Médico do Congo e ativista dos direitos humanos yazidis, que foi escrava sexual no Iraque, foram premiados
O prêmio Nobel da Paz de 2018 foi concedido nesta sexta-feira (5) ao médico congolês Denis Mukwege e à ativista yazidi Nadia Murad por seus esforços contra o uso de violência sexual como arma de guerra.
Ao anunciar a premiação, o comitê do Nobel afirmou que o ginecologista Mukwege, da República Democrática do Congo, tem sido “o símbolo principal e mais unificador tanto nacional quanto internacionalmente da luta para pôr fim ao uso de violência sexual em guerras e conflitos armados”.
Nadia Murad, membro da minoria religiosa yazidi no Iraque, foi capturada pelo Estado Islâmico em 2014, estuprada repetidamente e sujeitada a outros abusos. Segundo o comitê, ela demonstrou “coragem incalculável ao recontar seu próprio sofrimento”.
“Denis Mukwege é o agente que devotou sua vida a defender essas vítimas. Nadia Murad é a testemunha que nos conta dos abusos cometidos contra ele e outros”, afirmou Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel.
“Ambos colocaram sua própria segurança pessoa em risco ao combater de forma corajosa crimes de guerra e assegurar justiça para as vítimas”, acrescentou. “Um mundo mais pacífico só pode ser alcançado se as mulheres, sua segurança e os direitos fundamentais são reconhecidos e preservados em tempos de guerra.”
A ONU celebrou o “anúncio fantástico, que ajudará a fazer avançar o combate contra a violência sexual como arma de guerra nos conflitos”.
“É uma causa muito importante para as Nações Unidas”, afirmou a porta-voz da ONU em Genebra, Alessandra Vellucci.
A premiação ocorre após um ano em que o abuso de mulheres esteve no centro do debate internacional.Questionada sobre o movimento Me Too inspirou a premiação deste ano, Reiss-Andersen afirmou: “Me Too e crimes de guerra não são exatamente a mesma coisa. Mas eles têm em comum o fato de verem o sofrimento das mulheres, o abuso a mulheres, e é importante que mulheres deixem para trás o conceito de vergonha e falem.”
Mukwege lidera no hospital Panzi, na cidade de Bukavu, na República Democrática do Congo. Aberta em 1999, a clínica atende milhares de mulheres todos os anos, muitas das quais necessitam de cirurgia após a violência sofrida.
Homens armados tentaram matá-lo em 2012, fazendo com que deixasse temporariamente o país. Aos 25 anos, Murad é a segunda laureada mais jovem na história do Nobel da Paz. A mais nova continua sendo a paquistanesa Malala.
Ela foi capturada pelo Estado Islâmico ao lado das irmãs no vilarejo de Kocho, na província iraquiana de Sinjar, no norte do Iraque. Perdeu seis irmãos e a mãe quando os extremistas mataram todos os homens e todas as mulheres consideradas velhas demais para serem sexualmente exploradas. Murad conseguiu escapar após três meses.
Em 2016, Murad obteve o premiê de direitos humanos concedido pela União Europeia, o Sakharov, ao lado também yazidi Lamiya Aji Bashar. No mesmo ano, ela obteve o premiê de direitos Václav Havel, concedido pelo Conselho Europeu.
Aos 23 anos, ela foi indicada como a primeira Embaixadora da ONU para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico Humano.
Em 2017, Murad publicou o livro de memórias “The Last Girl” (“A Última Menina”, sem edição em português). “A certo ponto, havia estupro e nada mais. Isso se tornava seu dia normal”, escreveu.
Estima-se que 3 mil mulheres e meninas yazidi tenham sido vítimas de violência sexual e outros abusos pelo Estado Islâmico.
Mukewege e Murad não foram ainda informados da informação pelo comitê.”Se vocês estão assistindo isso, meus parabéns.”
O prêmio em 2018 é de 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 1,01 milhão ou R$ 3,9 milhões. No ano passado, o premiado foi a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares.
A premiação será entregue em Oslo em 10 de dezembro, aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que criou a premiação em seu testamento, em 1895.
FONTE: FOLHAPRESS
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