Governadores mantêm cronograma, mas temem falta de imunizantes
Ao menos treze estados, mais o Distrito Federal, planejam manter a vacinação contra Covid-19 de adolescentes sem comorbidades, deficiência permanente ou privação de liberdade. A continuidade das aplicações é contrária à resolução do Ministério da Saúde de suspender a aplicação de imunizantes em meninos e meninas, em geral, com idades entre 12 e 17 anos.
De acordo com levantamento realizado pelo GLOBO, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e o Distrito Federal planejam manter as agulhadas. A decisão, porém, pode esbarrar no fim do estoque de vacinas em parte desses estados.
A exclusão dos adolescentes sem comorbidades da fila da imunização foi comunicada na quinta-feira pelo ministro Marcelo Queiroga, depois de uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro. Ele alegou “falta de evidências” da segurança das vacinas para essa faixa. Ontem, médicos da câmara técnica da pasta, que não foram consultados, levantaram a possibilidade de deixar a comissão caso a resolução se mantenha. A informação é do blog de Malu Gaspar no site do GLOBO.
Paraíba, Tocantins, Mato Grosso, Paraná e Alagoas, dizem que seguirão as decisões do governo federal e, portanto, vão restringir a imunização dos menores de 18 anos aos pré-requisitos listados pela pasta (comorbidades, deficiência permanente ou privação de liberdade). O Amazonas, por sua vez, realizou reuniões ontem para definir o futuro dessas aplicações. O estado do Rio não detalhou sua decisão, mas afirmou que “defende a vacinação dos adolescentes” e que faz “gestão junto ao Ministério da Saúde para que a decisão de suspender a vacinação em adolescentes seja revista”.
O governo do Rio Grande do Norte esclareceu em nota que vai manter a continuidade das aplicações, porém aguarda um posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, caso ocorram “eventuais mudanças” em relação à autorização de aplicação de vacinas nessa faixa etária.
Espera de doses
O Distrito Federal informou que começou a imunizar os jovens de 17 anos em 24 de agosto. Até agora, estendeu as aplicações aos meninos e meninas com até 14 anos. A aplicação desse público será mantida. Os que têm entre 12 e 13 anos deverão esperar a chegada de mais doses de vacina.
São Paulo diz, em nota, que também continuará vacinando e que “lamenta” a decisão do Ministério da Saúde. O estado, até agora, imunizou 72% do grupo com idades entre 12 e 17 anos. Na capital paulista, o secretário de Saúde Edson Aparecido afirmou ao GLOBO que a expectativa é que a totalidade dos adolescentes receba a primeira dose até este domingo.
Belo Horizonte (MG) informou que vai imunizar pessoas de 17 a 12 anos sem comorbidades, mas que “para iniciar a vacinação deste público é imprescindível que novas remessas de vacinas sejam entregues”. Santa Catarina manterá as aplicações, mas “priorizando” os jovens com condições específicas de saúde, gestantes, puérperas e privados de liberdade.
Goiás também criou uma lista de prioridades para o uso do estoque da vacina da Pfizer. Os adolescentes sem qualquer comorbidade são os últimos na lista de elegíveis para receber as aplicações, após, inclusive, a inoculação de doses extras em idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos. Já no Rio Grande do Sul, mantém-se a vacinação de quem tem 17 anos — idade que já conta com aproximadamente 50% do público com uma aplicação realizada. A vacinação dos que têm idade inferior dependerá da chegada de mais doses.
A cidade do Rio também continua com as aplicações, mas dependerá do envio de novas doses. Em coletiva de imprensa, o prefeito Eduardo Paes sugeriu que o presidente Jair Bolsonaro “dialoga com a morte” e interferiu numa decisão da Saúde, que era de natureza técnica.
O Consórcio Nordeste — que reúne os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe — divulgou uma nota de seu comitê científico recomendando que os estados e municípios mantenham a vacinação dos adolescentes. Ainda afirmou que que as justificativas federais para a suspensão “não são claras e não têm sustentação científica”.
Decisão inédita
A recente resolução do Ministério da Saúde é mais um capítulo do descompasso que enfrenta o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Especialistas afirmam que é a primeira vez na história da do programa que há tamanha discrepância nos critérios federais e locais.
A decisão provoucou reações de sociedades médicas. Em notas, organizaçãoes recomendaram o retorno da vacinação do grupo. Ontem, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicaram notas, que se juntam às emitidas pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
A nota da Sociedade Brasileira de Pediatria diz que, apesar de estudos internacionais estimarem que o número de casos na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total, o Brasil reportou 2.416 óbitos de crianças e adolescentes, representando mais do que a soma de todas as demais mortes por doenças imunopreveníveis (evitáveis por meio de vacinas).
A Anvisa informou na noite de ontem que realizou uma reunião com a Pfizer para tratar da morte da adolescente após a vacinação. A agência manteve sua posição de recomendar o imunizante nessa população.
FONTE: O GLOBO
Add Comment