A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) apresentou nesta terça-feira uma proposta em que o governo ficaria com 10 por cento dos ganhos com exportações de soja, em um programa para ajudar a indústria local de processamento da oleaginosa.
O dinheiro coletado seria distribuído entre os processadores proporcionalmente às suas vendas de farelo de soja, para ajudá-los a competir nos mercados internacionais e impulsionar a capacidade de comprar soja no mercado doméstico, competindo com exportadores.
Juan Diego Ferrés, chairman da Ubrabio e o responsável pela proposta, disse que a ideia é compensar os processadores pela distorção do mercado causada pela disputa comercial entre a China e os Estados Unidos.
As tarifas impostas pelas duas maiores economias do mundo levaram a um aumento das exportações brasileiras de soja que, por sua vez, reduziram a oferta local e causaram uma alta acentuada nos preços domésticos da oleaginosa.
“O que está acontecendo é bom apenas para os agricultores. Está impactando o setor de processamento de soja”, ele disse à Reuters.
Ferrés, que também é diretor da Granol, uma das maiores processadores de soja do Brasil, com capacidade anual de esmagamento perto dos 4 milhões de toneladas, disse que as unidades sofrem o dobro na situação atual: elas pagam mais pela soja e não conseguem competir no mercado internacional de farelo e óleo de soja porque as esmagadoras dos EUA têm acesso a grãos baratos e, portanto, são mais competitivas.
Ele disse que a situação também está aumentando os custos para outros setores brasileiros, como o de carne, que terá que pagar mais pela oleaginosa, um ingrediente-chave em rações para aves e porcos.
A Ubrabio estimou que uma retenção de 10 por cento dos ganhos das exportações de soja em 2019 geraria cerca de 3,14 bilhões de dólares.
Questionado sobre possíveis protestos por agricultores, que perderiam parte de seus ganhos, Ferrés disse que o sistema seria benéfico para eles no fim, já que os processadores conseguiriam fazer ofertas mais altas pelos grãos no mercado doméstico, competindo com tradings de commodities e alavancando os preços.
“Além disso, ajudaria a gradualmente aumentar o processamento local, deixando a corrente mais forte e reduzindo a vulnerabilidade de ter 80 por cento das vendas de soja ligadas a um único cliente, a China”, ele disse.
A Ubrabio está tentando ganhar apoio de outros grupos agrícolas do Brasil, como a CNA, para convencer o próximo governo, encabeçado por Jair Bolsonaro (PSL), que assume em janeiro, a adotar a ideia.
Entretanto, a Associação Brasileira da Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que reúne tradings e processadores, já disse ser contrária à proposta da Ubrabio. A entidade tem negociado com a China, juntamente com o governo brasileiro, uma cota de importação no gigante asiático sem tarifa para o farelo de soja.
FONTE: REUTERS
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