Cultura

‘The Underground Railroad’ retrata a vida brutal de uma escrava em fuga nos EUA

“The Underground Railroad” estreia no Amazon Prime Video nesta semana

Barry Jenkins, diretor de “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, tinha um aviso para o elenco de “The Underground Railroad”, série em dez episódios que adapta o livro de mesmo nome de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer há quatro anos. “O set parece muito real, então isso pode despertar alguns sentimentos desagradáveis em vocês. Estejam cientes disso.”

O comunicado não é um exagero. “The Underground Railroad”, que estreia no Amazon Prime Video nesta semana, conta a história de Cora, papel de Thuso Mbedu, uma escrava em fuga de uma vida de violência física e sexual sofrida numa plantação de algodão no estado americano da Geórgia, no século 19.

Já no primeiro episódio, testemunhamos a mãe de Cora ensanguentada, segurando e enterrando uma placenta na terra suja. Em seguida, um garoto negro tem a cabeça rachada pelo golpe de bengala do patrão. Noutra sequência, um escravo é queimado vivo enquanto os fazendeiros brancos comem, bebem e riem no jardim, como se a cena fosse uma diversão comum de fim de tarde.

“Precisava ler a bússola ética e moral do limite aceitável e ser direto sobre a verdade que estava contando”, diz Jenkins, o diretor, em entrevista à imprensa mundial via Zoom. “Não para tentar caminhar nesse limite, mas para ter consciência sobre o que estávamos tentando comunicar.”

O zelo do diretor e criador reflete a preocupação para evitar a acusação de “explorar a dor da comunidade negra”, como aconteceu com “Them”, série de terror do mesmo Amazon Prime, que acabou sendo classificada como “puro pornô de degradação” pela crítica afro-americana Angelica Jade, do site Vulture.

Nela, uma família negra se muda para um bairro branco da cidade de Los Angeles em plena década de 1950 e sofre ataques reais e sobrenaturais.

“Todo mundo nas filmagens tinha a liberdade para dizer se estávamos perto dos limites, mesmo quando eu pedia algo”, acrescenta o diretor.

“Isso era tão importante quanto obter a cena certa ou a logística da produção. Provavelmente, era até mais importante, pois não vale a pena criar essas coisas se elas destruírem você no processo.”

E o processo foi longo -116 dias de filmagens na Geórgia, com direito a uma paralisação por causa da pandemia quando faltavam só três dias para o término dos trabalhos.

Não é que Barry Jenkins estivesse procurando um projeto fácil. Os direitos do livro “The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade”, publicado no Brasil pela HarperCollins, foram comprados antes mesmo de o diretor vencer o Oscar por “Moonlight”, em 2017. E, mesmo com um bom currículo em longas e episódios de “The Knick” e “Cara Gente Branca” na TV, Jenkins não queria transformar o épico de realismo fantástico de Colson Whitehead em filme.

“Existe uma razão para isso”, afirma o diretor dos dez episódios e roteirista de vários.

“O cinema é uma experiência de isolamento e eu queria que o público pudesse pausar, dar play e escolher com quem ver. Há imagens que estão enraizadas em fatos e elas poderiam ser prejudicadas pelo que chamo de imagens suaves. E eu queria dar espaço para Cora encontrar todas essas belas pessoas nesses episódios e passar o espectro total da sua jornada.”

Ao longo da temporada, descobrimos que a “ferrovia subterrânea”, organização clandestina -e verídica- formada por pessoas que ajudavam escravos a fugir do sul dos Estados Unidos para o norte, é literalmente uma ferrovia, que tem o mesmo objetivo.

“Quando ouvi falar nela quando criança, não sabia que era uma ferrovia falsa”, diz Jenkins. “Quando li a obra de Colson, senti isso de novo e me apoiei neste sentimento inocente.”

A maior parte dos episódios recebe o nome do estado americano em que os personagens se encontram.

O primeiro se passa na Geórgia e mostra a vida brutal de Cora até a escrava fugir com Caesar, papel de Aaron Pierre, e encontrar os trilhos da tal ferrovia subterrânea, que transporta escravos para longe.

As cenas com diversos trens foram as primeiras a serem filmadas e receberam uma atenção especial da equipe técnica.

“Trilhos, túneis e trens. Nada podia ser falso, não queria efeitos visuais e fundos azuis”, exalta o diretor, que alugou parte de uma ferrovia particular e trabalhou no set gigantesco à exaustão. “Era maior que imaginava. Até driblei a produção e me afastei para poder tirar uma foto do lugar”, conta a atriz Thuso Mbedu.

A obsessão em recriar memórias ancestrais era tão grande que Jenkins chegou a pedir que Mbedu se agachasse e socasse os trilhos na sua primeira cena na ferrovia.

“Ela deve ter me achado um maluco. Mas era importante contextualizar a situação. Era como se alienígenas de repente aparecessem na porta da sua casa para entregar uma pizza de calabresa.”

As abstrações continuam na viagem dos personagens. O segundo episódio passa para a Carolina do Sul, onde Cora descobre a verdade sinistra sobre uma comunidade aparentemente progressista. Na Carolina do Norte, ela precisa se esconder num sótão numa cidade onde negros só aparecem enforcados em árvores para servir de exemplo.

No quarto episódio, Jenkins muda o ponto de vista para a origem de Ridgeway, o caçador de escravos vivido pelo ator Joel Edgerton, de “O Grande Gatsby”. “Eu persegui Barry”, afirma o ator australiano. “Nós já tínhamos nos encontrado em alguns eventos e vários amigos me falaram do processo incrível dele.”

FONTE: FOLHAPRESS

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Marcio Martins martins

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