População das cidades de Pequim, Xangai e Guangzhou pressionaram o governo para o fim do confinamento severo
A principal autoridade anti-Covid da China mencionou uma possível flexibilização da rígida estratégia de tolerância zero contra o vírus, após os protestos registrados no país para exigir o fim do confinamento e mais liberdade política.
Em um discurso na quarta-feira (30) para a Comissão Nacional de Saúde (CNS), a vice-primeira-ministra, Sun Chunlan, afirmou que a variante Ômicron do vírus perde força e que a vacinação está aumentando, segundo a agência estatal de notícias Xinhua.
A vice-primeira-ministra disse que existe “uma nova situação, que exige novas tarefas”.
Sun, considerada uma figura crucial na resposta de Pequim à pandemia, não citou a política de Covid zero, o que sugere uma possível flexibilização na estratégia que afeta a economia e a vida da população.
A irritação com a política anti-Covid da China, que inclui confinamento severo, gerou protestos em grandes cidades, como Pequim, Xangai e Guangzhou.
O governo defendeu a repressão às manifestações, mas as autoridades também deram sinais de mudança na estratégia de combate à pandemia.
Os comentários de Sun foram feitos no momento em que Guangzhou, um importante centro industrial onde foram registrados confrontos entre policiais e manifestantes na terça-feira à noite, anunciou a suspensão de um confinamento de várias semanas, apesar de a localidade registrar um recorde de casos de Covid.
As autoridades reduziram na quarta-feira as restrições nos 11 distritos da cidade, inclusive em Haizhu, onde aconteceu o protesto.
Além disso, a cidade central de Chongqing anunciou na quarta-feira que os contatos próximos de pessoas com Covid-19 podem permanecer em quarentena em casa, desde que cumpram alguns requisitos, uma mudança nas regras que os obrigavam a seguir para instalações de isolamento.
As declarações de Sun e as regras mais suaves em algumas localidades podem ser um sinal de que a China começa a considerar o fim da política rígida de Covid zero, segundo analistas.
“Acreditamos que as autoridades chinesas estão mudando para uma postura de ‘conviver com a Covid’, como demonstram as regras que permitem o isolamento das pessoas em casa, e que não sejam levadas para centros de quarentena”, afirma um comunicado de analistas da ANZ Research.
Com a aproximação do terceiro aniversário da detecção do primeiro caso de Covid, na cidade de Wuhan (centro do país), a rígida política da China contra o vírus gerou protestos como não eram observados desde o movimento pró-democracia de 1989.
Um incêndio que deixou dez mortos na semana passada em Urumqi, capital da região de Xinjiang (noroeste), catalisou a fúria da população. Muitas pessoas acreditam que as vítimas ficaram presas dentro do prédio em chamas devido às restrições anti-Covid.
Os manifestantes, no entanto, também exigem reformas políticas, e alguns chegaram a pedir a renúncia do presidente Xi Jinping.
O controle ferrenho das informações na China e as restrições de deslocamentos dificultam o trabalho de verificação do número de manifestantes nos protestos.
Não é comum que a China registre manifestações em todo o território, como aconteceu no fim de semana.
O movimento pró-democracia de 1989 terminou com um banho de sangue, quando os militares entraram em ação, em particular na praça Tiananmen (Paz Celestial) de Pequim e em seus arredores.
Na quarta-feira, o ex-presidente chinês Jiang Zemin faleceu, aos 96 anos. Ele assumiu o poder justamente após o massacre da praça da Paz Celestial.
Ao ser questionado sobre os protestos, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que em cada país a população deve ter condições de “expressar suas frustrações” em protestos pacíficos.
“Quando um governo adota grandes ações repressivas para impedir os protestos, isso não é um sinal de força. É sinal de fraqueza”, declarou Blinken.
FONTE: AFP
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