tempo em que a cidade vivia incorporada à certeza de um polo turístico importante (tinha até vôos regulares em seu aeroporto) e de um comércio imbatível, lastreado não só nas trocas com a Bolívia, mas também na certeza (que falhou) de ser a grande zona franca rondoniense.
CADÊ A GRANA
Deputados estaduais envolvidos na discussão sobre o misterioso futuro do Iperon, esse instituto criado numa lei proposta por Osvaldo Piana, deputado das primeiras legislaturas, chegaram a uma conclusão no mínimo insólita sobre aonde foi parar a imensa fortuna dessa instituição de previdência social dos servidores públicos rondonienses.
Bilhões (isso mesmo, leitor!) de reais do Iperon – concluíram os deputados nessa semana – simplesmente evaporaram-se e (pasmem!) ninguém sabe como foram gastos ou onde foram parar.
ZIRIGUIDUM
Embora uma grande parte da população rondoniense não se indigne de verdade com a camarilha corrupta que se espalha entre os dirigentes públicos, fatos como esse do Iperon confirmam (lamentavelmente) como Rondônia é peculiar.
A gestão pública aqui pode não merecer a classificação de “samba do crioulo doido”, mas certamente está na linha do ziriguidum quando o assunto é rombos e canalhices. Agentes públicos que deveriam preservar os recursos não o fazem, pelo simples fato de que ninguém, mas ninguém mesmo, ser punido por tamanha desfaçatez, por tanto esbulho.
NEM SHERLOCK
A gente acaba convencido, depois da conclusão dos deputados envolvidos em esclarecer os fatos sobre o Iperon, que Rondônia (ainda um estado novo) deve ser o paraíso dos “mandrakes”. Como desviar bilhões de um instituição como o Iperon sem pistas. Pelo que disseram, nem se tivéssemos por aqui detetives como Sherlock seria possível chegar os ladrões. Certamente quem passou pelo Iperon nos últimos anos tinha um dom especial de fazer mágica, de sumir toda essa montanha de dinheiro sem deixar um único rastro.
CUSTOSA
O pior é que esses mesmos deputados sempre zelosos no papel de distribuir títulos, comentadas e outras mumunhas como diplomas honoríficos de cidadania (sempre, claro, pago com o dinheiro do contribuinte) confessam ser praticamente impossível descobrir o tamanho do rombo do Iperon (e seus responsáveis) sem “uma auditoria externa” naquela instituição, para a qual contribuem todos os servidores. A conclusão é que “essa auditoria” – é afirmação dos próprios parlamentares – ficaria muito cara e, pelo visto, o estado (e muito menos o próprio Iperon) não tem caixa para bancar essa providência.
TRANQUILIDADE
Com isso, quem mamou nas gordas tetas do Iperon (afinal, não dá para acreditar que mais de 2 bilhões simplesmente sumiu sem irrigar a horta de quem esteve lá no Iperon, sempre por indicação política) pode ficar tranquilo e viver a “dolce vita” que essa montanha de dinheiro pode comprar.
É A SOMÁLIA
Não sei o leitor está desanimado. Mas o colunista está amargurado com a falta de perspectiva – de certeza mesmo – de mudanças de curto prazo nessa (vá lá) porcaria de nação, mesmo sendo o próximo ano eleitoral mais uma vez, quando serão escolhidos os novos titulares do Poder, de presidente da República a governadores de estado, passando pela composição dos legislativos estaduais e federais.
Talvez esse quadro de desintegração ética não devesse surpreender se a gente não vivesse no Brasil e sim na Somália. Mas a gente não vive (ainda) num país tão paupérrimo como algumas republiquetas da África e assim é difícil se conformar com tanta desigualdade, com tanta desfaçatez da autoridade pública, com tantos corruptos e pessoas que ficam milionárias dilapidando o erário.
BILHÕES
Assim como o sumiço de uma fortuna de bilhões dos cofres do Iperon simplesmente embatuca até deputados estaduais, sem levar a alguma decisão para pegar os gatunos, outro mistério bilionário não mexe – pelo visto – nem com os tais órgãos do controle externo rondoniense.
Quem tiver a pachorra de levantar quanto dinheiro veio parar aqui em Porto Velho desde os famigerados PAC-I e PAC-II montado no governo petralha, somando os recursos os oriundos das tais compensações do complexo hidrelétrico do Madeira, além de adicionar a arrecadação de impostos e outras transferências, vai ficar deslumbrado com as cifras bilionárias… Dá para acreditar, então, que a cidade de Porto Velho é uma das mais ricas do país, embora seja aparentemente tão pobre.
NA BOA
Certamente somo a terra dos clichês. Ninguém, mas ninguém mesmo está preso por arrasar o erário municipal. Ora, ninguém é responsabilizado pelas enganações praticadas nos anos recentes, como as “reformas” das praças públicas (da qual não escapou nem a das Três Caixas D’Água), meras maquiagens que, claro, não resistiram e, após curto espaço de tempo estão lá, retratando a triste realidade de uma capital (e um estado também) onde a impunidade continua sendo a grande praxe. Os bilhões vindos para cá em volume que poderiam pagar a construção de uma nova cidade certamente não viraram fumaça. Quem meteu a mão nessa bufunfa, é a pergunta esperando resposta.
PRESSÃO
Conheço bem o deputado Maurão de Carvalho, presidente da Assembléia. É homem comprometido com a fé evangélica e que, também por isso, deve repudiar todas as práticas contrárias aos ensinamentos éticos e humanitários contidos no livro sagrado de sua fé.
Mas certamente o deputado não escapa da pressão de seu meio e assim torna-se presa fácil dos interesses dos pares, ficando sem ter como impedir objetivos às vezes bem dissimulados em invólucros de legalidade.
NO LIMITE
Deve ser por isso que Maurão tolera esquemas como o da publicidade da Casa que, numa análise até superficial, parece apenas um mero canal condutor de dinheiro para a tal imprensa domesticada.
Consta que em certas camadas do próprio MP essa continuada prática de torrar (desnecessariamente) dinheiro do contribuinte está no limite e – de acordo com comentários que se ouve nas coxias – vai ter um gran finale com uma investigação capaz de, no mínimo, provocar enorme constrangimento ao necessário Poder Legislativo.
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