Este ano, recuo deve ser de 3%; no ano que vem, de 1%
NOVA YORK – A agência de classificação de risco Moody’s reviu para baixo sua projeção para o desempenho da economia brasileira este ano e no próximo. Relatório divulgado nesta terça-feira indica que o PIB encolherá 3% em 2015 e 1% em 2016.
De acordo com a agência, a deterioração da condição fiscal, as turbulências políticas e as investigações de corrupção da Operação Lava-Jato vão continuar a afetar negativamente a qualidade na oferta crédito tanto no setor público quanto privado em 2016. Esses fatores têm levado ao aumento do desemprego, à redução do consumo e dos salários reais, e, frente a esse cenário, a Moody’s reviu as previsões para a atividade econômica do país.
Para este ano, a projeção passou de queda de 1,8%, anunciada em julho, para um recuo de 3%. Essa perspectiva é pior do que a baixa de 2,85% prevista por economistas consultados para a última edição do relatório Focus, do Banco Central, divulgada na segunda-feira. Já para o ano que vem, em vez de expansão de 1%, a agência agora espera uma retração de 1% — mesma perspectiva do Focus.
“Não vemos como a posição fiscal do Brasil pode melhorar no curto prazo devido à falta de consenso político, que tem mantido a atual administração longe de entregar superávits primários suficientes para fazer frente às crescentes taxas de dívida do governo”, afirmou em relatório Mauro Leos, vice-presidente da Moody’s e analista sênior de crédito. “Não acreditamos que o Brasil possa alcançar um crescimento real de 2% e superávits primários de pelo menos 2% do PIB até 2017-2018, necessários para estabilizar a relação dívida/PIB.”
Em 11 de agosto, a Moody’s rebaixou a nota do Brasil de “Baa2” para “Baa3”, o que mantém o país no grau de investimento, espécie de selo de bom pagador, mas apenas uma nota acima do nível especulativo. A perspectiva foi alterada de negativa para estável, o que indica que não haverá novas revisões a curto prazo. Em 9 de setembro, foi a vez da Standard & Poor’s (S&P), que cortou classificação do país de “BBB-” para “BB+”, suspendendo o chamado grau de investimento. O cenário econômico levou a entidade a colocar o rating em perspectiva negativa, o que aponta a possibilidade de novo rebaixamento nos próximos meses.
De acordo com relatório da Moody’s, com a diminuição da demanda, o aumento dos custos de financiamento e o crescimento da inadimplência, além da redução do investimento, os emissores de dívida serão pressionados na maioria dos setores.
Embora a maior parte dos tomadores de empréstimo não financeiro que têm grau de investimento no Brasil tenham taxas adequadas de liquidez pelo menos até meados de 2016, os acessos a mercados internacionais ficarão mais caros para os que não têm grau de investimento, afetando planos de expansão e de melhoria do capital, de acordo com a Moody’s.
Além disso, destaca a agência de classificação de risco, preços baixos do petróleo, dos metais e de produtos agrícolas vão afetar as performances de Petrobras, Vale e outros produtores de commodities. A recessão brasileira e a baixa confiança do consumidor diminuirão à demanda por telecomunicações, construção de moradias e de empresas aéreas. Já a desvalorização do real vai favorecer os setores exportadores, como carnes e papéis. A Lava-Jato, destaca a agência, manterá o abalo no setor de construção e mesmo empresas não ligadas à Petrobras vão continuar a ter dificuldades para levantar fundos no Brasil e no exterior.
Fonte: oglobo
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