País encerrou 2016 com mais de 12,3 milhões de desocupados, de acordo com o IBGE
O ano de 2016 trouxe inúmeros problemas para o mercado de trabalho brasileiro, que fechou o ano com 12,3 milhões de desempregados após cortar mais de 1 milhão de postos de trabalho com carteira assinada.
Para 2017, a expectativa é de que o cenário negativo persista pelo menos até o segundo semestre, mas o setor da indústria responsável pela produção de itens com foco no mercado externo surge como aposta para alavancar a geração de empregos no País.
A expectativa para o setor aparece mesmo com a modesta previsão de alta de 0,5% do volume de exportação de produtos industrializados neste ano.
De acordo com a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a indústria brasileira deve vender US$ 101,355 bilhões para o exterior neste ano — US$ 29,265 bilhões fruto de itens semimanufaturados e US$ 72,090 bilhões de manufaturados.
Mesmo sem apostar na melhora do mercado de trabalho ainda neste ano de 2017, o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Airton dos Santos afirma que o setor exportador de produtos industrializados é o mais indicado para guiar a recuperação do emprego no Brasil.
— Na medida que você começa a exportar mais produtos industrializados, essa indústria voltada para a exportação vai gerar emprego e aumentar as vagas no comércio e nos serviços. Vai ser um multiplicador nos outros setores.
A percepção de Santos é partilhada pelo diretor titular do Derex (Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior), da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Thomaz Zanotto. Ele afirma que “a indústria está no centro da recuperação” do mercado de trabalho.
— Um emprego direto em uma indústria de manufatura gera cerca de três ou quatro vagas terceirizados e mais dez postos de trabalho indiretos que não estão na conta.
Para que a sua previsão de impulso do setor de manufaturados se concretize, Santos ressalta a necessidade de uma reação do mercado interno. No entanto, a avaliação do presidente da AEB, José Augusto de Castro, é de que o cenário de incerteza ainda faça com que as empresas prefiram importar do que contratar trabalhadores para a produção dentro do mercado interno.
— A exportação não vai ajudar a gerar empregos porque a cada US$ 1 bilhão em produtos exportados são gerados entre 40 mil e 50 mil empregos. Mas, na verdade, as exportações devem cair bem mais do que US$ 1 bilhão.
A avaliação de Castro pode ser confirmada com os últimos resultados da produção industrial no Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o setor terminou o ano passado 6,6% menor que 2015. Trata-se da terceira queda anual negativo da indústria.
Agropecuária
Até mesmo a agropecuária, que até o meio de 2016 se mostrava alheio à crise como o único pilar da cadeia produtiva nacional a contratar mais do que demitir, viu a situação se reverter no último mês de 2016, com o corte de 48.265 postos formais de trabalho, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Com isso, o setor terminou o ano com 13.089 postos a menos.
Na avaliação dos especialistas ouvidos pelo R7, mesmo que a agropecuária desponte como a luz no fim do túnel para o mercado de trabalho nacional, a situação poderia ser diferente se o Brasil fosse um País com menor número de habitantes, explica Zanotto.
— O agronegócio é o setor mais pujante do Brasil, que é absolutamente necessário, mas não é suficiente para gerar os empregos que a agente precisa. Se o Brasil tivesse 40 milhões de pessoa, eu acho que o agronegócio, junto com os serviços e o turismo, resolveria a questão, mas o Brasil tem 210 milhões de habitantes.
Santos, do Dieese, afirma que as commodities — produtos primários com valor tabelado internacionalmente — não são geradoras de muitos empregos devido à mecanização cada vez mais evidente do ramo, que perde força de trabalho.
— Se você ver o contingente empregado no setor agrícola brasileiro, ele é muito pequeno em relação ao mercado de trabalho todo. […] Não é um setor que emprega muita gente como era no passado com a agricultura manual. Não é a agricultura familiar o polo dinâmico dentro da agricultura brasileira. Ela de fato emprega, mas o segmento mais dinâmico da agricultura brasileira é o agrobusiness de exportação e esse setor é extremamente tecnológico e mecanizado.
Fonte: R7
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