Justiça

‘O Brasil pode transformar-se em um país sem fronteiras’ diz Jair Bolsonaro ao falar sobre seu projeto de governo

12/11/2015. Crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. O deputado federal da Câmara dos Deputados, Jair Messias Bolsonaro - PP, durante entrevista em seu gabinete.

‘O Brasil pode transformar-se em um país sem fronteiras’, diz Bolsonaro em entrevista a O TEMPO

 Em entrevista a O TEMPO, Jair Bolsonaro, deputado federal (PSC-RJ), critica nova lei de imigração, reafirma que será candidato à Presidência em 2018 e alfineta o governo Temer, dizendo que o peemedebista é “refém” do PSDB. Bolsonaro se diz de direita, mas é crítico da política de privatizações.

Ouça os principais pontos da entrevista com Bolsonaro

https://soundcloud.com/o_tempo/sets/entrevista-o-tempo-com-o-deputado-jair-bolsonaro

Deputado, o senhor não considera um risco alto se candidatar à Presidência e, caso seja derrotado, perder o espaço no Congresso?

Olha só, a vida sem riscos não tem graça. Eu jurei, quando servi o Exército, dar minha vida pela pátria. O que é dar o mandato de deputado pela pátria? Não é nada. O homem que não tem ambição tem que comprar um lote no cemitério.

E a questão partidária, de recursos e de tempo de TV… Como ter chances de vitória sem esses “detalhes”?

Tenho tido uma convivência boa com empresários do bem, que me apoiariam. Quanto a partido, estamos olhando, conversando. Na política é assim, tem que ser conversado pra depois não ser surpreendido.

O Muda Brasil pode ser sua nova legenda?

Não sei, é possível. Estamos vendo.

Há uma tendência forte no mundo de guinada à direita. O senhor vê semelhanças deste fenômeno aqui no Brasil?

O que o Trump sofreu durante a campanha de 2016 (nos EUA) eu sofro há cinco anos. As acusações em cima dele são as mesmas que eu recebo. Fascista, racista, xenófobo, essa besteirada toda. Desculpe dizer isso, mas você também faz parte desse mal. É a mídia que acusa. Grande parte dela está sempre batendo em mim e bateu muito no Trump. Ele chegou com o discurso que agrada à maioria silenciosa, de que América segura é América forte. A segurança, no Brasil, é poder sair aí em BH e não ser assaltado. Para o Trump, é um ponto mais estratégico. Precisamos nos preocupar com isso também. Se Temer sancionar esta nova lei de imigração, o Brasil pode se transformar em um país sem fronteiras.

Então o senhor considera a nova lei de imigração um risco ao Brasil?

A imigração existe em todo lugar, não sou contra isso. Mas uma imigração aceitável. Esse projeto não é assim. Caso se transforme em lei, vai acontecer o que tem sido discutido na Europa: vai encher navio com refugiados e mandar para o Brasil. Não temos como acolher essa quantidade de gente, ainda mais que o cidadão brasileiro, como diz no projeto, terá que aceitar os costumes de quem Estiver vindo pra cá. Ou seja, tem gente de determinados países que adota a poligamia, que aceita o namoro de crianças com 10, 11 anos. Queremos isso pra nós? Vamos aceitar uma filha ou neta nossa ser aliciada por um elemento dessa origem?

Muito se fala na Europa de islamização de países ocidentais. É um risco que o Brasil corre?

Tem certos países que, se você for com um crucifixo no peito, vão te matar. Se não aceitam o cristianismo, a pluralidade, como podemos aceitar essa cultura aqui também? Não estou falando só do Islã, mas, se (a religião do outro) vale aqui, por que as outras (religiões) não valem no país deles?

Como seria a sua política externa e diplomática com o presidente em relação ao governo de Nicolás Maduro, na Venezuela?

Não há dúvida de que aquilo se transformou em uma ditadura. Falam tanto da nossa ditadura militar, mas aqui no Brasil tínhamos paz nas ruas, havia pleno emprego, respeito, família, direito de ir e vir. Aí, chamam de ditadura. Mas na Venezuela não tem nem feijão e arroz mais. É bom lembrar também que esse projeto da lei de imigração é do Aloysio Nunes, do PSDB. O governo Temer é refém do PSDB. Se não fizerem o que os tucanos querem, não vão ter apoio no Congresso. Temer também está muito atingido por denúncias de delatores na Lava Jato. Mas falta pulso, sim (para lidar com as questões da Venezuela). Precisamos de um presidente com autoridade e isenção. Que pense na nossa pátria.

