Há um ano, parcela de acordos coletivos com perdas foi três vezes menor
RIO – Em março, cerca de dois terços (60,2% ou 114) das negociações coletivas entre trabalhadores e empresas resultaram em ajustes salariais abaixo da inflação acumulada em 12 meses, que foi de 11,1%, de acordo com o INPC. Há um ano, a parcela de negociações com perdas salariais foi três vezes menor, ficou em 21,7%. Os dados são do “Salariômetro”, estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Ecomômicas (Fipe) divulgado mensalmente. A mediana dos ajustes salariais com vigência em março foi de 11%. Desde julho do ano passado, a mediana dos ajustes aplicados a cada mês tem ficado igual ou abaixo da inflação acumulada até o período.
— Nos últimos meses vem crescendo os casos em que o trabalhador não consegue a reposição da inflação. A recessão está quebrando a indexação salarial — analisa Hélio Zylberstajn, coordenador do estudo e professor da USP.
Dos 189 acordos coletivos que trataram de ajustes salariais, 12 estabeleceram redução de jornada acompanhada de redução de salários. Destes, seis utilizaram o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que foi lançado no ano passado e possibilita que a jornada e o salário do funcionário sejam reduzidos, com o governo subsidiando metade da redução salarial, para amenizar o impacto no bolso do trabalhador.
— Com o desemprego crescendo, o poder de barganha do trabalhador diminui e, com as empresas não podendo repassar todo o aumento de custos para os preços, reduzem salários, reajustes e estão partindo mais para as demissões. De modo geral, é um momento muito ruim para quem vive de salário — explica Zylberstajn.
Por categoria, nos últimos 12 meses, os cinco grupos de trabalhadores quetiveram os maiores ganhos reais nas negociações coletivas foram: de confecções e vestuário (ganho real de 1,1%), de bancos e serviços financeiros (0,7%), distribuição cinematográfica (0,5%), transporte, armazenagem e comunicação (0,2%) e indústria cinematográfica e fotografia (0,1%). As cinco maiores perdas nas negociações coletivas foram registradas por trabalhadores na extração e refino de petróleo (reajuste 4,4% menor do que a inflação), do agronegócio da cana (-1,4%), da indústria do vidro (-1,3%), de condomínios e edifícios (-0,9%) e de outros serviços (-0,9%).
Para o coordenador do estudo, o ganho real de 1,1% obtido por trabalhadores de fábricas de roupas reflete os efeitos do dólar mais alto, que têm impulsionado as exportações e reduzido a compra de peças de vestuário importadas.
— Olhando para frente não vejo nenhum sinal de melhora, pois o desemprego continua crescendo e com a inflação base alta, é mais difícil ainda conseguir um aumento real. As negociações coletivas vão seguir sem conseguir repor a inflação.
A mediana do piso salarial com vigência em março foi R$ 970, 10,2% maior do que o salário mínimo, que é de R$ 880. O estudo também analisou a mediana dos pisos salariais por categoria nos últimos 12 meses. Trabalhadores de distribuição cinematográfica têm o maior, de R$ 1.264, enquanto os funcionários de estacionamentos e garagens têm o menor, de R$ 865. Além desta categoria, têm remuneração inferior a um salário mínimo os trabalhadores de feiras, eventos e divulgações (R$ 868).
Para o boletim de março, a Fipe analisou 581 negociações com início de vigência naquele mês. Deste montante, 189 trataram de ajustes salariais e 169 de pisos salariais.
Fonte: oglobo
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