Juiz João Pedro Gebran Neto leu durante meia hora o relatório sobre o caso do tríplex de Lula. Gebran abriu sua fala dizendo que não está julgando a vida pessoal de Lula, mas sim “fatos”
O juiz João Pedro Gebran Neto leu durante meia hora o relatório sobre o caso do tríplex de Lula. Gebran abriu sua fala dizendo que não está julgando a vida pessoal de Lula, mas sim “fatos”.
O juiz do TRF-4 recordou os argumentos já apresentados pelas partes -como a alegada incompetência de Sergio Moro para julgar o caso, pedida por Lula. Ele também citou os pontos levantados pela acusação.
Após sua fala, Gebran passou a palavra ao representante do Ministério Público Federal, o procurador regional da República Maurício Gerum, que deverá pedir o aumento da pena do ex-presidente Lula.
No início da fala, ele reclamou da “truculência da tropa de choque”, em referência a apoiadores do petista. “Uma tropa de choque foi criada para garantir a perpetuação de um projeto político pessoal”, disse o procurador, acrescentando que Lula e aliados não admitem outra solução no processo que não seja a absolvição.
“O processo judicial não é um processo parlamentar”, afirmou. Gerum disse que o que mais o entristece é ver a comunidade acadêmica disposta a fazer coro a um movimento de intimidação. Segundo ele, a pressão que estaria sendo exercida é próxima do crime de coação.
Depois da fala dura contra os críticos do processo penal, o Gerum passou a lembrar de detalhes do caso, como o início do caso do tríplex, com pagamentos de Marisa Letícia em 2005 para a Bancoop, responsável pelo condomínio no Guarujá na época.
Gerum também criticou a relação de Lula com Léo Pinheiro, da OAS, que tachou de “promiscuidade” e “toma lá dá cá”. “Isso é rechaçado na maioria dos países”, disse ele.
O procurador afirmou que todos os indícios mostram que o apartamento estava sendo preparado para o petista antes da prisão do empreiteiro, em 2014.
Gebram também falou sobre a ingerência de Lula na Petrobras. Ele citou o depoimento do delator Pedro Corrêa, que relatou conversa com o então presidente sobre a estatal.
O vínculo de Lula com as irregularidades na Petrobras é um dos principais pontos de críticas ao processo contra o petista. “Um presidente da República engendra junto com as empreiteiras um dos maiores esquemas de corrupção da história do Brasil”, disse o procurador Maurício Gerum.
“Não precisamos ficar na suposição que Lula sabia”, afirmou. O procurador também citou reportagem do jornal “O Globo” de 2010, que atribuía ao ex-presidente a propriedade do tríplex no Guarujá. “Procurada, a Presidência confirmou que Lula continua proprietário do imóvel”, diz o texto.
Gerum também lembrou o depoimento do empreiteiro da OAS, Léo Pinheiro, preso desde 2016. Pinheiro afirmou que a OAS só assumiu o condomínio em Guarujá porque Lula já tinha pago uma parte de um imóvel no prédio.
O relato é um dos principais pontos da acusação contra o petista. Gerum reclama da “veneração que se faz míope” a favor do ex-presidente.
Gerum terminou sua fala com uma passagem da obra “Crime e Castigo”, do russo Fiódor Dostoiévski.
“O verdadeiro soberano, ao qual tudo é permitido, bombardeia Toulon, assola Paris, esquece o seu exército no Egito, aniquila meio milhão de soldados na retirada de Moscou e livra-se de dificuldades com um trocadilho em Vilna; e, no entanto, depois de morto constroem-se altares para ele, e assim tudo é permitido. Não, esses seres, pelo visto, não são feitos de carne e osso, mas de bronze”, escreveu o autor. Gerum completou: “Em uma República todos os homens são de carne”.
Depois da apresentação do relator do caso e da fala do Ministério Público, o advogado René Dotti, que atua a favor da Petrobras, recebeu a palavra.
Ele criticou o esquema de corrupção na Petrobras.
Disse que a estatal sofreu um “atentado contra o patrimônio” e lembrou da história da empresa, incluindo a campanha “O petróleo é nosso”. Dotti citou ainda o escritor Monteiro Lobato como defensor da criação da companhia.
Ele também comparou o combate à corrupção com a tarefa de Winston Churchill, líder do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial.
FONTE: Folhapress
Add Comment