Imunizantes contra a Covid-19 seriam enviados a indígenas; governo diz que entregou mais que o previsto
O Ministério da Saúde está questionando o governo de Rondônia sobre o desvio de 8.805 doses de vacina contra Covid-19 enviadas ao estado e que deveriam ter sido disponibilizadas aos indígenas.
Via ofício enviado neste sábado (23), o secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Robson Silva, cobra explicações sobre por que a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) repassou apenas 2.315 das 11.120 doses de vacinas previstas para o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Porto Velho.
No ofício, Silva afirma que o não repasse contraria o Plano Nacional de Imunização e uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que preveem a inclusão das populações indígenas como grupos prioritários para vacinação.
Ao final do documento, a Sesai “requer imediatamente a plena disponibilização das doses pertencentes ao Dsei de Porto Velho para imunização da população indígena que está sob a responsabilidade do Dsei”.
De acordo com a planilha do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, há 6.113 indígenas acima de 17 anos morando em terras indígenas de Rondônia — o número inclui parte do sul do Amazonas, também atendido pelo Dsei de Porto Velho. O questionamento do Ministério da Saúde leva em conta as duas doses necessárias para a imunização de uma pessoa.
A falta de vacinas causou frustração e revolta. Na Terra Indígena Igarapé Lourdes, do povo arara karo, só foram vacinadas pessoas acima de 45 anos, e profissionais de saúde ficaram de fora, relatou a liderança Shirlei Arara, 33.
“Não tem data prevista nem informaram o motivo”, diz a liderança, não vacinada. “É um desespero muito grande, há muita tristeza e decepção.”
Segundo ela, houve uma morte confirmada e outra suspeita por Covid-19, em uma população de 800 pessoas. Ela afirmou que há um crescimento recente de casos, incluindo três crianças.
OUTRO LADO
O estado de Rondônia é governado pelo coronel da PM Marcos Rocha (PSL), um aliado fiel de Bolsonaro.
Procurado pela Folha, o diretor geral em exercício da Agevisa, Edilson Silva, afirmou que a distribuição das vacinas atende apenas à primeira dose do imunizante e que seguiu o previsto pelo Ministério da Saúde. Segundo ele, a distribuição da segunda dose está assegurada e houve uma falha de comunicação entre os governos federal e estadual.
De acordo com a Agevisa, o Dsei recebeu 3.060 doses e receberá outras 3.060 doses, somando 6.120 doses. “Estamos entregando sete doses a mais”, afirma Silva, ao comparar as doses com a população de 6.113 indígenas.
Tudo indica que a conta do governo de Rondônia considerou uma dose por indígena, e não duas. A reportagem voltou a ligar para Silva, mas não obteve nova resposta.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO
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