Quatro pessoas foram detidas nesta manhã, entre elas dois estudantes menores de idade
A Polícia Militar agiu com violência, na manhã desta quarta-feira (2), em mais um protesto de estudantes contra o fechamento de escolas estaduais anunciado pela gestão do governador Geraldo Alckmin. Em ato na avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste da capital, alunos foram retirados à força da via, com golpes de cassetete.
Quatro pessoas foram presas, dois maiores e dois menores de idade. Um dos menores é estudante da escola Fernão Dias, em Pinheiros, e o outro de uma Etec. No 23º Distrito Policial, um dos estudantes detidos disse ao R7 que foram presos e agredidos quando tentavam retornar à via depois que liberaram passagem para uma ambulância. A ação contrariou combinado feito entre os manifestantes e a Polícia Militar.Mais cedo, um protesto também foi registrado na avenida Giovanni Gronchi, zona sul.
O fechamento de 93 escolas está previsto no projeto de reorganização anunciado pela Secretaria Estadual de Educação em setembro deste ano. Com o objetivo de unir estudantes de um único ciclo na mesma escola, mais de 300 mil alunos devem ser afetados.
Na noite desta terça-feira (1º), um protesto na avenida 9 de Julho, zona sul da cidade, terminou com bombas, bate-boca e quatro detenções. Uma imagem exclusiva da Record mostra dois policiais subindo em uma passarela e agredindo um menor com um golpe de cassetete. O adolescente caiu no chão e foi levantado na sequência. Mesmo sem reação, o policial colocou o cassetete no pescoço do menino, que é estudante da escola Fernão Dias Paes, em Pinheiros.
Autoritarismo e falta de fundamento transformam projeto de Alckmin em mobilização histórica
O pai do aluno agredido pelo policial lamentou o ocorrido: “Eu não bato no meu filho. Chego aqui e vejo meu filho agredido, ainda mais por uma autoridade. Eu acho um absurdo isso”. Segundo ele, os policiais disseram na delegacia que o filho dele e uma colega desacataram e agrediram os policiais.
Ainda ontem, policiais militares reprimiram alunos que ocupam a escola estadual Maria José, no bairro da Bela Vista, região central, após pais e professores quebrarem o cadeado e entraram no colégio na tentativa de desocupá-lo. De acordo com a Polícia Militar, outra confusão envolvendo pais e alunos foi registrada na Escola Estadual Doutor Octávio Mendes, na avenida Voluntários da Pátria, em Santana, na zona norte de São Paulo. Pais e alunos que são a favor à reorganização escolar querem a normalização das aulas na escola, que está ocupada por outro grupo de estudantes.
Os protestos contra a medida em curso pelo governo começaram no dia 9 de novembro, quando cerca de 40 alunos da EE Diadema, no ABC Paulista, deixaram as salas de aula e passaram a ocupar corredores e demais dependências da escola. A reação foi seguida por outros alunos e hoje, de acordo com balanço do Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo) desta terça-feira, há 205 escolas tomadas pelos estudantes. A Secretaria da Educação confirma manifestações em 194 unidades.
A principal justificativa do governo para a realização da reforma na rede é a suposta melhoria no desempenho dos alunos que passariam a conviver apenas com outros estudantes da mesma faixa etária e nível de conhecimento. Para Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP, não há nada que comprove a eficácia da proposta.
— É estapafúrdio, sem nenhum sentido. Vai contra toda a ciência e a teoria da educação, não tem cabimento. A melhor educação é a que tem convivência com jovens, adultos. É bobagem. Isso é ignorância ou má fé.
Em nota, a secretaria de Educação disse que está aberta ao diálogo com os manifestantes que ocupam “algumas unidades escolares, para que desocupem as escolas e permitam que os estudantes concluam o ano letivo”. Ainda no comunicado, a pasta diz que “considera as manifestações legítimas, mas não pactua com o impedimento da maioria dos alunos de assistirem as aulas, tampouco com o cerceamento do direito da população de ir e vir, como vem ocorrendo em algumas das principais vias da cidade. A proposta da reorganização da rede, ao ampliar o número de unidades com ciclo único, é melhorar a qualidade do ensino e aprimorar as condições de trabalho dos professores”.
Em coletiva de imprensa realizada no fim de outubro, o secretário da Educação do Estado Herman Voorwald, forneceu dados sobre a reorganização. De acordo com a pasta, 311 mil alunos serão movimentados em 162 municípios. Além disso, o número de escolas com um segmento passará de 1.443 para 2.197; o de dois ciclos irá de 3.209 para 2.635 e as unidades com três segmentos passarão de 479 para 315. Entre as mudanças, o secretário destacou que 2.956 classes que estavam ociosas passarão a ser usadas pela rede.
Fonte: R7
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