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Ao contrário do que se previa, calor não conteve Coronavírus

Inicialmente, houve a expectativa, baseada em estudos com o vírus da Sars, de redução da propagação em regiões com temperaturas mais elevadas

Quando o coronavírus desembarcou oficialmente do Brasil, em 26 de fevereiro, vindo da Itália, ainda se acalentava a remota esperança de que ele por aqui não se criaria com a fúria demonstrada na China. Passadas pouco mais de três semanas, registramos mais casos novos por dia do que a China, que desde o início deste mês começou a reduzir a epidemia.

A primeira avaliação da Covid-19 nos EUA mostra que, embora os idosos sejam o grupo de maior risco, pessoas mais jovens têm apresentado um percentual de casos significativo e maior do que o observado na China.

De 508 internados em UTI, 38% tinham entre 20 e 54 anos. E nada menos do que 50% dos casos mais graves (121) tinham menos de 65 anos de idade.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) observou que ainda é cedo para avaliar o perfil demográfico que a doença tomará fora da China. Mas destacaram que é preciso não subestimar a ocorrência de casos de gravidade entre adultos e jovens. Não há até agora casos de gravidade em crianças e adolescentes (até 19 anos).

Covid-19 é uma doença nova, causada por um vírus que ninguém sabe muito bem ainda como deixou os morcegos e veio nos infectar. São muitas as incertezas. Mas sob o comando de um presidente que ouve pandemia e fala histeria e com parte da população ainda insistindo em desrespeitar quarentenas e desafiar um inimigo que agora está em toda parte, o Brasil, dia a dia, confirma prognósticos e derruba outros.

O outono começa nesta sexta-feira, dia 20, mas o Sol do verão não nos poupou da entrada do Sars-CoV-19 e menos ainda impediu que ele se espalhasse de Norte a Sul do país. Havia a esperança baseada em estudos com a Sars, prima-irmã da Covid-19, que grassou o mundo em 2002/2003 e desapareceu, que o novo coronavírus seguisse o mesmo rumo e fosse sensível ao calor do verão dos trópicos.

A tese é baseada no fato de que a Sars não se espalhou nessa faixa do globo. E em laboratório coronavírus demonstram sucumbir ao calor. Mas não foi isso o que novo coronavírus fez até agora. Se ele não gosta de calor, escondeu muito bem.

“Se criou um mito que a Sars sumiu derrotada pelo calor”, disse recentemente Marc Lipsitch, epidemiologista da Universidade de Harvard que tem se destacado por suas previsões acertadas de progressão da pandemia _ e é dele que cerca da metade da população global será infectada. “A Sars não teve morte por causas naturais. Ela foi derrotada por medidas de saúde pública, como isolamento e quarentena”, escreveu ele num artigo.

Até mesmo a Austrália, que chegou a ser elogiada em fevereiro por “controlar” o vírus e citada como exemplo das benesses do Sol, é acossada nos últimos dias por uma explosão de casos.,

Anthony Fauci, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, um dos virologistas mais respeitados do mundo, que o presidente Donald Trump em vão tentou amordaçar, já anunciou que com calor e tudo a pandemia só tende a se tornar cada vez pior nos próximos meses em seu país.

Se alguns, como Trump, ainda depositam esperanças no verão que se aproxima do Hemisfério Norte, para o Brasil, ocorre o contrário. O inverno está chegando… E com ele, o aumento de doenças respiratórias e um cenário ainda mais favorável para a Covid-19. Pois, se o calor não serve nem para controlar vírus respiratórios, o frio, ao contrário, o favorece.

Se o alento do calor morreu até agora na praia, o mesmo não pode ser dito das previsões, quase óbvias devido à crise prévia na saúde, de que a população de renda mais baixa seria a maior vítima. O vírus chegou com as classes média e alta, que haviam viajado a passeio ou trabalho para a Itália. Mas a primeira morte foi a de um porteiro aposentado, no dia 17, cujo contágio foi comunitário, nome dado quando ele já se transmite sem que se saiba de onde.

É a ponta de um iceberg do qual não temos ainda ideia da profundidade. À medida que o vírus se espalha, pessoas de renda ainda menor precisarão dispor do superlotado SUS, do qual dependem 75% da população brasileira, para conseguir uma vaga em UTI, hoje todas ocupadas na rede pública do Rio de Janeiro.

À medida que se espalha pelo mundo, a Covid-19 mostra que, a despeito de 80% dos casos serem “leves”, ela é um inimigo formidável. Os 80% são um número “mágico”, baseado nas estatísticas da China e projeções.

Mas a China só reconheceu a doença em janeiro, pelo menos um mês depois de ela ter se espalhado pela província de Hubei. A China, embora tenha testado muito, não testou a todos, e seus registros incluem principalmente as pessoas internadas. Muitos dos pacientes chamados leves, ficaram em casa, seja porque de fato eram casos muito brandos seja porque não conseguiram atendimento.

No atual descarte de caso de Covid-19 no Brasil, está tudo aquilo que não causa febre significativa e falta de ar persistente. Coisas como diarreia forte, dores, tosse, coriza e até um agravamento de bronquite. Sintomas que muita gente vai amargar e não será “só mais uma gripe”, como declarava Jair Bolsonaro.

 

FONTE: ÉPOCA

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