O governador de RO, Marcos Rocha (União Brasil), decidiu não endossar a carta com compromisso de desenvolvimento sustentável na Amazônia
O governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), decidiu não endossar a carta com compromisso de desenvolvimento sustentável na Amazônia, não participar da entrega do documento ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e empurrar para 2023 um encontro com o petista para tratar do assunto.
A postura de Rocha, o mais bolsonarista dos governadores da região, evidencia uma dissidência no Consórcio Amazônia Legal, formado pelos nove estados amazônicos: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Desde a eleição de Lula em 30 de outubro, governadores bolsonaristas, que se elegeram e se reelegeram na onda do movimento antiambiental capitaneado por Bolsonaro, passaram a dar sinais de alinhamento ao presidente eleito.
Lula prometeu zerar o desmatamento na Amazônia, retomar a fiscalização ambiental e acabar com garimpos ilegais em terras indígenas.
O movimento é feito inclusive por governadores da região chamada de Amacro (sul do Amazonas, Acre e Rondônia), que concentra um dos principais arcos de devastação da Amazônia.
Os governadores do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), e do Acre, Gladson Cameli (PP), deram sinais de disposição ao diálogo com Lula.
A exceção, no caso da Amacro, é o governo de Rondônia, que virou um bastião do bolsonarismo na Amazônia, em meio à explosão de queimadas após a derrota do presidente, como a Folha de S.Paulo mostrou no último dia 18, e a atos golpistas nas rodovias que incendiaram caminhões, depredaram veículos e terminaram com prisões de manifestantes contrariados com o resultado das urnas.
O governador Marcos Rocha foi à COP27, a conferência do clima da ONU, e decidiu não assinar a carta divulgada em evento pelos governadores da Amazônia, como confirmou a assessoria do chefe do Executivo durante sua participação no encontro, encerrado no último domingo (20) no Egito.
A carta foi entregue a Lula. Rocha também não participou da entrega do documento ao presidente eleito, segundo integrantes do consórcio de governadores.
Em Rondônia, Bolsonaro teve votação superior a 70% dos votos válidos no segundo turno. O índice foi semelhante no Acre.
Os governadores desses estados surfaram na onda do bolsonarismo para serem reeleitos. Mas Cameli, o governador do Acre, endossou a carta do consórcio, participou da entrega do documento a Lula na COP27 e vem dando declarações favoráveis a ações de fiscalização ambiental.
A reportagem questionou a assessoria do governador de Rondônia sobre as razões para não endossar o documento. O governo disse que não apresentará essas razões no momento.
“O governador tratará da pauta em reunião no próximo ano com o presidente eleito. Fará agendamento da reunião e tratará da pauta”, disse a gestão, em nota.
Os governos dos estados da Amazônia Legal estiveram presentes na COP27, na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, em busca de recursos internacionais atrelados a redução de desmatamento e de emissões de carbono.
O único estado sem delegação representante foi o de Roraima, segundo o consórcio de governadores. O governador reeleito, Antonio Denarium (PP), também é bolsonarista e está alinhado à política de enfraquecimento da fiscalização ambiental.
Na carta divulgada no evento, os governos dizem se comprometer com “políticas orientadas à conservação e ao desenvolvimento sustentável da região”.
Enquanto Rocha estava na COP27, as queimadas em Rondônia em novembro ganhavam proporção nunca vista, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
De 1º a 16 de novembro, satélites do Inpe detectaram 1.602 focos de calor no estado, especialmente nas regiões de Porto Velho e Nova Mamoré. No mesmo período em 2021, foram apenas 84 focos. O aumento foi, assim, de 1.807%.
Novembro é um mês em que as queimadas tendem a cair na Amazônia, pela intensificação do período chuvoso. Os picos costumam ocorrer em setembro e outubro. Em Rondônia e no Acre, houve, porém, mais queimadas em novembro do que em outubro, levando em conta a primeira metade do mês.
Em nota, a Sedam (Secretaria de Desenvolvimento Ambiental) de Rondônia disse que atua na prevenção e no combate às queimadas.
Em 2022, houve 29 operações, segundo a secretaria, com 18 autuações por queimada, 289 por desmatamento e 259 áreas embargadas.
“Foram adquiridos diversos equipamentos como drones e viaturas especificamente para essa finalidade”, afirmou. Conforme a Sedam, houve ainda operação conjunta com o Ministério da Justiça para combate ao desmatamento.
Nas rodovias federais que cortam Rondônia, manifestantes golpistas a favor de Bolsonaro incendiaram caminhões e depredaram veículos. Pelo menos oito pessoas foram presas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) no último fim de semana. Na segunda (21), ainda existiam oito pontos de interdição.
A PM de Rondônia diz dar suporte à PRF nas iniciativas de combate aos bloqueios. Nas rodovias estaduais, houve a desmobilização do que seria um último bloqueio no fim da tarde desta segunda. Segundo a PM, não houve uso de força nem prisão nessas rodovias.
FONTE: FOLHAPRESS
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