Morador da Faixa de Gaza, Jairy aproveitou a calma das primeiras horas da nova trégua decretada no confronto entre Israel e o Hamas para voltar a sua casa. Mas o cenário que encontrou na cidade de Beit Hanun, convertida em ruínas, superou tudo que havia imaginado.
Quando Israel anunciou, depois de dias de bombardeios, o início de sua ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, Jairy Hassan al Masri, sua esposa e seus três filhos abandonaram imediatamente sua bela casinha branca, com um quintal com gramado, palmeira e limoeiro.
De volta ao local pela primeira vez nesta terça-feira (5) nas primeiras horas da trégua de três dias entre Israel e o Hamas, descobriu a magnitude dos danos materiais. “Esta é a minha cidade?”, questionou-se ao olhar uma fileira de casas destruídas.
A estrutura de sua casa continua em pé, mas as paredes estão cheias de buracos. O quarto de seu filho Hassan, de 11 anos, está coberto de cartuchos. Na sala, há um morteiro abandonado e, em outro cômodo, um lança-granadas.
Em uma das paredes está desenhado um mapa do bairro, com inscrições em hebreu que sugerem que os soldados israelenses usaram a casa como base.
Jairy decidiu voltar sozinho para poupar a família da terrível experiência que ele antecipava. “O que vou dizer a meus filhos e minha mulher? Não quero que vejam isso! Eles vão enlouquecer. Como vou explicar isso?”, suspira enquanto avança pelos escombros. “O que fizemos a Netanyahu?”, pergunta, referindo-se ao primeiro-ministro israelense.
Como Jairy, milhares de habitantes de Gazax voltaram para checar se sua casa continua de pé. Zakia Shaban Baker Masri, viúva de 74 anos, caminha pelo que restou da residência familiar.
“Quando entrei, comecei a chorar. A poupança de toda uma vida estava aqui, em minha casa. Mas agora não resta nada”, lamenta.
Destruir para reconstruir
A desolação é a mesma na região norte do território palestino. Mohamed, de 22 anos, voltou para ver o apartamento da família totalmente queimado pelos combates. “Está tudo destruído. Os prédios já não são habitáveis. Teremos de derrubar e reconstruir tudo. Até lá, não temos onde morar”, afirma.
“Milhares de moradias foram totalmente destruídas, fora as outras milhares parcialmente destruídas”, afirma Mufid Hasayneh, ministro palestino de Obras Públicas. O governo espera agora o fim definitivo dos combates para iniciar, com a ajuda de fundos estrangeiros, a trabalhosa reconstrução de Gaza.
O ministério palestino de Finanças calcula que as necessidades mais urgentes da reconstruçãorequerem entre US$ 4 e 6 bilhões (entre R$ 9 milhões e R$ 13,6 milhões).
Os habitantes do território por ora não têm perspectiva alguma. Só querem o fim do que é a ofensiva israelense. Alguns mais corajosos decidiram dormir entre os escombros, como Jadar al Masri.
Ele colocou um colchonete sobre um pedaço de parede. “É perigoso, mas tudo bem. Vou ficar aqui durante a trégua. Se a guerra recomeçar, volto para um refúgio”, explica. “Tudo isso é um teste de Deus, mas que ninguém se iluda: nós nos levantaremos de novo”, promete.
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