Resenha Politica

Segundo o prefeito da capital, diferente da Sputnik V que ainda aguarda a liberação pela ANVISA, a vacina adquirida pelo município está liberada para importação – Por Róbson Oliveira

PERPLEXIDADE 

Ouvi atentamente uma entrevista concedida por um médico de São Paulo a uma emissora de rádio e TV da capital sobre o tratamento precoce da Covid-19, antes da infecção. É um tema que deveria ficar circunscrito aos especialistas, mas passou a ser abordado pelos generalistas, embora médicos. O que causou perplexidade a este cabeça chata foi uma afirmação do entrevistado garantindo que o lockdown não traz serventia nenhuma, ao contrário, teria provocado um aumento de 14% de mortes em relação às cidades que não adotaram. Para dar veracidade à declaração, o entrevistado indicou uma fonte que, verificada pela coluna, não é conclusiva da forma como foi dita. Perplexidade é pouco.  

 

LOCKDOWN 

Dois artigos publicados na revista Nature, disponíveis na internet, já apresentavam desde julho do ano passado estimativas dos efeitos iniciais das medidas restritivas. Um deles (Hsiang et al), tratando das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido “evitadas ou adiadas” graças às restrições. Outro (Flaxman et al), sobre 11 nações europeias, calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições. São números expressivos que majoritariamente a comunidade científica atesta como corretos. Não há um único trabalho sério dos negacionistas, com conclusões contrárias,  que seja utilizado como referência pelos especialistas e cientistas. Exceto os médicos generalistas.  

 

EXEMPLOS  

A literatura não para por aí. Em julho, artigo no British Medical Journal (Islam et al), avaliando medidas de distanciamento social em 149 países – de restrições ao transporte público, passando pela proibição de aglomerações públicas e chegando ao lockdown (definido pelos autores como controle da movimentação dos cidadãos) – estima que tais medidas, em conjunto, haviam causado uma redução média de 13% na incidência da Covid-19; sendo a adoção de lockdown nos estágios iniciais da intervenção um fator que amplificou o benefício. Tais informações podem ser encontradas no site Viva Bem, referência sobre Covid.  

 

FALSO 

Não bastassem os dados confusos e informações científicas questionáveis, durante a entrevista o médico disse sem nenhum pejo que as medidas restritivas adotadas pela cidade paulistana de Araraquara foram inócuas. Verificando os dados oficiais disponíveis no site do município vamos concluir que a declaração não se sustenta e que, o lockdown adotado no interior paulista, foi exitoso. Ora, afirmar que durante a decretação dessas medidas restritivas teria aumentado as mortes é um absurdo, em razão de que, para aferirmos os dados, os casos que confirmam as infecções ocorrem sete dias após o lockdown. Portanto, no números de mortos que eventualmente sejam computados durante a adoção destas medidas, a infecção ocorreu antes do decreto de isolamento. E não durante o lockdwon.  

 

CURIOSIDADE 

Para defender o chamado tratamento precoce, ou seja, o uso daquelas drogas que cientificamente não combatem o coronavírus (ivermectina, hidroxocloroquina, entre outras), os generalistas utilizam de contorcionismos farmacológicos como lastro terapeuta. Uma curiosidade não passa despercebida da coluna, visto que aqui é onde concentra uma parcela enorme de profissionais da medicina que defende o uso terapêutico precoce com o kit covid. E o curioso é que a capital rondoniense é proporcionalmente a segunda do país com mais óbitos. Daria um bom material de estudo investigatório se tais fatos têm a ver um com o outro. O resultado dissiparia a lorota que propagam por aí nossas autoridades.  

 

ADESÃO 

Em uma live feita pelo governador Marcos Rocha com profissionais da medicina ficou clara a defesa do chefe do executivo estadual do uso precoce com o kit covid na rede estadual. Como é um defensor do tratamento precoce, concluímos que Marcos Rocha seja também um usuário do kit. Nem assim se livrou de passar duas semanas internado numa unidade hospitalar privada da capital quando precisou dos cuidados para curar das consequências infeciosas provocadas pelo coronavírus, conforme anunciou ano passado pelas mídias sociais. Marcos Rocha é prova real que o kit não tem serventia, confirmando o que dizem os especialistas em doenças infeciosas e parasitárias e todo o mundo científico.  Tempos difíceis, impensáveis há pouco tempo, ter que lidar com a ignorância que mata.

