O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, renunciou ao cargo nesta terça-feira (26), uma semana depois de ter sobrevivido a um voto de confiança no Parlamento.
A renúncia foi oficializada em uma reunião com o presidente Sergio Mattarella e, paradoxalmente, é uma última tentativa do premiê de se manter no poder.
Sua decisão ainda é reflexo da crise aberta pelo ex-primeiro-ministro e senador Matteo Renzi, líder do pequeno partido de centro Itália Viva (IV), que decidiu romper com o governo por discordar de suas políticas econômicas e para a gestão de repasses da União Europeia.
Conte foi obrigado a pedir o voto de confiança do Parlamento na semana passada e conseguiu uma maioria estreita na Câmara dos Deputados (321 votos de um total de 630), porém teve de se contentar com uma maioria relativa no Senado (154 de 320), obtida graças à abstenção de 16 membros do IV.
No entanto, com a expectativa de uma derrota na votação no Senado na quarta-feira (27) sobre um relatório do ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, o que causaria a queda do governo, Conte decidiu se antecipar e entregar o cargo.
Seu objetivo é obter do presidente Mattarella um mandato para tentar formar um novo governo – seu terceiro em menos de três anos -, porém desta vez com uma maioria sólida no Parlamento.
Conte tem o apoio do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), do centro-esquerdista Partido Democrático (PD) e de legendas nanicas do campo progressista, mas precisará atrair senadores da oposição conservadora ou eventuais dissidentes do Itália Viva.
Também existe a hipótese de reabrir negociações com o partido de Renzi, embora essa alternativa tenha sido descartada na semana passada por representes do M5S e do PD. “Se Conte não colocar vetos contra o IV, a delegação do IV não colocará vetos contra seu nome”, disse uma fonte da legenda centrista na noite da última segunda-feira (25).
Próximos passos
Com a renúncia de Conte em mãos, Mattarella deve iniciar consultas com os partidos para verificar a possibilidade de se construir uma nova maioria no Parlamento.
O presidente poderia, inclusive, indicar outra pessoa para formar um governo, dependendo dos resultados das conversas com as legendas. Alguns membros do M5S e do PD dizem nos bastidores que a prioridade é evitar eleições antecipadas – o próximo pleito está previsto para 2023 – em plena pandemia, e não reeleger Conte.
Os partidos de extrema direita Liga, de Matteo Salvini, e Irmãos da Itália (FdI), de Giorgia Meloni, querem a convocação de eleições, enquanto o moderado Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, que poderia ser redimensionado por uma ida antecipada às urnas, já defendeu um “governo de união nacional” para administrar a Itália nos próximos meses de pandemia.
O país é um dos mais atingidos pelo novo coronavírus e tem uma das maiores taxas de mortalidade por Covid-19 em todo o mundo, com 141,42 óbitos para cada 100 mil habitantes. Segundo a Universidade Johns Hopkins, esse índice é inferior apenas aos de San Marino (que fica dentro da Itália), Bélgica, Eslovênia, Reino Unido e República Tcheca.
Trajetória
Desconhecido da maioria dos italianos até o primeiro semestre de 2018, Conte é advogado de carreira e assumiu o cargo de premiê em 1º de junho daquele ano, sem ter sido eleito para o Parlamento.
Seu nome foi indicado pelo M5S para chefiar o governo de aliança com a Liga, que duraria até setembro de 2019. Após a crise aberta por Salvini, o PD e partidos menores de esquerda entraram na base aliada para evitar eleições antecipadas, que provavelmente dariam a vitória ao ex-ministro do Interior.
FONTE: ANSA
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