Premiação lançada nesta quarta (5/4) destinará R$ 2 milhões a 40 obras escritas por mulheres, sendo o maior edital literário do país; lançamento ocorre no Palácio do Planalto
O Ministério da Cultura (MinC) lança nesta quarta-feira (5/4) o Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres de 2023. O reconhecimento destinará R$ 2 milhões para 40 obras literárias inéditas produzidas por mulheres, sendo a maior premiação literária do país. O lançamento ocorre nesta manhã no Palácio do Planalto, e pode ser acompanhado pelas redes sociais.
O valor será de R$ 50 mil por escritora agraciada. Interessadas podem se inscrever pelo Mapas Culturais a partir de 12 de abril, e até o dia 10 de junho. O edital foi publicado hoje no Diário Oficial da União (DOU).
“À frente do tempo”
Professora e filha da escritora homenageada pelo prêmio, Carolina de Jesus, Vera Eunice de Jesus afirmou que o sentimento é de felicidade pela homenagem. “Estou muito feliz de estar aqui. Olhando a foto da minha ali, senti que ela estava aqui. Minha mãe desde pequena quando saia para catar papel com ela eu já via ela escrevendo”, contou.
“Ela falava que tinha que escrever. Pegava o primeiro pedaço de papel, ali, escrevia quadrinhas, romance, poemas, o que vinha na cabeça dela . A gente foi criado com a minha mãe sempre escrevendo. Fico emocionada de ver como ela, uma negrinha, nascida em Sacramento, pós abolição, e já sobressaindo, escrevendo. Ela não foi muito bem aceita, pois era uma mulher à frente do tempo dela, mas sempre escreveu a vida inteira”.
Vera relatou que a mãe sofreu críticas cruéis porque “escrevia errado” em relação às normas cultas, mas pediu que as mulheres que se inscreverem no prêmio se atentem primeiro ao sentimento. “É isso que quero passar para as mulheres que vão concorrer a esse concurso, primeiro coloca o sentimento”.
“Não desistam e ousem. Carolina é minha mãe, mas ela é do mundo, é do branco, do negro, do estrangeiro, do indígena, do inglês, do francês, de todas as mulheres, de todos”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, destacou no evento que a escrita a ajudou a amenizar a dor da perda da irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. “Depois que perdi a Mari, muitas das vezes eu escrevia para tirar a raiva de dentro de mim. Surgiram 3 livros sobre a minha irmã. A escrita e o termo escrevivência tem me acompanhado desde então. Não tinha dimensão do que poderíamos ser capazes de produzir a partir de uma perda”.
“Carolina demorou para ser reconhecida pelo racismo que assola o país. Meu desejo hoje, além do sucesso do edital, é desejar que nossos jovens negros estudantes tenham acesso para que possamos ter mais Carolinas e mais Conceições Evaristo. É através da educação e incentivo que a gente consegue mudar esse país”, emendou. “Carolina Maria de Jesus é imensurável e inenarrável pelas mulheres negras intelectuais”, concluiu.
Fortalecimento da cadeia produtiva do livro
“Esse edital é estratégico, pois incentiva a produção literária feminina, amplia a diversidade na literatura e, consequentemente, a diversidade cultural. Além disso, o apoio a escritoras é fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva do livro e o fomento da leitura a partir da seleção de obras de qualidade chancelada pelo Ministério da Cultura”, declarou a chefe da pasta, ministra Margareth Menezes, presente no evento. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Márcio Macêdo, também irá comparecer.
Segundo o MinC, dentre as 40 obras premiadas, oito serão de mulheres negras, quatro de indígenas, quatro de mulheres com deficiência, duas para mulheres ciganas e duas para quilombolas. A seleção será feita por um grupo de seis mulheres.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Add Comment