 

DROGAS 

Apenas uma afirmação a coluna concorda com o médico entrevistado, utiliza o kit vermífugo quem quiser. Nem os médicos que fazem dessas drogas uma salvação podem prescrever sem que o paciente concorde. Embora seja uma justificativa igualmente falsa porque a pessoa doente segue toda a prescrição do seu médico. Somente os mais curiosos que leem as bulas e verificam a composição das drogas é que eventualmente questionam algumas prescrições. 

 

RUPTURA  

Independentemente das simpatias ou não com o governo do presidente Jair Bolsonaro, apenas o debate de uma suposta ruptura constitucional é algo grave em qualquer democracia digna de respeito. Os filhos e seguidores do presidente insistem em flertar com um golpe constitucional, o que é absolutamente reprovável, inclusive em razão dos acenos do mandatário. A crise aberta com a demissão do Ministro da Defesa, ao se opor que as Forças Armadas sejam envolvidas com a política, revela a faceta mais sombria de um governante que flerta desde o primeiro dia de governo com a ruptura constitucional. Ainda bem que nossas forças são fortes o suficiente para evitar aventuras de um louco qualquer. Pelo menos por enquanto… 

 

VACINAS EM PORTO VELHO

Todas as tratativas burocráticas exigidas pelas negociações internacionais para que o município de Porto Velho adquira as quatrocentas mil doses de vacinas AstraZeneca estão sendo concluídas. Mesmo com alguns setores políticos  torcendo contra por razões mesquinhas, as negociações estão avançadas com o Fundo Americano investidor da vacina produzida por Oxford. O prefeito Hildon Chaves tem se empenhado pessoalmente para vencer os entraves burocráticos em razão das normas rígidas envolvendo a compra. No momento, por exigência do Banco Central, o município está encaminhando a documentação suplementar para que a carta financeira seja expedida em favor do Fundo.  

 

PROGRAMAÇÃO 

Segundo o prefeito da capital, diferente da Sputnik V que ainda aguarda a liberação pela ANVISA, a vacina adquirida pelo município está liberada para importação. A programação de trintas dias, conforme anunciado, ainda se mantém. Embora sejam tratativas de importação complexas e que exigem uma logística eficiente.  

 

PROGRAMAÇÃO II 

Instado a falar sobre um eventual atraso, propagado pelos adversários, o prefeito disse que lamenta alguém torcer contra a compra da única salvação para conter a pandemia. “Minha parte estou fazendo. Não fiquei parado esperando que o Ministério da Saúde consiga enviar as doses suficientes para imunizar a população de Porto Velho, fui atrás e estamos comprando. Caberá agora o vendedor cumprir sua parte. O que espero que ocorra dentro do programado. Torço para que o governo estadual e outros municípios de Rondônia também consigam adquirir as vacinas para que possamos voltar à nova normalidade”, observou Chaves.  

 

GOLPE 

Hildon explicou que todos os cuidados foram adotados pela prefeitura da capital para que os recursos destinados à compra da vacina não sejam surrupiados. Por se tratar de uma operação comercial complexa a prefeitura exigiu da contratada um seguro que ateste as vacinas, a segurança do transporte até Porto Velho e indenização na hipótese de extravio da carga. A possibilidade de o negócio virar um engodo é mínima. “Tudo que está ao nosso alcance para a compra das vacinas está sendo providenciado. Sou um otimista e tenho certeza que o vendedor vai entregar o mais rápido possível, mesmo com a preferência de envio para os países que responsavelmente primeiro adquiriram”, frisou.  

REFELEXÃO 

O leitor, Maurílio Vasconcelos, um dos mais bem informados, envia à reflexão os seguintes dados:

“Caro amigo, o governo do estado recebeu do Ministério da Saúde 70.408 doses, e o governador promete comprar mais 1 milhão de doses. Com as quatrocentos mil doses anunciadas pelo prefeito da capital teremos a disposição do estado um milhão e quatrocentas e setenta mil e quatrocentas e oito doses para uma população de um milhão setecentos e quarenta e nove habitantes. Caso tudo dê certo teremos um dos maiores percentuais de vacinação no Brasil, com 84,07% de pessoas vacinadas. Assim sendo só perderíamos para Israel. Hoje nosso percentual de vacinados é um dos menores entre os estados do Brasil”.  Concordo com Maurílio Vasconcelos, intelectual da melhor cepa. Resta agora a pergunta: combinaram com os Russos?

AUTOR: RÓBSON OLIVEIRA –  JORNALISTA / COLUNA RESENHA POLITICA

  • A opinião dos colunistas colaboradores não reflete necessariamente a posição da Folha Rondoniense

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