Autoridades confirmam tomada da cidade de Zaranj por insurgentes, em meio à ofensiva lançada pelo grupo após a retirada das tropas estrangeiras do país. Enviada da ONU diz que Afeganistão ruma para “catástrofe”.
O Talibã capturou sua primeira capital regional no Afeganistão em anos, enquanto se escala sua mais recente ofensiva lançada em maio, em meio à retirada das tropas estrangeiras do país, confirmou uma alta funcionária do governo local nesta sexta-feira (06/08).
“Posso confirmar: a cidade de Zaranj, capital da província de Nimroz, caiu nas mãos do Talibã”, declarou a vice-governadora, Rouh Gul Khairzad, à agência de notícias AFP.
Ela disse que a cidade, localizada perto da fronteira com o Irã, foi tomada “sem combate”. Um vídeo publicado nas redes sociais, cuja veracidade ainda não pôde ser confirmada, mostra insurgentes andando pelas ruas de Zaranj e sendo aplaudidos por residentes locais.
“A cidade esteve sob ameaça por um tempo, mas ninguém do governo central nos ouviu”, denunciou Khairzad. Um porta-voz da polícia de Nimroz também disse que a capital foi capturada devido à falta de reforços por parte do governo apoiado pelo Ocidente.
Por sua vez, um porta-voz do Talibã anunciou no Twitter que os insurgentes “libertaram completamente” a província e tomaram o controle da casa do governador, do quartel da polícia e de outros edifícios oficiais.
“Isto é o princípio, e veremos como outras províncias cairão nas nossas mãos muito em breve”, declarou um comandante talibã. Alguns relatos indicam que um acordo foi alcançado com os talibãs para permitir aos oficiais afegãos fugir para o Irã com as suas famílias.
Embora Zaranj não seja estrategicamente importante, a queda da cidade representa um golpe para o governo afegão, que luta para defender uma série de capitais provinciais contra a ofensiva do Talibã.
A última vez que os talibãs conquistaram uma capital provincial foi em 2016, quando detiveram, por um breve período, a cidade setentrional de Kunduz.
Os talibãs têm avançado sobre o Afeganistão nos últimos meses, lançando em maio uma ofensiva de grande envergadura que coincidiu com a retirada das forças americanas, após 20 anos de operações militares.
Até agora, o grupo controlava sobretudo vastas áreas de território rural, onde encontraram pouca resistência das forças governamentais – que por sua vez mantinham o controle das capitais provinciais e das principais estradas do país.
ONU pede fim dos ataques
Nesta sexta-feira, a enviada especial da ONU para o Afeganistão, Deborah Lyons, disse que a guerra no país entrou numa “nova fase, mais mortífera e mais destrutiva”, com mais de 1.000 civis mortos no último mês.
Lyons advertiu que o país se dirige para uma “catástrofe”, exigiu aos talibãs que ponham fim aos seus atentados a áreas urbanas, e apelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que emita uma “declaração sem ambiguidade de que os ataques a cidades têm que parar agora”.
“Creio que o Conselho de Segurança e a comunidade internacional, de forma mais geral, podem ajudar a evitar os piores cenários, mas isso exigirá atuar com unidade e atuar rapidamente”, afirmou a diplomata.
“Atacar áreas urbanas é causar, conscientemente, enormes danos e baixas civis maciças. Apesar disso, a ameaça sobre grandes áreas urbanas parece ser uma decisão estratégica dos talibãs, que aceitaram o massacre que se seguirá”, acrescentou.
Também nesta sexta-feira, o diretor do centro de comunicação e informação do Afeganistão foi assassinado por rebeldes na capital, Cabul. Os talibãs disseram que Dawa Khan Menapal foi “castigado” por seus atos.
O encarregado de negócios dos Estados Unidos no Afeganistão, Ross Wilson, escreveu no Twitter que estava “triste e enojado” com o assassinato. “Tais assassinatos são uma afronta aos direitos humanos e à liberdade de expressão dos afegãos”, acrescentou.
Alguns dias antes, um ataque à residência do ministro da Defesa, também em Cabul, fez pelo menos oito mortos.
FONTE: DEUTCHE WELLE COM AFP, AGÊNCIA LUSA E REUTERS
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