Nações Unidas realizam sessão extraordinária sobre Ucrânia. Ocidente busca apoio de dois terços dos 193 países-membros da ONU contra Moscou. Embaixador do Brasil condena invasão, mas critica envio de armas e sanções.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, composta por 193 países, iniciou nesta segunda-feira (28/02) uma sessão extraordinária para analisar a invasão da Ucrânia pela Rússia, que colocará em votação, na quarta-feira, uma resolução que condena o ataque e exige que Moscou interrompa as hostilidades.
Um projeto de resolução semelhante já havia sido apresentado ao Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira, mas foi vetado pela Rússia. Na Assembleia Geral, nenhum país tem poder de veto, e as resoluções precisam do apoio de dois terços dos países para serem aprovadas.
As resoluções aprovada pela Assembleia Geral não têm efeito vinculativo, mas carregam peso político. Neste caso, revelar qual é o grau de isolamento da Rússia por causa da invasão da Ucrânia.
Alguns termos foram suavizados para ampliar o apoio ao texto, como substituir “condenar” por “deplorar” a invasão. Diplomatas de países do Ocidente consideram que a resolução já tem o apoio de pelo menos 80 países e será aprovada.
O resultado da votação também poderá ser interpretado como um barômetro sobre o apoio à democracia entre os países que integram a ONU.
É raro a Assembleia Geral das Nações Unidas realizar sessões extraordinárias como a iniciada nesta segunda. Em 77 anos de história, isso ocorreu antes apenas dez vezes.
Ucrânia responsabiliza Rússia pela guerra
Embaixadores de mais 100 países apresentarão suas considerações sobre a invasão da Ucrânia antes da votação da resolução.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, advertiu sobre o impacto do conflito sobre os civis e disse que ele poderia se tornar a pior crise humanitária e de refugiados da Europa em décadas.
“Embora os ataques russos estejam supostamente visando em grande parte as instalações militares ucranianas, temos relatos confiáveis de edifícios residenciais, infra-estrutura civil crítica e outros alvos não-militares que estão sofrendo danos pesados”, afirmou.
O embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, descreveu a ordem de Putin de colocar as forças nucleares russas em alerta como uma “loucura”.
“Se ele quer se matar, não tem que usar um arsenal nuclear, ele tem que fazer o que o cara em Berlim fez em um bunker em 1945”, disse Kyslytsya, referindo-se ao suicídio de Adolf Hitler.
Ele comparou a invasão de seu país às ações do regime nazista de Hitler e responsabilizou a Rússia pela guerra. “Todo mundo nesta sala, todo mundo no mundo sabe que a Rússia e apenas a Rússia começou essa invasão. Essa guerra não foi provocada e não foi escolhida”, afirmou.
A embaixadora do Reino Unido, Barbara Woodward, afirmou que os países “precisavam se manter unidos para defender as regras e fazer valer a responsabilidade pelos atos que nós construímos conjuntamente”. “Se não as defendermos agora, a segurança de fronteira e a independência de todas as nações estarão sob risco.”
O embaixador francês da ONU, Nicolas de Riviere, disse que “ninguém pode desviar o olhar, abster-se não é uma opção”, ao se referir à votação da resolução.
O embaixador da China, Zhang Jun, afirmou que “não haverá nenhum ganho em iniciar uma nova Guerra Fria”, mas não indicou como Pequim votaria.
Brasil condena ataque, mas critica envio de armas e sanções
O embaixador do Brasil, Ronaldo Costa Filho, condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas questionou o envio de armas ao país, como vem sendo feito por países do Ocidente.
“Nos últimos anos, temos visto uma deterioração progressiva da situação de segurança e do balanço de poder na Europa Oriental. O enfraquecimento dos Acordos de Minsk por todas as partes e o descrédito das preocupações com a segurança vocalizadas pela Rússia prepararam o terreno para a crise que estamos vendo. Deixe-me ser claro, no entanto: esta situação não justifica o uso da força contra o território de um estado membro”, afirmou.
O representante do Brasil defendeu “cautela” na Assembleia Geral e pediu uma revisão de decisões sobre suprimento de armas e aplicação de sanções, dois eixos do apoio de países do Ocidente à Ucrânia. “Chamamos todos os atores envolvidos para reavaliarem suas decisões em relação ao suprimento de armas, ao uso de ataques digitais e à aplicação de sanções seletivas, incluindo na crítica área de segurança alimentar. Precisamos de soluções construtivas, não de ações que vão prolongar hostilidades e espalhar o conflito, com efeitos na economia e na segurança mundial”, afirmou.
No domingo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil adotaria um posicionamento “neutro” sobre a invasão da Ucrânia, para não “trazer as consequências do embate para o país”. “O mundo todo está conectado que o que acontece a 10 mil km influencia no Brasil” (…) Nós temos que ter muita responsabilidade, porque temos negócios, em especial com a Rússia. O Brasil depende de fertilizantes”, afirmou Bolsonaro.
O presidente disse ainda que “não tem nenhuma sanção ou condenação ao presidente Putin”. Na votação ocorrida na sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil ocupa um assento temporário, o representante brasileiro votou a favor da resolução que condenava a invasão da Ucrânia.
Rússia afirma estar agindo em “autodefesa”
O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse que as ações da Rússia na Ucrânia estavam sendo “distorcidas”. “O exército russo não representa uma ameaça para os civis da Ucrânia, não está bombardeando áreas civis.”
Ele disse afirmou que as hostilidades teriam sido deflagradas “pela Ucrânia contra seus próprios moradores”, e que a Rússia estava empenhada em “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia e “em encerrar esta guerra.”
“Em 2014, houve um golpe inconstitucional em Kiev. E a política deles foi criar um sentimento anti-Rússia e entrar na Otan. Para nós, a entrada da Ucrânia na Otan é cruzar uma linha vermelha”, afirmou Nebenzia.
Moscou afirma que está agindo em “autodefesa”, como permite o artigo 51 da Carta das Nações Unidas. A ONU, porém, rejeita essa alegação e considera que a Rússia está violando o artigo 2 da Carta, que exige que seus membros não façam ameaças ou usem a força para resolver crises.
FONTE: AFP COM REUTERS
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