E os nomes do PSDB, como Aécio, Alckmin… Poderiam ter este perfil?

Estão todos chamuscados. O PSDB está manchado por delações da Lava Jato. O (João) Doria é o que está sobrando pra eles. Não entro no mérito no Doria porque só sei por alto o que acontece lá (em São Paulo) e sei que a grande mídia o idolatra. Mas uma coisa é administrar uma cidade, outra é administrar um país. No Brasil, precisamos de político. E o Doria é apenas aquele gestor, nada além disso.

Quem tem aparecido bastante também com falas polêmicas é o ex-ministro Ciro Gomes. O que acha dele?

O Ciro, em 2005, votou a favor do desarmamento. O que falta no Brasil é a coerência. No caso do Ciro, se ele vota a favor do desarmamento, ele tem que ser o primeiro a falar que não possui uma arma em casa. Agora, recentemente, ele disse que receberia a turma do Moro à bala em casa. Duas coisas acontecem: a incoerência com a campanha desarmamentista e o desrespeito ao Judiciário. Enfim, o Ciro tem uma bagagem cultural enorme, experiente, mas o vejo apenas como uma pessoa ligada ao PT.

E o que o senhor tem achado do governo Temer até aqui? É melhor que o governo Dilma?

Sempre disse que há um problema até mais grave que a corrupção, que é o aparelhamento partidário e ideológico do Estado. Com a chegada do Temer, o aparelhamento continua, mas diminuiu drasticamente. Espero que ele termine o mandato e consiga fazer essa transição em 2018. Espero mais ainda: é de minha autoria o projeto de lei que fala do voto impresso pra 2018. Nosso querido Gilmar Mendes do Supremo está tentando passar isso pra 2020. Se não houver voto impresso no ano que vem, pode escrever: teremos um presidente do PT ou do PSDB. As urnas serão fraudadas.

E quanto às reformas propostas por Temer? O senhor foi criticado por se abster na votação da terceirização.

Há coisas necessárias, outras duras demais. Na terceirização, eu me abstive por que entendo os pontos dos dois lados e qualquer que fosse meu voto, eu levaria porrada. Já a Previdência é fato que precisamos mudar algumas regras. O país quebrou, não tem dinheiro.

E a reforma trabalhista? Uma modernização seria boa, mas isso precisa ser melhor estudado.</MC>
E o fim do foro privilegiado? Urgente.

Reforma política. O senhor apoia a lista fechada?

Não, jamais. Isso é absurdo, é o fim da representatividade. Deixa como está mesmo, o que tem que mudar é o próprio político.

O que o senhor pensa sobre os movimentos sociais de direita, como o MBL, o Vem pra Rua?

Não acho nada. Vários destes grupos estão politizados, já há partidos políticos no comando, já possuem candidatos. Então, não faço nada, faço minha parte aqui, e eles, a deles lá.

Qual projeto de Brasil o senhor defende na área econômica?

Eu jamais entregaria a Petrobras para assaltantes marginais. Mas não podemos também falar em privatizar tudo, não se pode torrar o patrimônio do povo brasileiro. Se não posso administrar bem, por que um grupo privado vai fazer melhor? O grupo privado zela pelo lucro, pelo patrimônio, e, na minha opinião, isso é relevante, mas nem sempre nas estatais. Algumas podem ser privatizadas sim, há muitas hoje em dia que só servem pra dar prejuízo. Então há coisas que precisam ser privatizadas, ou fechadas, mas é importante o Estado estar no comando de outras também. Tem alguns que só faltam querer a privatização das Forças Armadas, aí não dá.

Então, qual seria o papel do Estado na economia? O Estado agora busca uma maneira de tirar o juro subsidiado para o produtor rural. O que dá certo no Brasil, ainda, é o agronegócio. Se apunhalar o agronegócio desta maneira, aí, sim, nós vamos pra pindaíba, para a ruína econômica de uma vez. Qual banco privado toparia fazer este financiamento? Se me responder eu vou ficar surpreso. O capital externo quer é isso, evitar que aquele povo progrida e facilitar a entrada de empresas pra explorar aquelas regiões, principalmente a Amazônia.

 Fonte: O Tempo

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