Justiça

Número de negros nas eleições cresce 9%; maioria dos candidatos é branca

Do total de registros, 52,8% dos candidatos são brancos, 0,6% se declaram amarelos e 0,5% são indígenas

As eleições gerais de 2018 têm ao menos 1.323 candidatos a mais em relação à disputa de 2014. Enquanto o número de postulantes que se declaram brancos se manteve estável, com variação de 1%, o número de candidatos negros (que somam pretos e pardos) cresceu 9,2%, passando de 11.580 há quatro anos para 12.651 nesta eleição. Com essa alta, os negros representam 46% do total de candidaturas no pleito deste ano, contra 44,3% em 2014.

Do total de registros, 52,8% dos candidatos são brancos, 0,6% se declaram amarelos e 0,5% são indígenas.

A entrada de mais 1.071 candidatos negros ajudou a alavancar o crescimento no número de pessoas disputando mandatos eletivos. Na eleição deste ano, o Brasil terá 27.485 nomes em disputa, 5% a mais em relação a 2014. Os cargos sujeitos à escolha do eleitor neste ano são para presidente da República e seu vice, governadores e seu vices, deputados federal, distrital e estadual, senador e seus suplentes.

O formulário de registro de candidatura do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pergunta a cor do candidato. Como opção, ele tem amarelo, branco indígena, preto ou pardo, seguindo categorias de classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para definir a classificação de negros, é comum que seja somada a população preta à população parda a fim de formar um único grupo, de acordo com os critérios do IBGE. Portanto, usar o termo preto não é equivalente a usar a categoria negro, que pode incluir os pardos.

Neste ano, 12.651 pessoas que se declaram negras registraram candidatura a um dos cargos, contra 11.580 há quatro anos. Dentro desse universo, o número daqueles que se declaram pretos saltou 22%, enquanto o número de pardos subiu 5,9%.

No Brasil, de acordo com números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgados no fim do ano passado, a população é formada em maioria por negros: 54,9%, sendo 46,7% de pardos e 8,2% de pretos. Em números absolutos, o grupo representa 112,7 milhões de pessoas dos 205,5 milhões de brasileiros.

É preciso dar fim a “intermediários”, diz candidata

Thais Ferreira, candidata a deputada estadual pelo PSOL no Rio de Janeiro, é uma delas. Autodeclarada preta no registro do TSE, ela disse entender que é preciso dar fim “aos intermediários”, isto é, políticos que dialogariam com a população negra, mas que não teriam representatividade efetiva em relação aos anseios desse grupo social.

Na visão dela, os números mostram que há um “levante” e que os negros estão mobilizados para ocupar “espaços necessários”. “A gente tem cada vez mais consciência que o negro é a maior força eleitoral do Brasil. Esse movimento de crescimento pode ser considerado cada vez mais legítimo e natural.”

A baiana Camila Godinho, que concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados pela Rede, diz que, além de maior interesse da população negra pela política, os dados indicam uma demanda de representatividade na vida pública.

Segundo ela, “não dá mais para aceitar que a política tenha pessoas que não representam o país”, formado majoritariamente por negros. “A gente precisa ter uma política que seja objetivamente representativa”, avaliou a postulante a deputada.

“Como que as minhas pautas e as pautas da população negra em geral serão representadas por meio de leis se o país não tem representantes para defendê-las?”, diz ela. “Esse aumento ocorre muito porque existe aí uma consciência de que o negro precisa, de fato, estar na vida pública. Só assim para que as nossas pautas tenham voz e vez tanto na priorização delas quanto no encaminhamento”, completou.

Os dados são do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), atualizados às 14h02 desta sexta-feira (17), e ainda podem sofrer alterações. O número representa os pedidos feitos ao TSE, que avalia se o candidato está apto ou não para concorrer.

Thais observou, no entanto, que muitos candidatos estreantes devem enfrentar problemas relacionados à escassez de recursos. Com o fim do financiamento privado de campanhas, alguns partidos têm concentrado o dinheiro do fundo eleitoral para os políticos que já são conhecidos, como aqueles que buscam a reeleição.

“Campanha custa dinheiro e é caro, sim. Esse não é o único problema, mas é um deles. O financiamento público pode acabar excluindo quem está tentando entrar para a política e não tem recursos próprios”, comentou.

FONTE: UOL

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Gomes Oliveira

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