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No jogo do clima, Brasil age como cego

Dentro de mais alguns dias, os principais líderes mundiais, negociadores, especialistas e representantes de ONGs chegarão a Lima, no Peru, para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 20. O encontro terá um papel chave para decidir como os países irão se comportar em relação às mudanças climáticas daqui para frente. A expectativa é que saia desse encontro ao menos um esboço de um acordo global que, teoricamente, deverá ser assinado na próxima conferência, no ano que vem, em Paris. Mas tudo ainda é só uma grande promessa e até lá, haverá muita discussão.

>> Estamos chegando a um ponto sem volta na perda de biodiversidade

O que temos de concreto, por ora, é o recado que veio do painel de cientistas da Convenção do Clima, o IPCC, no início de novembro, por meio do mais novo relatório desse grupo que abriga os principais especialistas do mundo na questão climática. Na verdade, o que o documento traz é uma advertência.

Se as emissões de CO2 não começarem a cair ainda nesta década, diz o relatório, dificilmente vamos evitar que que a temperatura do planeta suba menos do que 2°C, o que parece pouco aos olhos mais apressados, mas esse número traz consigo um cenário carregado de graves implicações ambientais, econômicas e sociais para todo mundo, indistintamente, mas sobretudo para os mais pobres e com menores chances de adaptação ao que vem por aí. E para evitar o colapso climático, as emissões de carbono precisam cair até 70% por volta de 2050 e chegar a zero em 2100.

O que os resultados desse relatório apontam é que cada país terá de fazer sua parte e cortar as emissões onde e como puder. E o mais rápido possível.

O Brasil, que vinha demonstrando uma certa capacidade de conter os altos índices de emissões de carbono pelo desmatamento na Amazônia, começa a dar sinais de que pode estar engatando uma marcha a ré de consequências desastrosas.

O desmatamento na região voltou a crescer, conforme indicam os principais sistemas de monitoramento existentes hoje no país. No período 2011-2012, segundo dados oficiais do INPE, a área desmatada foi de 4.500 km2. No período imediatamente posterior, chegou a 5.891 Km2. E a próxima taxa a ser divulgada pelo PRODES – o dado oficial do país – para o período 2013-2014 tende a confirmar o descontrole.

É o que mostra as estimativas do DETER, um segundo sistema de monitoramento do desmatamento, também do INPE, que aponta as tendências crescentes da atividade.

Some-se a isso, uma política energética que hoje tem nas termelétricas sua principal matriz, altamente poluente e emissora de gases de efeito estufa. Ao contrário de todo o mundo desenvolvido, o Brasil prefere ignorar o grande potencial solar e eólico de que dispõe. Só interessa o pré-sal e seus royalties sedutores. Os constantes incentivos governamentais à compra de automóveis segue na mesma estrada, aliados, em uma forma de pacote, aos subsídios econômicos concedidos continuamente para tornar os preços da gasolina, um combustível fóssil, mais atrativo como opção energética.

Com isso, o setor energético nacional vai dando sua pesada contribuição para o aquecimento global. E a mesma lógica vale para o setor agropecuário. Em 2012, o impacto do agronegócio brasileiro sobre as emissões foi da ordem de 64% (32% devido ao desmatamento, 30% por emissões diretas causadas pelo sistema de produção e 2% na conta do uso de energia na agricultura), segundo dados do Observatório do Clima.

Ou seja, meus amigos, o Brasil está perdendo seu papel de líder nas discussões climáticas globais. Ao ser convidado a assinar um importante acordo entre governos, ONGs e empresas de todo o mundo para reduzir à metade o corte de florestas até 2020 e zerá-lo até a década seguinte, o governo surpreendeu a comunidade internacional, recusando-se a firmar o documento durante a Cúpula de Nova York, em setembro passado.

E em que ponto essas questões reverberam na vida cotidiana das pessoas? O aquecimento global tem trazido sérias mudanças no clima, eventos extremos e imprevisíveis – excesso ou falta de chuvas, furacões…

Em São Paulo, vivemos neste momento uma severa estiagem que ameaça tanto o abastecimento de água para a população como a segurança energética das famílias, já que grande parte da energia elétrica consumida vem de hidrelétricas e seus reservatórios estão na lona.

A continuidade desse padrão de emissões elevadas não vai causar apenas grave degradação ambiental, mas tende a provocar cada vez mais impactos na qualidade de vida das pessoas que moram nas cidades ou mesmo na zona rural.

Essa tem sido a opção brasileira, opção política e econômica e que se mostra desastrosa nesses dois campos. O Brasil aposta cegamente em um jogo que, do ponto de vista global, todos perderemos no final das contas.

 

Fonte: ÉPOCA

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