Sem ar-condicionado na maioria das celas, quando temperaturas externas passam dos 40ºC, a sensação dentro pode ser maior
Na tarde de terça-feira, 4 de julho, quando os Estados Unidos comemoraram o aniversário da independência com fogos de artifício, Joseph desmaiou em sua cela no Texas, em meio ao calor excessivo que atinge o sul dos Estados Unidos nestes dias.
Nesses recintos de concreto, tijolo e metal, ventiladores industriais espalham o vapor quente no ambiente. Sem ar-condicionado na maioria dos presídios, quando as temperaturas externas passam dos 40ºC, a sensação dentro pode ser maior.
Alguns prisioneiros derrubam o banheiro em sua cela para transbordar a água, molham o chão e dormem ali mesmo sobre o concreto. Outros molham a roupa para se refrescar, segundo relatos à AFP de presidiários, ex-presidiários e familiares.
Nas últimas semanas, Joseph Martire, de 35 anos, teve quatro problemas de saúde relacionados ao calor no presídio de Estelle em Hunstville, onde serviu por 16 anos. “Eu desmaiei, mas eles não estão me tratando”, disse por telefone à família, que pediu ajuda à administração da prisão.
“Quando outros detentos percebem que alguém desmaiou por causa do calor, eles gritam para chamar a atenção de um policial, mas a falta de pessoal atrasa a ajuda”, diz Martire. Eles são então levados para uma área administrativa do presídio que tem ar-condicionado, a qual chamam de “respiro”, onde tentam ficar o maior tempo possível.
“Já estou com vários problemas de saúde por causa do calor e não quero mais ter” esses problemas, detalha.
Segundo Amite Dominick, presidente da organização humanitária Defensores para Prisões na Comunidade do Texas (TPCA, na sigla em inglês), a sensação é “como a de estar trancado no carro com mais de 40ºC, usar um secador de cabelo para respirar e abrir um pouco a janela”.
Samantha, mãe de uma presidiária de 25 anos que não quis se identificar, conta que em junho três detentas morreram por causa do calor na prisão de Lane Murray, onde está sua filha. “A forma como elas são tratadas é desumana”, denuncia.
“Com essas temperaturas, seu corpo e sua mente entram em modo de sobrevivência”, explica Marci Marie Simmons, ex-presidiária e ativista, de 44 anos. Ela denuncia que, no final de junho, um detento de 36 anos morreu no presídio de Estelle horas depois de conversar com sua mãe e reclamar do calor.
“Se você deixar um animal de estimação em um carro trancado no calor, você vai para a prisão. No entanto, o estado do Texas quer cozinhar seus cidadãos [na prisão]. Alguns têm acusações estúpidas por drogas, mas são condenados à morte porque não aguentam o calor”, diz Michelle Lively, cujo namorado Shawn McMahon, de 49 anos, está na prisão de Wynne.
Os funcionários da prisão também expuseram à imprensa suas reivindicações sobre as condições em que trabalham.
Dominick explica que os projetos de lei para exigir ar-condicionado nos presídios são barrados no senado do Texas, de maioria conservadora.
“O TDCJ gastou 750 mil dólares (3,6 milhões de reais, na cotação atual) em ar-condicionado” para um projeto de criação de porcos nos últimos anos, “mas não é adequado para humanos”.
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