Cidades

O peixe de Rondônia surge com a força de um novo agronegócio

O Estado de Rondônia com 237.576,167 quilômetros quadrados, 1,7 milhões de habitantes, localizado na região norte destaca-se como o maior produtor de peixes em águas não salgadas do País, cultivando 10.805 hectares de lâmina de água doce para uma produção estimada em 64.833 toneladas de pescados por ano, segundo estatísticas da secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam).
 

Com uma área equivalente ao território da Roménia e quase cinco vezes maior que o da Croácia, atualmente, o Estado possui 3.250 propriedades licenciadas, sendo que 80% correspondem à produção de Tambaqui, Pirarucu, Jatuarana e Pintado.

Esse crescimento explosivo na piscicultura de Rondônia deve-se ao apoio do Governo do Estado, que vê nessa atividade a oportunidade dela se tornar um grande produtor de pescado, conforme avalia o governador Confúcio Moura, que incentiva o consumo de peixes na alimentação escolar. O sistema de produção mais utilizado é o intensivo com a média de 6 a 10 toneladas de pescado por hectare, ao ano, em tanques escavados.

A cadeia produtiva possui dois frigoríficos com inspeção federal (SIF), um na região norte, município de Ariquemes (Zaltana Pescados) e outro no Sul do Estado em Vilhena (Santa Clara), beneficiando 700 toneladas de pescado ao mês. Contam com três fábricas de ração extrusadas e 12 laboratórios para produção de alevinos distribuídos em todo o Estado.

Parcerias entre o Governo do Estado e o Ministério de Aquicultura e Pesca que apoiam as atividades capacitando técnicos, extensionistas e produtores rurais apresentam excelentes resultados. A pesquisa para melhoramento genético do Tambaqui, a produção e engorda do Pirarucu, bem como o licenciamento e construção de tanques, fomentam o desenvolvimento sustentável. O próximo passo é conquistar o mercado externo exportando para Europa e Estados Unidos.

Respeitando as regras ambientais existe, por outro, lado incentivos tributários para novos empreendimentos e a descentralização dos licenciamentos para os municípios, que tenham produtores com menos de 5 hectares de lâmina de água, gerando emprego e rendas no campo e nas áreas urbanas. O governador Confúcio Moura, por sua vez, incentiva as famílias ligadas à agricultura familiar a produzir peixes em cativeiro.

Novo Agronegócio

Na opinião do Superintendente Federal de Aquicultura e Pesca, em Rondônia, Giovam Damo, a piscicultura pelo sistema em cativeiro e tanques escavados além de desafogar a pesca nos rios e igarapés, oferecendo condições para as espécies se reproduzirem naturalmente, está transformando a produção de peixes num grande e novo agronegócio. Os rios que já davam sinais de morte pela pesca predatória voltam a respirar e apresentar sinais de vida, mostrando que nem tudo está perdido.

É verdade. No pequeno município de Itapuã do Oeste, distante 100 quilômetros de Porto Velho, o produtor José Martins Nogueira Maia, em 11 hectares de lâmina de água com 19 tanques transformou a pequena propriedade numa verdadeira estância de piscicultura produzindo 80 toneladas de pescado por safra entre Pirarucu, Tambaqui e Pintado.

No empreendimento administrado pela família, José Martins Nogueira Maia, engorda por ano 40 mil peixes que são comercializados com os frigoríficos que vendem para Manaus, Brasília, Piauí, Maranhão e Rio de Janeiro. Empresários de outros setores estão migrando e investindo na piscicultura, pelo fato do consumo da carne de peixe encontrar-se em alta e com mercado assegurado.

Weberton José de Mello, administrador do frigorifico Zaltana Pescados relata que das 650 toneladas de pescado beneficiados, por mês, 60% são comercializadas no centro-sul do País com o grupo Pão de Açúcar e Wal-Mart, grandes consumidores do pescado rondoniense. Segundo ele, o carro-chefe é o Tambaqui, puxando no vácuo o Pintado e o Pirarucu.

Deste volume 30% são em cortes nobres, costelas, bandas e filés. Os outros 30% são eviscerados que seguem para a mesma região. 40% seguem in natura para a região norte do País.

Com investimentos de R$ 21 milhões na implantação de uma fábrica de gelo e outra de ração, o grupo se prepara para em 2015 beneficiar mil toneladas de pescado ao mês. Contudo, essa produção pode ser multiplicada por dez, pois só a fazenda “Nova Esperança” de peixes na região Norte do Estado com uma área de 300 hectares de lâmina de água garante a metade da produção anual desta indústria.

Sem restrições ambientais

Clima, água exposta e mais aflorada com relevo e nascentes naturais é mais fácil produzir, tendo o fator climático equatorial, 6 meses de seca e seis de chuva, sem quaisquer tipo de restrições ambientais, desde que a legislação seja respeitada, Rondônia produz o melhor peixe do Brasil. Motivados pela demanda do centro-sul, as indústrias frigoríficas investem em mão- de-obra e na qualidade da produção pesqueira na região.

Do ponto de vista do engenheiro de pesca Vinícius Pedroti, o mercado para o peixe de Rondônia está consolidado como atividade lucrativa e empresarial que mantêm o equilíbrio, onde os sub-produtos do pescado são reaproveitados em fábricas de ração e adubos. Segundo ele, “o Tambaqui é o nosso peixe”.

Weberton José de Mello acentua que o Tambaqui de Rondônia é comercializado em padrão de dois quilos e meio, somando-se a isso fatores importantes: paladar, preço, cortes sem espinhas e a mudança de hábito de quem trabalha na cozinha. Para ele, “Rondônia virou o celeiro do peixe.”

Implantado na região do Sul do Estado, o frigorífico Santa Clara, também com inspeção federal (SIF), beneficia 30 toneladas de pescado/mês, atendendo as praças de Rondônia e Mato grosso.

Na safra 2012/2013, o grupo Mar e Terra com frigorífico em Itaporã no Mato Grosso do Sul, beneficiou mil e 100 toneladas de Pirarucu, produzidas na região central no Estado de Rondônia. Uma parte fora comercializada no mercado interno e outra exportada. Na atualidade, Rondônia é o maior produtor de Pirarucu em cativeiro no País.

Texto e fotos: José Luiz Alves

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